domingo, 5 de dezembro de 2010

Drogas, favelas e cidadania


O que tornou espetaculares as ações policiais nas favelas do Rio de Janeiro foi justamente a situação extrema em que se encontravam depois de décadas de abandono à própria sorte pelos governos estaduais e federais. Reconquistar o território não é tão extraordinário assim em outros países. Mas no Rio… acabou virando o grande acontecimento do ano. Tão simbólico quanto a eleição de Dilma Rousseff.

Sempre soubemos que traficante, usuário e polícia formam o triângulo das drogas no Brasil. Esta associação já foi cantada por grandes poetas; virou tema de alguns filmes e até de um seriado exibido pela Globo. Muito bons, diga-se de passagem. Os morros cariocas, os traficantes e a lei do cão foram parte do folclore urbano por muitos anos.

Semana passada, o BOPE saiu das telas, juntou-se ao exército e devolveu os morros cariocas aos seus habitantes. A expulsão dos traficantes e o desmantelamento das milicias, transmitidos ao vivo pelas TVs, tiveram ares cinematográficos. Mas o fato é que com BOPE ou sem BOPE, o negócio das drogas só mudou de algumas mãos. Depois de alguns acertos aqui e ali, tudo volta ao normal. Empresários, classe média alta, artistas etc, não abrem mão de cocaína sua de cada dia. Muito menos os traficantes do seu negócio. E os policiais corruptos continuarão dando o suporte e levando o deles. Claro.

Criminalizar o uso da droga nunca inibiu seu consumo e só serve para manter seu preço de mercado. Não vamos confundir as coisas. O único lado bom dessa história toda é que a favela finalmente está sendo transformada em bairro. Se deixará de ser o endereço da droga no Rio de Janeiro para tornar-se o endereço definitivo da cidadania, só o tempo dirá. E essa poderá ser a maior das vitórias. As UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) são um instrumento que tem enorme potencial transformador. Além de servir de modelo para o resto do Brasil, serão referência em outros países.


Já o consumidor paulista só vai sentir uma única diferença em tudo isso: no preço. Nada melhor que alguma turbulência na rota da cocaína em direção ao nariz dos executivos da Av. Paulista para incrementar os negócios. Aí entra o velho “ágio” e os preços sobem.

Ah! Você não sabia que o paulista também cheira cocaína? Só porque o PIG “protege” a população de São Paulo da verdade há décadas, não significa que somos diferentes das outras metrópoles brasileiras. Metade dos atores, diretores e produtores da Globo usam cocaína desde criancinhas. Grande parte dos jornalistas usa. Boa parte dos músicos, artistas, autores… Apesar de os homofóbicos amigos da Mayara Petruso se considerarem a fina flor, eles também cheiram cocaína. Aliás, porque esses idiotas valentões não vão na periferia agredir minorias? Vai ver que, pela leitura das capas da Veja, Folha e Estadão (pra que ler além das capas nas bancas?), sua visão de “paulista” se resume aos habitantes das redondezas da Paulista. O resto é algum lugar fora da fronteira, encoberto pela sua névoa mental. Se ousassem manifestar seu preconceito na periferia, amanheceriam jogados num terreno baldio, com a boca cheia de formiga.

Ao contrário do Rio, em São Paulo, o endereço da droga é qualquer lugar. Quer comprar ecstasy, cocaína ou crack? Escolhe: porta de escola pública, terminal de ônibus, feira livre, baile funk, pagode, balada, shopping… Na Cracolândia, centro de São Paulo, por exemplo, o atendimento é de 24 horas, inclusive domingos e feriados.

Uma ofensiva do tamanho da carioca, com apoio do exército e tudo mais, jamais será feita em São Paulo enquanto o estado for refém dos governos do PSDB. Ainda mais em tempos de franca decadência do partido. Vários motivos: o PSDB e sua mídia não reconhecem que SP tem o maior consumo de drogas do país; a polícia de SP é a mais mal paga do país; e o PSDB jamais se curvaria à federação pra pedir ajuda. A única coisa que aceita do governo federal são as verbas do PAC – apesar de negar a existência do programa. Nas placas de obras como o metrô, rodoanel ou na construção de conjuntos habitacionais populares, o crédito ao governo federal é do tamanho de letra de bula de remédio. Resultado: o paulistano, eleitor do PSDB, espuma de ódio porque considera-se “financiador compulsório do Bolsa Família dos vagabundos do norte”. E não sabe que Serra gastou R$ 9 bilhões na duplicação de trechos das marginais pra reduzir de 104 pra 97 os quilômetros de congestionamento na cidade! R$ 9 bilhões! Daria para criar novas linhas de metrô, construir centenas de corredores de ônibus, ampliar a frota, atrair milhões de usuários para o transporte público e, aí sim, desafogar o trânsito, reduzir a poluição, diminuir acidentes…

Mas não adianta: o PSDB vive chutando o traseiro dos paulistas e eles continuam se achando a azeitona da empada, o Brasil desenvolvido que entende de política. Outro dia o português salazarista da padaria me respondeu: se o Lula foi eleito por duas vezes, por que não podemos eleger o Tiririca?


Nenhum comentário: