21 de Setembro de 2009
Regina Abrahão *
Quando entendemos que não existe proteção ambiental no capitalismo, entendemos que por mais bem intencionada que qualquer indústria papeleira possa nos parecer, ela sempre precisará de cloro no processo de branqueamento. E que este cloro sempre será residual, e que o lucro sempre estará em primeiro lugar, portanto a papeleira bem intencionada jamais fará uma campanha para reduzir o consumo de papel.
Explique isto para uma criança, e ela entenderá. Marina não entendeu. Alguns verdes não entendem. Explique isto para a mídia, e ela criará um factóide, inocentará a papeleira e culpará o governo. Quiçá este novo factóide não envolva também Lula com a extinção do pau-brasil, a madeira aquela que os portugueses usavam para fazer tinta vermelha.
Certas épocas mais parecem com as tardes de férias de verão: modorrentas, calmas, abafadas. A vida parece andar em câmera lenta mesmo quando tudo anda na velocidade normal. Cada vez mais raros dias como estes, e cada vez mais comuns os fast-days. Mas 2009, como ano pré-eleitoral está cada vez mais frenético. No sul, traz de quebra a possibilidade concreta do empechemant da governadora paulista-gaúcha e toda a movimentação que isto representa. No planalto central, o frenesi que precede a sucessão presidencial faz com que a cada minuto surjam novos fatos e deles a possibilidade da criação de factóides destinados a comprometer o projeto que deu certo, a despeito da mídia, da crise, do capital, dos que torciam pelo fracasso do operário de nove dedos sem diploma.
A direita no Brasil nunca pegou leve, como ademais no resto do mundo. Este povo não brinca em serviço. E nem poderia. Sua influência, seus tentáculos, seu preconceito tem objetivo definido. Eles sabem, como ninguém, explorar fraquezas, vaidades, semear discórdias. Não à toa, a direita se mantém e se renova.
Poderíamos dizer, de forma simplista, que ninguém está imune ao poder de convencimento, de cooptação e de coerção do capital. Nem de seus encantos, que o capital sabe bem os produzir. Como definir poder? Depende de para quem, e de, para o quê, e de como será usado.
Depende dos melindres de quem, ao ver-se contrariado, imagina-se subtraído do poder. E por aqui começo então a dialogar com os muitos comentários que me foram feitos sobre a coluna passada, "Marina e os Tucanos". Porque o rio tem dois lados, e de um deles, Marina está. Para mim, a opção feita deixa claro qual. A maioria dos leitores concordou, alguns apresentaram dúvidas e outros discordaram.
Marina teve o poder enquanto ministra? Não como gostaria, e por isto saiu. Do governo primeiro, depois do Partido que fundou. Não comentarei assuntos internos, de possíveis atritos ou disputas da ex-ministra em seu ex-partido, mas penso que outras opções partidárias, isto ela tinha, muitas. Mas reafirmo a idéia que o ingresso de Marina no PV me passa: Opção por uma candidatura de oposição ao governo Lula. Ela mesma começa a dar mostras concretas de sua mudança. Ao jornal El Clarín, elogia de forma quase explícita FHC, dando a ele os créditos pela atual estabilidade econômica. Penso haver concordância que esta postura, de elogios ao tucanato por parte da ex-ministra, até pouco tempo atrás, seria impensável.
Poderíamos dizer, de forma apressada, que Marina não viu a questão ambiental ser valorizada suficientemente no governo Lula. Falando bem a verdade, a maior parte dos ambientalistas tem esta queixa de seus Partidos. Mas como foi o governo de FHC na área ambiental? Marina terá esquecido o desmonte da legislação ambiental, o desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica, a falta de investimento em saneamento básico, o absurdo aumento de atividades poluentes da Vale após sua privatização?
Não será de estranhar se agora descobrirmos que todos os problemas ambientais iniciaram no governo Lula. Mas o Partido Verde, o que fez até agora em termos de prevenção e recuperação do ambiente? Quais são as leis feitas por seus parlamentares? Além do discurso, o que realmente o PV propõe de concreto para os problemas brasileiros? A maior cidade do país diminuiu seus índices de poluição com a participação do verde Eduardo Jorge na Secretaria do Meio Ambiente? Os paulistanos que o digam: a mim, parece cada vez mais poluída. O que diminuiu, parece, foi o número de moradores de rua embaixo dos viadutos. Que foram cimentados, claro.
Não entendi porque relacionaram minha crítica à Marina com autoritarismo. Ela pode sair e eu não posso criticar? Não considero esta crítica muito democrática... Outros, logo lembraram de Sarney. Bueno, quem lembrou de Sarney não especificou se foi de Sarney pai ou Sarney filho. Sim, porque o Zequinha, filho de José, foi por bastante tempo presidente nacional do PV. E se a ex-ministra se dizia incomodada com o pai, bom que se dá bem com o filho. E aqui não se trata de uma aliança eleitoral, pontual, onde não se abre mão do programa, dos pontos ideológicos, mas se concorda em pontos comuns, objetivando algo maior e mais amplo. Nada de garantias de governabilidade, como no caso do governo Lula. A ida de Marina para o PV, repito, cumpre seu papel. Tem função.
São estas as virtudes da democracia. Como foi dito em um dos comentários, morreram camaradas para garantir que hoje pudéssemos ter um espaço como o Vermelho, onde várias pessoas possam expressar suas opiniões. Comunistas, anarquistas, muita gente morreu, morre e ainda vai morrer. Gente como Chico Mendes morreu, pelas bandas do Acre, justamente por causa da política neoliberal nojenta, suja e cruel, que não respeita homens, mulheres crianças, natureza, animais, nada. Aquela política DEM-PSDB com quem a ex-ministra subirá no palanque em 2010 para cumprir sua tarefa de tentar não deixar que se reeleja o projeto popular.
