O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira (7) em discurso no Palácio da Alvorada, em Brasília, que a parceria estratégica com a França na área militar tem "um valor extraordinário" e disse que fazer investimento na área de defesa é "cuidar do nosso território e da nossa soberania". Ele ainda citou a descoberta do pré-sal como elemento que justifica a parceira militar.
O governo brasileiro confirmou hoje a intenção de comprar 36 aviões de caça para a Força Aérea Brasileira, um negócio estimado em US$ 7 bilhões. O caça francês GIE Rafale, da empresa francesa Dassault, competia em uma acirrada licitação com o Gripen da sueca Saab e o F/A18 Super Hornet da americana Boeing.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, não há um contrato assinado para o Rafale, mas "uma decisão de iniciar as negociações com um fornecedor, o que não há com os outros dois". Ele disse ainda que as compras são relevantes principalmente porque há transferência de tecnologia para o Brasil. Amorim também afirmou que o Brasil pode passar a vender caças para outros países da América Latina, caso passe a fabricá-los, o que deve acontecer.
Segundo o ministro, é necessário equipar as Forças Armadas, porque "proteger o pré-sal é importante".
Maior força naval da América Latina
O acordo de cooperação militar entre Brasil e França dá início a um ambicioso programa de reaparelhamento das forças armadas brasileiras e permitirão que o Brasil tenha, até 2020, a maior e mais poderosa força naval da América Latina, equipada com submarinos, fragatas, navios leves, corvetas - um volume estimado em 35 unidades - além de mísseis de longo alcance, torpedos, aviões e helicópteros de tecnologia avançada. A expectativa é de que em dez anos o primeiro submarino de propulsão nuclear, com 100 metros e 6 mil toneladas, já esteja pronto, e também definido o cronograma de uma segunda unidade.
O pacote envolve a compra e a produção de quatro submarinos convencionais, da classe Scorpéne, de 1.800 toneladas, mais a parte não nuclear de um modelo de propulsão atômica. As operações estão associadas à construção de um novo estaleiro e uma base operacional. Essa fase vai custar cerca de R$ 20 bilhões, com desembolso até 2024.
Do ponto de vista estratégico, haverá uma 2ª Esquadra, na Foz do Amazonas. A 1ª EsQ fica no Rio. Foi criada na administração do presidente Floriano Peixoto há cerca de um século.
"A Marinha revitalizada será um grupamento articulado e orgânico, destinado a garantir a negação do uso do mar a presenças hostis, ilícitas, e a promover efeito dissuasivo. Não estamos interessados em projetar poder", diz o ministro da Defesa, Nelson Jobim. O novo desenho da Força, com mais bases e batalhões ribeirinhos, foi anunciado pelo ministro semana passada no Congresso.
Lula: aliança estratégica
O presidente brasileiro ressaltou que a parceria com a França não é simplesmente comercial. "A França não quer só vender para o Brasil e o Brasil para a França. Queremos pensar juntos, criar juntos, construir juntos e, se for possível, vender juntos. Por isso, essa parceria, sobretudo na área de defesa, é muito importante", falou.
"Deve sempre passar pela nossa cabeça a ideia de que o petróleo já foi motivo de muita guerra e muito conflito e nós não queremos isso. Estamos trabalhando com a possibilidade de, nos próximos 15, 20 anos, o Brasil se transformar uma grande potência mundial", declarou Lula durante a coletiva.
Lula disse ainda que o Brasil é um país que "prima pela paz", mas lembrou que tem uma grande área na Amazônia a ser preservada e uma nova riqueza a ser defendida: o pré-sal.
O presidente Nicolas Sarkozy, que acompanhou pela manhã o desfile de 7 de Setembro como convidado de honra da Presidência da República, ratificou a ideia de trabalho conjunto: "Queremos desenvolver uma grande indústria aeronáutica, desenvolver aviões juntos".
Para o presidente francês, "a segurança do Brasil é também a segurança mundial e da Europa".
Valter Pomar: diminuir a influência dos EUA
Para o secretário de relações internacionais do PT, Valter Pomar, o acordo militar entre Brasil e França "reduz a influência dos Estados Unidos e aumenta a autonomia brasileira".
Em declarações à Ansa, Pomar esclarece que essa negociação "reduz a influência dos Estados Unidos e aumenta a autonomia brasileira em termos militares, assim como o novo marco regulatório do pré-sal, que reforça a soberania nacional, o papel do Estado e favorece as condições para uma política de desenvolvimento".
Segundo o representante do PT, as duas ações "fazem parte de uma mesma estratégia global, que não visa apenas a soberania nacional, mas também a democratização do país e a ampliação da igualdade social".
O convênio inclui também a transferência da tecnologia francesa ao Brasil, o que é "é essencial", segundo Pomar. Pois, permitirá que o Brasil participe ativamente no fortalecimento da capacidade regional de Defesa.
"O horizonte de médio prazo é fortalecer a capacidade regional de Defesa, constituindo parte importante das condições de funcionamento efetivo do Conselho de Defesa da União das Nações Sul-Americanas (Unasul)", opinou o secretário.
Questionado sobre a possibilidade de que este novo acordo seja entendido como um ponto de inflexão nas relações da Defesa que o Brasil tem mantido com os Estados Unidos, por meio do Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), Pomar disse que não, porque "a reorientação no terreno da Defesa começou antes". Contudo, "é um degrau importante de uma escada", esclareceu.
Da redação,
com agências, Vermelho.
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