Ninguém duvida da força da
Internet nos dias que correm. A web está cada dia mais presente na vida das
pessoas, desde aquelas que fazem suas compras online até às que buscam nessa
mídia alternativa a opinião independente e o democrático debate de ideias.
O Direto da Redação, que vai
completar 12 anos ininterruptos no próximo dia 3 de agosto, surgiu exatamente com esse propósito, o de
despertar no leitor uma consciência crítica sobre os problemas que afetam o
nosso dia a dia. Por isso, rejeitamos a mesmice do pensamento único que nos é
imposto pela mídia tradicional, representada pelos chamados “jornalões” , pelos
noticiários televisivos e pelas revistas semanais, com raras exceções.
Com esse pensamento é que
vou abrir o espaço da minha coluna de hoje para transcrever o artigo do
jornalista Paulo Nogueira, sobre o melancólico final de uma grande revista
semanal de informações dos EUA. Paulo,
que vive em Londres, é fundador e diretor
editorial do site de notícias e análises Diário do Centro do Mundo.
Deixo com você, portanto,
prezado leitor, as reflexões de Paulo Nogueira sobre a agonia das revistas
semanais de informação e o futuro das demais mídias.
O melancólico final da
Newsweek.
Nada mostra tão bem o
declínio das revistas semanais quanto a agonia da Newsweek, que durante décadas
foi a influente e admirada número dois do mundo, com uma circulação de 3
milhões de exemplares.
Na redação da Veja, nos anos
1980, a Newsweek e a líder Time eram acompanhadas com rigor e com devoção pelos
jornalistas, incluído eu em meu começo de carreira.
Nesta semana, soube-se que,
mais uma vez, ela está à venda. Só que ninguém quer comprar os restos mortais.
A Newsweek foi virando pó
com a ascensão da internet. Foi perdendo leitores, anunciantes, repercussão e,
finalmente, razão de ser.
Já nos estertores, passou do
grupo que controla o Washington Post para as mãos da editora Tina Brown, que
comandava então o site Daily Beast. As
duas marcas ficaram sob a órbita de Tina.
No final do ano passado, a
edição impressa deixou de circular. Se não fosse o aviso, ninguém teria notado,
tão irrelevante já tinha ficado a revista na Era Digital.
Agora, o site foi posto à
venda. A empresa quer se dedicar à marca Daily Beast.
É difícil imaginar que
apareça candidato. No New York Times,
alguém notou, melancolicamente, que não é uma revista à venda, com jornalistas:
é apenas uma marca.
E uma marca de um passado
longínquo. O caso da Newsweek não mostra apenas quanto a internet destruiu a
indústria tradicional de mídia. (Há pouco tempo, a Time Warner tentou se
desfazer de sua divisão de revistas, mas não encontrou quem quisesse comprar.)
A agonia da Newsweek revela,
também, um fato duro para as companhias jornalísticas: as grandes marcas do
papel não transferem seu prestígio para a internet. Não surpreende que a
empresa prefira se concentrar no Daily Beast e não na Newsweek.
No Brasil, o quadro é o
mesmo, com o natural atraso de alguns anos que caracteriza a mídia nacional em
relação à americana e à europeia.
A principal revista
brasileira, a Veja, é uma sombra do que foi. Os esforços extraordinários para
manter a circulação em 1 milhão – a mesma em vinte anos – não têm impedido uma
queda calculada em 4% ao ano.
Tenho para mim que o fim
iminente e inevitável das revistas semanais de informação amargurou enormemente
Roberto Civita em seus últimos anos.
Tenho para mim, também, que
parte dos excessos da revista se deveu a uma desesperada tentativa de manter a
relevância a qualquer preço.
O fato é que a internet vai
transformando rapidamente as demais mídias em defuntos.
A próxima parada, liquidados
jornais e revistas, é a televisão.
O futuro da tevê está na
Netflix, no YouTube e na Amazon, que vai produzir conteúdo em vídeo. Marcas tradicionais – a Globo no Brasil – vão
enfrentar um processo parecido com o que vitimou a Newsweek e tantos outros
títulos nobres da Era do Papel.
A Globo só consegue manter a
receita publicitária – sem a qual não é nada – graças ao expediente do BV, o
Bônus por Volume, que acorrenta a ela as agências de publicidade.
Mas o grilhão só se explica
com audiências monstruosas. Porque é o terror de perder essas audiências – com
um boicote da Globo — que faz os anunciantes aceitarem uma coisa tão ruim para
eles.
Sem grandes audiências, a
amarra se vai. Os anunciantes se despedirão da Globo (e do BV abominado) e vão
buscar seus consumidores onde eles estão: na internet. Não no Faustão, não no
Fantástico, não nas novelas.
A internet vai fazer com a
Globo o que governo nenhum conseguiu fazer: acabar com o monopólio. Pela via da
desaparição de expectadores.
O jornalista Paulo
Nogueira, é fundador e diretor editorial do site de notícias e análises Diário
do Centro do Mundo
Eliakin Araujo, Direto da Redação
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