terça-feira, 22 de setembro de 2009

A escolha de Dilma: patriotismo sim


22 de Setembro de 2009

A candidata de Lula em 2010, Dilma Rousseff, ainda não admite que vai disputar a Presidência, mas está com o discurso na ponta da língua. Entrevistada pela Folha de S.Paulo, neste domingo (20), respondeu na lata ao entrevistador, Valdo Cruz.

"As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?"

A Folha, em sua notória torcida pelo presidenciável tucano José Serra, estampou sua má-vontade para com a entrevistada na manchete Ideia do Estado mínimo é 'tese falida', diz Dilma. No dia seguinte, escalou o colunista Fernando Rodrigues para proclamar que "neste início de século 21" vivemos "a fase de pós-patriotismo mundial" e conclui que isso é "a vanguarda do atraso".

Há jornalistas para tudo nesse mundo. Rodrigues chega a acusar "Dilma e o PT" de "redescobrirem" o "ufanismo da ditadura militar".

Qualquer outro com um mínimo de auto-estima pensaria duas vezes antes de chegar a esse ponto. Relutaria em achacar a militante antiditatorial que penou três anos de cárcere e tortura. E mais ainda no jornal que emprestava veículos para a ação tenebrosa da Operação Bandeirantes, e ainda este ano saiu-se com a célebre versão da "ditabranda", da qual se penitenciou após três semanas de indignada reação de seus leitores e da opinião pública em geral.

Mas não se trata apenas de sabujismo. A coluna, como a edição da entrevista, não entenderam nada do que ocorre neste início de século. Intoxicados pelo pensamento único de duas décadas atrás, não enxergam o atual mundo em transição, onde precisamente a questão nacional ganha uma proeminência nova. Apostam pesado na refutação do "patriotismo e estadolatria".

Já Dilma chegou a reclamar do entrevistador, que "daqui para a frente, você não me pega em mais nenhuma, tá? Porque eu não vou entrar na sua, especulando sobre candidatura". Mas, "bem-humorada", segundo o jornal, parece ter até apreciado as outras provocações, que lhe permitiram expressar as suas convicões nacionalistas.

Tanto que voltou ao tema, voluntariamente e por mais de uma vez: "Eu acho que essa autoestima nós conseguimos passar para a população. Hoje nós não temos mais aquilo que o Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-latas", avaliou.

Quem acompanha a evolução do discurso do governo, a começar pelo presidente, constata que ele fez uma escolha, na direção oposta do jornal do Grupo Frias: nacionalismo sim, patriotismo sim, autoestima sim, sabujismo não, complexo de colonizado não.

Dentro de 13 meses se saberá qual desses dois "eixos temáticos" opostos "entende a psique coletiva e dialoga na língua do eleitor", como teoriza Rodrigues. É sabido que eleição não se ganha de véspera. Mas se o discurso enfim encontrado pela oposição seguir essa linha da Folha, ela estará em maus lençóis e vai perder.


Fonte:Editorial do Portal Vermelho

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