Interesse na CPI do Apagão Aéreo
O Globo - 21/12/2010
Diplomatas viram com atenção briga política entre governo e oposição
BRASÍLIA e RIO. A disputa política entre governo e oposição e as barganhas do PMDB para apoiar o Palácio do Planalto na CPI Mista do Apagão Aéreo, em 2007, despertaram elevado interesse da diplomacia americana, revelam os telegramas divulgados pelo site WikiLeaks. Segundo relatos feitos por peemedebistas a informantes da Embaixada dos EUA em Brasília, o nível de tensão e os possíveis desdobramentos da investigação dependeriam do rumo que o partido iria tomar.
Em mensagem enviada a Washington no dia 16 de maio de 2007, o embaixador Clifford Sobel relata uma conversa do informante com o deputado Raul Henry (PMDB-PE), na qual o peemedebista conta que a legenda poderia seguir dois caminhos: duro ou macio. Tudo dependeria da disposição do governo em ceder cargos de segundo escalão na Esplanada.
"O PMDB quer cargos de alto nível no segundo escalão. (O parlamentar) disse em 10 de maio que a liderança do PMDB tentaria extorquir o governo para atingir seus objetivos. O presidente do PMDB, Michel Temer (SP), e o líder do partido Henrique Eduardo Alves (RN) ofereceram ao governo duas chapas de deputados para a CPI da Crise Aérea: uma dura e uma macia", explicou.
A dura seria composta por um time que poderia levar a investigação a sério. O outro grupo seria composto por aliados com o governo, batizados no documento como "homens sim". Ou seja, que se curvariam aos interesses governistas. O rumo das investigações poderia alterar a percepção da sociedade brasileira sobre a responsabilidade dos pilotos do Legacy Jean Lepore e Jan Paul Paladino na tragédia com o voo 1907 da Gol, que resultou na morte de 154 pessoas.
Nos bastidores da disputa governista, afirma o relato levado a Washington, vingou a chapa mais branda, após uma série de ameaças. E a causa da escolha, conforme teria dito o deputado Raul Henry, não seria o atendimento de todos os pleitos do partido, mas o medo de esticar a corda.
"Henry disse que os líderes escolheram a chapa macia. Pôr em campo o time duro poderia ser contraproducente, punindo efetivamente o governo ainda com a incerteza sobre a definição dos cargos", explicou.
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