quarta-feira, 22 de abril de 2009

Um grito pela igualdade


Por: Vicente Paulo da Silva*


A defesa das cotas para negros nas escolas públicas de ensino superior

A jornada pela inclusão social do povo negro existe para reparar um crime contra a humanidade. A escravidão e seus perversos efeitos. Os movimentos sociais e em especial, o movimento negro, sempre à frente, dão a tônica dessas lutas. Viram como é bela a luta contra o preconceito racial promovida por pessoas brancas e negras juntas? Este é um novo debate que já dura muito além dos 120 anos.

Alguém duvida que o nosso povo seja a maior vítima em todos os sentidos? O nosso povo também foi grande construtor do nosso País. Alguém discorda? O presidente Lula sancionou a lei de introdução da história e cultura africana, fortaleceu as relações com a África, criou a Sepir (Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial) e decidiu colocar pessoas negras no poder judiciário e no poder executivo. Também criou o Prouni (Programa Universidade para Todos). Tudo isso foi por acaso? Alguém adivinha por que o Estatuto da Igualdade Racial (negros, indígenas, ciganos e outras etnias) está sofrendo obstruções há mais de dez dez anos no Congresso Nacional? Por que vários parlamentares, eleitos por todas as etnias, vacilam no momento da defesa do nosso povo?

A juventude pobre e negra se mata cotidianamente no desemprego e na droga. Desse jeito, estes jovens passarão para a universidade? Por que, hoje em dia, os jovens negros nas universidades não conseguem superar os 2%? E a Constituição Federal não reza que todos nós somos iguais e que temos os mesmos direitos? Ora, se o Estado, porto seguro de todo o povo fez justiça com o Estatuto da Criança e do Adolescente, com o Estatuto do Idoso, com a Lei Maria da Penha e com a Convenção da ONU para as pessoas com deficiências, por que não com o nosso povo? Será que não existem preconceitos nem discriminação? Existe contexto melhor para que o Estado, que decretou, por centenas de anos, cota zero para o nosso povo em tudo, apresente o projeto de cotas sociais com a proporcionalidade entre brancos, negros e indígenas? Não são eles os excluídos? Se o nosso maior educador, Paulo Freire, nos diz que o maior instrumento para a transformação social é a educação para todos, por que não entendermos este ser um projeto transformador? Viram que alegria quando os alunos que já estão nos sistemas de cotas tiveram o resultado do aprendizado igual ou melhor do que os que vêm da escola paga? Já imaginou vermos as universidades abarrotadas de jovens negros e brancos estudando juntos e promovendo a paz? Viram o que começou a acontecer no ensino básico, com a valorização do piso salarial dos educadores, com apoio aos alunos e as modificações nas formas de ensino para que os pobres, negros e indígenas não sejam mais aprovados automaticamente? Sendo assim, no futuro, quem precisará de cotas?

Por que, grande parte dos donos da mídia reage contra tão exageradamente? Por que é que quando eu falo da tribuna do parlamento sobre a questão racial logo me chegam mensagens carregadas de ódio, diferentemente de outros assuntos que eu abordo, mesmo quando eu falo dos direitos dos trabalhadores? Diante da exclusão de milhões de jovens pobres e negros, o que é inconstitucional? Por que alguns, que se dizem contra as cotas, mesmo sendo do nosso próprio povo, vendem até a alma por um raro aparecimento na mídia e depois são colocados na sarjeta do esquecimento como já aconteceu na história? Será que não percebem que estão sendo usados por interesse contrários à nossa causa? Não é fácil emitir opinião a partir de um gabinete luxuoso? De uma cátedra elitista? Ou mesmo em altos debates madrugada afora, à base de uísques? Não devemos nos aprofundar nesta dura realidade? Não devemos ser generosos? Não queremos uma sociedade de irmãos? Não queremos sentar à mesma mesa? Não queremos juntos decidir os destinos do nosso amado povo, do nosso amado País? Por que a mobilização do povo sempre foi transformadora? Esta causa não é nossa? Por que, os grandes líderes como Martin Luther King e Gandhi sempre questionavam os que silenciavam diante das injustiças? E vocês irmãos brancos e irmãos negros, continuarão em silêncio?

Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, é deputado federal (PT-SP)

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