domingo, 26 de abril de 2009

JORNALISMO DE ESPETÁCULO

Publicada em:26/04/2009


Rio - O Brasil merecia coisa melhor do que a “farra” das passagens aéreas dos parlamentares. Convenhamos, a mídia poderia se interessar também por pautas checando como se comportam e votam os representantes do povo. E mais: relacionar os votos com os apoiadores de campanha. Aí sim, o povo brasileiro teria maiores elementos para analisar quem é quem no Legislativo.

Exemplo concreto, o deputado do PMDB fluminense, Marcelo Itagiba, que, segundo o Deputado Chico Alencar, recebeu apoio de um sócio do banqueiro Daniel Dantas. Pergunta-se: qual o grau de imparcialidade deste senhor para presidir ou relatar Comissões Parlamentares de Inquérito envolvendo o sócio de um de seus financiadores? E qual a moral de parlamentares que receberam grana em suas campanhas do capital financeiro ou de empresas do setor imobiliário na hora de votarem questões pertinentes a esses setores? De que forma tais fatos influirão no voto de matérias relevantes para os cidadãos brasileiros?

Estas questões são bem mais graves do que a “farra” das passagens de aviões. Não, entendam bem os mais açodados, que não se deva condenar os parlamentares que cometeram irregularidades, mas porque deixar em segundo plano os Itagibas da vida e outros? Que o Fernando Gabeira, hoje um arauto da moralidade, admita que errou ao ceder passagens à filha surfista, tudo bem. Ele está dando uma satisfação aos eleitores, alguns deles netos ou bisnetos dos udenistas (adeptos de um partido que pregava a moralidade e conspirava na porta dos quartéis antes de 64 e deu no que deu). Mas porque não informar como Gabeira votou nos últimos anos na Câmara? E Rodrigo Maia, líder do Demo, além das passagens por que não checar que tipo de projetos ele tem defendido e votado?

Por que também não informar quem são os parlamentares proprietários de veículos de comunicação e como procedem na hora de debater ou votar questões pertinentes à renovação dos canais de televisão e rádio? Ao não fazer a cobrança e apenas se deter na “farra”, a mídia não está fazendo um serviço completo de utilidade pública. Demonstra que a prioridade é o jornalismo de espetáculo.

Outra questão que continua a ocupar amplos espaços midiáticos é o pega ocorrido no Supremo Tribunal Federal entre os Ministros Gilmar Mendes e Joaquim Barbosa. Mendes já recebeu o apoio da direita parlamentar representada pelo Partido Democratas (DEM, também abreviado de DEMO), o que não chega a ser uma surpresa para quem conhece o currículo de Mendes.

Joaquim Barbosa ao desabafar na sessão do STF interpretou o pensamento de milhões de brasileiros que há tempos estão contrariados com a arrogância de Mendes, hoje um verdadeiro quadro da direita. Circulando pelo centro do Rio, Barbosa foi aplaudido e até atendeu a solicitação de pedidos de autógrafo.

Como Joaquim Barbosa colocou uma questão grave em relação ao presidente do STF ao afirmar textualmente que “Vossa Excelência, quando se dirige a mim, não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar, o senhor me respeite”, não seria o caso de se investigar, senhores editores da mídia impressa e eletrônica, o motivo da fala do Ministro? Afinal, se eles existem quem seriam os “capangas” de Mendes?

Não é de hoje que circulam na Internet 27 perguntas não totalmente respondidas e que poderiam esclarecer muitas dúvidas que questionam a honorabilidade de Gilmar Mendes. Por que nenhum repórter perguntou a Mendes qual a natureza da participação dele em campanhas eleitorais do irmão para a prefeitura de Diamantino em 2000 e 2004 , quando ocupava o cargo de advogado geral da União e posteriormente foi nomeado por Fernando Henrique Cardoso Ministro do STF?

Não seria o caso de perguntar também a Mendes se tem alguma idéia do porquê de mais de 30 ações impetradas contra o irmão, de nome Chico Mendes (não confundir com o seringaleiro assassinado), ao longo dos anos jamais terem chegado sequer à primeira instância?

Não seria o caso de perguntar também se Mendes conhece alguma Suprema Corte do mundo que haja concedido à mesma pessoa dois habeas corpus em menos de 48 horas, como aconteceu com Daniel Dantas?Ao não fazer a cobrança e apenas se deter na “farra”, a mídia não está fazendo um serviço completo de utilidade pública. Demonstra que a prioridade é o jornalismo de espetáculo.

E, finalmente, o presidente do STF poderia dizer se é correta a informação publicada na pagina 40 da Revista Época de 22 de abril de 2002, de que a chefia da então Advocacia Geral da União, ou seja, se ele próprio pagou R$ 32.400,00 ao Instituto Brasiliense de Direito Público - do qual é um dos proprietários - para que seus subordinados lá fizessem cursos? E se considera ético tal procedimento?

Por enquanto é só, embora faltem muitas perguntas a serem formuladas a Gilmar Mendes. Mas que a Justiça brasileira merecia coisa melhor, disso não há dúvida.
Mário Augusto Jakobskind, Direto da Redação.

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