domingo, 19 de abril de 2009

Lula quer palanque único na disputa presidencial de 2010


Daniel Pereira, Correio web

19/04/2009

Depois de admitir em público que trabalha pela candidatura da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, à Presidência da República, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reforçará a ofensiva destinada a convencer os partidos aliados a apoiarem a “mãe do PAC” em 2010. Lula insiste na tese de que o ideal para o governo é ter só um competidor no páreo. Por isso, fará novos apelos para que PSB e PDT desistam de lançar nomes na disputa. A prioridade é convencer os socialistas a arquivar a ideia de concorrer com o deputado federal Ciro Gomes (PSB-CE), que figura em segundo lugar nas pesquisas de intenção de voto.

Otimista por natureza, Lula alega que a unificação da base em torno de Dilma abrirá espaço para a vitória da ministra no primeiro turno. Se houver candidatura única da situação, pondera o presidente, o eleitorado terá apenas duas opções fortes para escolher — “a gerente da máquina” ou um tucano, seja ele José Serra ou Aécio Neves. Assim, a eleição se tornará uma espécie de plebiscito no qual seria escolhido o melhor governo ou o melhor projeto dos últimos anos. Embalado pelo alto nível de aprovação popular, o presidente aposta que a população preferirá a gestão petista, personificada por ele, à tucana, comandada pelo antecessor Fernando Henrique Cardoso.

“Nos últimos seis meses, a Dilma avançou muito. Antes, ela não era a candidata natural nem do PT. Agora, pode representar os partidos governistas”, diz um ministro. Ele ressalta que a chefe da Casa Civil ainda tem de dar passos a fim de se consolidar na corrida sucessória. Entre eles, crescer nas pesquisas e estreitar laços com as legendas aliadas.

Pauta delicada


Não haverá uma pressão ostensiva sobre o PSB. O presidente manterá o estilo de mandar recados nos bastidores em favor de Dilma e, em público, defender o direito de todos os partidos lançarem candidatos. A estratégia não é à toa. Lula reconhece em Ciro Gomes um de seus mais fiéis aliados no Congresso. É grato ao deputado pelo apoio recebido, por exemplo, no auge do escândalo do mensalão. Pelo menos por enquanto, os socialistas não abrem mão de disputar a sucessão. Pelo contrário, correm contra o tempo para divulgar suas propostas pelo país. O porta-voz, claro, é Ciro.

“O deputado é um dos nossos principais filiados e tem grande possibilidade de ser candidato, como já foi”, diz Eduardo Campos, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB. Campos não descarta a possibilidade de uma negociação. Ressalta, no entanto, que não é hora de falar em sucessão. “A prioridade tem de ser o enfrentamento da crise.” O PSB trabalha com o tempo. Quer adiar ao máximo a escolha do representante governista. Acredita que, ao longo dos meses, Ciro se fortalecerá por meio das palestras feitas Brasil afora. Ganhará musculatura para se apresentar como uma alternativa à “pasteurização” entre PT e PSDB.

Para os socialistas, Lula agiria para tornar Dilma um fato consumado por ter conhecimento dessa possibilidade. Ou seja, por temer que, com o deputado no páreo, a ministra nem chegue ao segundo turno, no qual rivalizariam Ciro e um tucano. “O propósito do PSB ao lançar candidato não é só garantir a realização do segundo turno. Queremos formar uma aliança que permita vencer a eleição”, declara o deputado Beto Albuquerque (RS), vice-líder do governo na Câmara e segundo vice-presidente do partido. Segundo pesquisa Datafolha divulgada em março, o governador paulista José Serra tem 41% das intenções de voto, contra 16% de Ciro, 11% de Dilma e 11% de Heloísa Helena (Psol).

Ciro lidera com 25% quando Aécio representa o PSDB. O governador mineiro aparece com 17%, empatado com Heloísa Helena. Dilma vem a seguir com 12%.

Trabalhistas


Além do PSB, o PDT cogita uma candidatura própria no ano que vem. É o que garante o presidente em exercício da legenda, deputado Vieira da Cunha (RS). Derrotado em 2006, o senador Cristovam Buarque (DF) já manifestou a intenção de concorrer de novo. Ciente disso, Lula pediu ao ministro do Trabalho e presidente licenciado do PDT, Carlos Lupi, que demova o correligionário de tal plano. A missão ainda não foi cumprida.

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