* Funcionária pública, direigente municipal do PCdoB de Porto Alegre, estudante de ciências sociais da UFRGS. Dirigente da Semapi - RS.Vermelho Org.
Certas épocas mais parecem com as tardes de férias de verão: modorrentas, calmas, abafadas. A vida parece andar em câmera lenta mesmo quando tudo anda na velocidade normal. Cada vez mais raros dias como estes, e cada vez mais comuns os fast-days. Mas 2009, como ano pré-eleitoral está cada vez mais frenético. No sul, traz de quebra a possibilidade concreta do empechemant da governadora paulista-gaúcha e toda a movimentação que isto representa. No planalto central, o frenesi que precede a sucessão presidencial faz com que a cada minuto surjam novos fatos e deles a possibilidade da criação de factóides destinados a comprometer o projeto que deu certo, a despeito da mídia, da crise, do capital, dos que torciam pelo fracasso do operário de nove dedos sem diploma.
A direita no Brasil nunca pegou leve, como ademais no resto do mundo. Este povo não brinca em serviço. E nem poderia. Sua influência, seus tentáculos, seu preconceito tem objetivo definido. Eles sabem, como ninguém, explorar fraquezas, vaidades, semear discórdias. Não à toa, a direita se mantém e se renova.
Poderíamos dizer, de forma simplista, que ninguém está imune ao poder de convencimento, de cooptação e de coerção do capital. Nem de seus encantos, que o capital sabe bem os produzir. Como definir poder? Depende de para quem, e de, para o quê, e de como será usado.
Depende dos melindres de quem, ao ver-se contrariado, imagina-se subtraído do poder. E por aqui começo então a dialogar com os muitos comentários que me foram feitos sobre a coluna passada, "Marina e os Tucanos". Porque o rio tem dois lados, e de um deles, Marina está. Para mim, a opção feita deixa claro qual. A maioria dos leitores concordou, alguns apresentaram dúvidas e outros discordaram.
Marina teve o poder enquanto ministra? Não como gostaria, e por isto saiu. Do governo primeiro, depois do Partido que fundou. Não comentarei assuntos internos, de possíveis atritos ou disputas da ex-ministra em seu ex-partido, mas penso que outras opções partidárias, isto ela tinha, muitas. Mas reafirmo a idéia que o ingresso de Marina no PV me passa: Opção por uma candidatura de oposição ao governo Lula. Ela mesma começa a dar mostras concretas de sua mudança. Ao jornal El Clarín, elogia de forma quase explícita FHC, dando a ele os créditos pela atual estabilidade econômica. Penso haver concordância que esta postura, de elogios ao tucanato por parte da ex-ministra, até pouco tempo atrás, seria impensável.
Poderíamos dizer, de forma apressada, que Marina não viu a questão ambiental ser valorizada suficientemente no governo Lula. Falando bem a verdade, a maior parte dos ambientalistas tem esta queixa de seus Partidos. Mas como foi o governo de FHC na área ambiental? Marina terá esquecido o desmonte da legislação ambiental, o desmatamento da Amazônia, da Mata Atlântica, a falta de investimento em saneamento básico, o absurdo aumento de atividades poluentes da Vale após sua privatização?
Não será de estranhar se agora descobrirmos que todos os problemas ambientais iniciaram no governo Lula. Mas o Partido Verde, o que fez até agora em termos de prevenção e recuperação do ambiente? Quais são as leis feitas por seus parlamentares? Além do discurso, o que realmente o PV propõe de concreto para os problemas brasileiros? A maior cidade do país diminuiu seus índices de poluição com a participação do verde Eduardo Jorge na Secretaria do Meio Ambiente? Os paulistanos que o digam: a mim, parece cada vez mais poluída. O que diminuiu, parece, foi o número de moradores de rua embaixo dos viadutos. Que foram cimentados, claro.
Não entendi porque relacionaram minha crítica à Marina com autoritarismo. Ela pode sair e eu não posso criticar? Não considero esta crítica muito democrática... Outros, logo lembraram de Sarney. Bueno, quem lembrou de Sarney não especificou se foi de Sarney pai ou Sarney filho. Sim, porque o Zequinha, filho de José, foi por bastante tempo presidente nacional do PV. E se a ex-ministra se dizia incomodada com o pai, bom que se dá bem com o filho. E aqui não se trata de uma aliança eleitoral, pontual, onde não se abre mão do programa, dos pontos ideológicos, mas se concorda em pontos comuns, objetivando algo maior e mais amplo. Nada de garantias de governabilidade, como no caso do governo Lula. A ida de Marina para o PV, repito, cumpre seu papel. Tem função.
São estas as virtudes da democracia. Como foi dito em um dos comentários, morreram camaradas para garantir que hoje pudéssemos ter um espaço como o Vermelho, onde várias pessoas possam expressar suas opiniões. Comunistas, anarquistas, muita gente morreu, morre e ainda vai morrer. Gente como Chico Mendes morreu, pelas bandas do Acre, justamente por causa da política neoliberal nojenta, suja e cruel, que não respeita homens, mulheres crianças, natureza, animais, nada. Aquela política DEM-PSDB com quem a ex-ministra subirá no palanque em 2010 para cumprir sua tarefa de tentar não deixar que se reeleja o projeto popular.
* Funcionária pública, direigente municipal do PCdoB de Porto Alegre, estudante de ciências sociais da UFRGS. Dirigente da Semapi - RS.Vermelho Org.
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