terça-feira, 20 de julho de 2010

Jornal do Brasil: Fogo da oposição entre o 8 e o 80


A declaração de Indio da Costa pôs mais lenha na fogueira de uma campanha que, oficialmente, está apenas começando e promete ser muito acirrada. E provocou constrangimento até mesmo entre correligionários da oposição, que acharam desequilibrada, despropositada e desnecessária a acusação.


É de se lamentar, mas também de se aproveitar pelo conteúdo pedagógico, as recentes declarações do candidato a vice-presidente pela chapa do ex-governador paulista José Serra (PSDB). Indio da Costa (DEM-RJ), numa tentativa de desqualificar o PT, disse em entrevista que o partido tem ligação com o tráfico e a guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Como era de se esperar, a afirmação causou reações indignadas nos adversários políticos, que alegaram golpe baixo e anunciaram que entrarão com um processo na Justiça contra o deputado federal.

A declaração de Indio da Costa pôs mais lenha na fogueira de uma campanha que, oficialmente, está apenas começando e promete ser muito acirrada. E provocou constrangimento até mesmo entre correligionários da oposição, que acharam desequilibrada, despropositada e desnecessária a acusação. Diante da repercussão negativa, o próprio Indio esboçou um conserto, ao sugerir uma nada científica cadeia causal: o PT teria relações com as Farc, que, por sua vez, tem ligações com o narcotráfico.

Um simples raciocínio lógico desmontaria o sofisma. A afirmação parece eivada de conotações ideológicas e difamatórias, típicas de um clima eleitoral que se pensava extinto. O episódio lembra quando, em 1989, a campanha de Fernando Collor de Melo levou para o programa de TV uma ex-namorada do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva, Miriam Cordeiro, que acusou o atual presidente de racista e de ter lhe pedido para abortar. Lembra também a disseminação de boatos em 2002, segundo os quais, caso chegasse ao poder, o PT não garantiria mais a propriedade privada, por ser um partido de esquerda. Lembra muitos outros casos, em que a luta política foi levada para o lado pessoal e para a desinformação.

Tudo bem que a disputa pelo poder nem sempre ocorre dentro do jogo limpo. Mas é preciso aprender com os erros do passado e não duvidar da inteligência do eleitor. O cidadão merece uma campanha de alto nível, com o embate de ideias, a discussão das propostas de governo e de um projeto para o país, dentro de uma atmosfera de civilidade. O Brasil, desde o processo de redemocratização, avançou e conta com um acúmulo de experiências que não deve ser desprezado pelos eleitores e pela classe política.

As declarações de Indio da Costa podem ser creditadas a uma série de fatores. Mas dois se destacam. O primeiro é a trajetória incipiente do deputado de primeiro mandato, cuja escolha para o importante posto de vice já foi largamente debatida e criticada. O segundo é o discurso da oposição, que demonstra não estar calibrado, apelando para o 8 ou o 80. Ou é incapaz de construir uma crítica sólida ao atual governo ou, no desespero, cai atirando. É preciso firmeza, mas com equilíbrio.

Fonte: Jornal do Brasil

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