Da Redação, Sul 21
O Foro de São Paulo organizado em Caracas concluiu sua décima oitava edição
com um ato realizado no teatro Teresa Carreño, na capital venezuelana, e com uma
declaração final com uma ênfase crítica ao golpe de Estado no Paraguai. O ponto
27 da declaração final diz sem ambiguidades que o Foro de São Paulo dá todo o
seu apoio ao presidente paraguaio Fernando Lugo, “desconhecendo o governo ‘de
facto’ encabeçado pelo golpista Federico Franco e anunciando ações continentais
a favor da democracia, do respeito à vontade popular expressa em abril de 2008 e
pela unidade e integração dos povos e governos da América Latina e Caribe”. Os
membros do Foro também fazem uma menção explícita ao México e suas controversas
eleições presidenciais. O documento que fecha os três dias de discussões do
encontro assinala que “uma vez mais, a direita mexicana recorreu à manipulação
midiática e das pesquisas, à compra de votos e a todo tipo de fraude para impor
sua vontade contra os melhores interesses do povo mexicano”.
Em um dos discursos que fechou o Foro, José Ramón Balaguer, membro do bureau
político do Partido Comunista cubano e pertencente à geração histórica que lutou
contra o regime de Batitsa, declarou que “fatos como os ocorridos no Paraguai
pretendem deter as mudanças progressistas na América Latina”. Balaguer
acrescentou que, para ele, “os principais grupos de poder dos Estados Unidos
reativam uma ofensiva hegemônica” contra o que qualificou como o principal
objetivo desses grupos, a saber, “os países que compõem a Alba”. Em seus 33
pontos, a declaração final do Foro destaca que a crise financeira internacional
“está longe de ser superada ao mesmo tempo em que denunciou em um extenso
parágrafo as tentativas golpistas que ainda pululam na América Latina.
Apontou como prova disso o que ocorreu na Venezuela em 2002, as “várias
tentativas de golpe na Bolívia”, a derrubada do presidente de Honduras em 2009,
a “quartelada do Equador”, em setembro de 2010 e, há apenas algumas semanas, a
derrubada do presidente paraguaio, Fernando Lugo”.
O ponto nº 5 do texto afirma que “o golpe de Honduras e a derrubada de
Fernando Lugo assinalam que a direita está disposta a utilizar vias violentas
e/ou a manipulação das vias institucionais para derrubar governos que não
atendem aos seus interesses”. O chanceler equatoriano, Ricardo Patiño, explicou
que estes acontecimentos obedecem a uma única lógica; “a pretensão das
oligarquias de recuperar o poder se deve às grandes riquezas que nossa América
possui”. Patiño pronunciou um extenso discurso, cantou um “Avante, companheiros,
avancemos para a revolução”, canção histórica dos sandinistas e, ao final,
confirmou que Quito estava “analisando” o pedido de asilo formulado pelo
fundador de Wikileaks, Julian Assange.
Principal Desafio é democratizar a comunicação
Os integrantes do Foro enfatizaram a posição dos meios de comunicação da
direita, essas grandes corporações “capazes de colocar-se acima dos poderes
públicos que emanam do sufrágio universal”. O Foro de São Paulo considera que “é
este, talvez, um dos maiores desafios que têm pela frente os governos de
esquerda: democratizar a comunicação”. A declaração denunciou as tentativas do
imperialismo que “busca debilitar os mecanismos de integração latinos e
sulamericanos, impulsionando a Aliança do Pacífico”. O ponto número 17 também
arremeteu contra o falso discurso “verde” dos conservadores: “a direita tenta se
apropriar simbolicamente do discurso em defesa do meio ambiente, esquecendo as
políticas neoliberais depredadoras da “mãe terra” e a dívida ambiental que o
capitalismo tem com o mundo”.
Luis Dulci, representante da Fundação Lula e membro do PT, disse que a
esquerda latino-americana deu uma extraordinária demonstração de que é capaz de
governar “com mais qualidade técnica, de gestão e administrativa e com um
projeto alternativo ao neoliberalismo”. Dulce afirmou que “os governos
progressistas da América Latina estão na vanguarda do humanismo
contemporâneo”.
Lula envia mensagem em vídeo
O ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, enviou uma mensagem em
vídeo aos participantes do Foro e foi aplaudido de pé pelo próprio presidente
venezuelano Hugo Chávez. Em sua mensagem, Lula lembrou que, quando o Fórum foi
criado há 18 anos, “naquela época, a esquerda só estava no poder em Cuba”.
Agora, acrescentou, “somos referência internacional como uma alternativa
vitoriosa ao neoliberalismo”.
Imediatamente depois falou o presidente da Venezuela: Chavez disse a Lula
que, quando voltarem a se encontrar em breve, vão se dar um abraço “grande como
este mundo”. Chávez lembrou que a primeira vez que conheceu Lula foi em 1996, em
El Salvador. Chávez também entoou um canto revolucionário rendendo uma homenagem
a Fidel Castro: “Fidel, que tiene Fidel, los imperialistas no pueden com
el”, cantou Chávez em coro com o público.
Nos parágrafos finais, a declaração expressou sua solidariedade com o povo do
Haiti e seu “apoio ao processo de paz na Colômbia, onde segue vigente a luta por
uma solução política do conflito armado, a paz com justiça social e por um novo
modelo econômico e social que garanta os direitos humanos e a proteção da
natureza”. O documento também respalda “a luta pela soberania autodeterminação
da Palestina”, e, paralelamente, manifesta sua rigorosa oposição “a qualquer
intervenção armada externa na Síria e no Irã”. Três dias de debates, ideias,
trocas, contatos, confrontações e enriquecimentos através da exposição de ideias
entre os representantes da esquerda do mundo terminaram com um apelo final:
“Outro mundo é possível e nós o estamos construindo: um mundo socialista”.
Com informações da Carta Maior
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