Não somos donos da verdade, respeitamos a factual. Somos é donos da nossa opinião, isto é liberdade de imprensa
Qual seria a idade mental do adulto que ainda acredita em bicho-papão? A pergunta não é minha, quem a formula é Paulo Henrique Amorim em sua Conversa Afiada pela internet ao comentar a terrificante capa da revista Veja da semana passada. Alvo da artilharia abriliana o radicalismo que, a lhe dar ouvidos, poderia vincar fatalmente o programa de Dilma Rousseff ao vingarem as pressões dos vermelhos do PT.
Resta ver o que significa exatamente radicalismo e onde mora. A mesma ideia pautou Veja na campanha de 2002, apesar da prudentíssima Carta aos Brasileiros do candidato Lula. O qual, enfim eleito, mostrou por dois mandatos pragmatismo em lugar de outros ismos. Vale, de todo modo uma premissa, em adendo aos gárgulas despertados pela revista: a eventual e mais pálida interferência governista nos domínios da liberdade de imprensa é antidemocrática e, portanto, inaceitável, segundo CartaCapital. Condenável de pronto.
Cabe, porém, sempre na nossa visão, o interesse em coibir, via Congresso, o monopólio dos meios de comunicação. Ou por outra, é altamente recomendável impedir pela lei que uma empresa jornalística possa espalhar-se à vontade em todos os setores, desde os tradicionais até aqueles criados pelo avanço tecnológico.
Neste espaço, a tese já foi defendida mais de uma vez: haveria de ser tarefa dos parlamentares uma lei destinada a definir os alcances da atuação da empresa jornalística. Do ponto de vista estritamente empresarial e não ideológico, está claro. Leis como essas vigoram em vários países democráticos e servem de exemplo. A dúvida fica em relação a um Congresso habitado por inúmeros donos de jornais, revistas, canais de tevê, rádios. Talvez não tenhamos atingido o estágio adulto: quem vende a imagem do bicho-papão na certeza de contar com uma audiência de adultos com idade mental infantil, dela compartilha.
É em nome da liberdade de imprensa que CartaCapital definiu sua opção pela candidatura de Dilma Rousseff e expôs claramente as razões da escolha, conforme prática comum em outras terras, quem sabe mais afeitas a certos valores. Só para citar dois exemplos importantes: o New York Times declarou seu apoio a Obama antes do último pleito americano, enquanto o Corriere della Sera apoiou a candidato Romano Prodi contra Silvio Berlusconi, em 2006.
Há exemplos mais. Não há, isto sim, de uma mídia compactamente unida contra um único candidato. Coisa nossa, como afirmava um samba de tempos idos, e ainda presentes quando o assunto é jornalismo. Coisa nossa e entranhada no pensamento de quantos, embora crescidos, ainda temem o bicho-papão. Quem sabe se trate de esperar Godot, aquele que nunca chega.
A escolha de Dilma ainda merece muitas reações. A maioria, positiva. Cresce o número dos futuros ex-não assinantes. Um deles levanta a jocosa hipótese de que a nossa iniciativa não passe de um recurso mercadológico. Bom acrescentar que o leitor a aprova, e sabe dos riscos que corremos ao tomar partido.
Persistem alguns provocadores e alguns iludidos. Uns movidos pela má-fé, outros determinados pela idade mental baixa. Aqui não estamos a declarar a nossa condição de donos da verdade, desde que conhecemos à perfeição a diferença entre o fato e a opinião. O fato está na definição da nossa preferência, baseada em parte na verdade factual. Por exemplo, nos números que diferenciam o governo Lula do governo FHC. Mas também na nossa opinião, à qual, obviamente, temos direito.
Explode, então, o radicalismo alheio, instigado pelo clichê impingido, pela fé depositada em uma mídia dona da verdade absoluta, pela incapacidade de manter um debate equilibrado. Quando não pela prepotência e pela hipocrisia dos vetustos donos do poder. Pelos preconceitos de sempre e pelo ódio de classe.
Diante desta clamorosa exibição de maniqueísmo de nada vale lembrar que o governo Lula foi criticado por CartaCapital inúmeras vezes, conquanto o tivéssemos apoiado em 2002 e 2006. Criticado dos mais variados aspectos. E lá vem a acusação vil, a ofensa grosseira, a calúnia: órgão governista, panfleto petista, servo de Lula. Ocorre apenas que procuramos ser honestos. Aos jornalistas, dizia um grande profissional americano da década de 50, não peçam para ser objetivos. Somos subjetivos, digo eu, até ao depositarmos uma vírgula ao meio de uma sentença. E ele: dos jornalistas exijam é a honestidade.
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