terça-feira, 26 de julho de 2011

A ameaça Lula diplomata


Esta semana inaugura uma nova fase na imprensa brasileira. Vejamos. Depois de ela insistir durante vários meses que a Presidente Dilma era politicamente diferente do ex-presidente Lula, agora o alvo é o próprio ex-presidente. Enquanto os elogios eram todos para a presidente Dilma Rousseff, o tratamento dispensado ao ex-presidente, tido como “falastrão”, “ignorante” e “palanqueiro”, era o contraste das virtudes — ou defeitos — que não seriam encontrados na presidente Dilma.
 
As conclusões sobre o governo da Presidente Dilma nos editoriais da maior parte da imprensa eram óbvias: seriam anos de um mandato com características próprias e divorciadas do projeto anterior. As claras afirmações políticas feitas à exaustão não obtiveram êxito e a investida, agora, esta semana, é direta contra o ex-presidente. As matérias ignoram propositadamente o passado de dirigente político do ex-presidente e esquecem que Lula nunca deixará de fazer política. Lula é um dirigente político, ex-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores e alguém que sempre se preocupou com relações internacionais positivas para o país.
 
Uma das manchetes desta sistemática que se avizinha é a seguinte: sem mandato, Lula já passou 53 dias em viagens fora de SP. A pergunta que faço é a seguinte: com quem Lula teria que tramitar licenças para viajar? Qual é o crime que cometeu? Outra manchete, desmesurada, faz juízo de valor. Nada prova a tese de que, fora da Presidência, Lula faz diplomacia paralela. E mais adiante arrematam dizendo que Lula está montando uma estrutura paralela de diplomacia.

O fato é que a imprensa de um modo geral se preocupa com relações políticas internacionais e os jornalistas e proprietários dos grandes meios, não abrem mão destas relações desde que, é claro, eminentemente alinhadas com EUA. Quem fizer algo diferente será satanizado. Não são diretos neste aspecto mas, certamente, não adotam as mesmas idéias de Lula. Vejamos.

Segundo o site publica.org — de um grupo de jornalistas brasileiros ligados ao Wikileaks — , documentos revelam encontros de membros do corpo diplomático americano com diversos jornalistas de peso e representantes de grandes grupos midiáticos. Em um telegrama de 2005, o então cônsul de São Paulo, Patrick Dennis Duddy, narra uma visita do então embaixador John Danilovich a Porto Alegre. A capital gaúcha contava com um consulado próprio, até 1997, quando passou a ter apenas uma agência consular.
 
O embaixador teve três dias agitados, recheados de encontros com empresários e políticos.

Um dos pontos mais curiosos do relato diz respeito a uma entrevista concedida por Danilovich aos veículos da RBS. “O embaixador teve um almoço ‘off the record’ com a direção editorial do grupo RBS, o maior grupo regional de comunicação da América Latina”.

Os números da empresa são apresentados no relato, com detalhamentos sobre operações no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, incluindo a afiliação à Rede Globo, as 120 estações de rádio em dez estados e o jornal Zero Hora.

“O embaixador subsequentemente concedeu uma entrevista ‘on the record’ para o Zero Hora e para a rede de rádios.”

O documento ainda frisa, em sequência, as relações políticas entremeadas ao grupo de comunicação. “Pedro Parente, que era chefe da Casa Civil do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é vice-presidente executivo da RBS”, aponta Duddy. Imediatamente a seguir, uma “nota” complementa a informação: “Nós temos tradicionalmente tido acesso e relações excelentes com o grupo”.

Quem também participou de almoços e encontros com funcionários do governo dos Estados Unidos foi o apresentador do Jornal da Globo, William Waack. Houve um almoço em 28 de abril de 2008. tratava-se de uma visita de jornalistas ao almirante Philip Cullom, que passava pelo Brasil para uma série de exercícios conjuntos entre as marinhas dos Estados Unidos, Brasil e Argentina.
 
 
De acordo com o relato do então embaixador Clifford Sobel, a visita de “membros da imprensa brasileira” resultou numa “cobertura positiva”. Entre todos os jornalistas, apenas o apresentador do Jornal da Globo é nomeado, por ter “apresentado em duas reportagens para O Globo sobre a visita, o que reflete a importância da parceria dos EUA com o Brasil”.


Outro encontro deu-se em setembro de 2009, com a presença Sérgio Fausto, à época diretor do Instituto Fernando Henrique Cardoso (iFHC). Nele, Waack trouxe a informação, que posteriormente se revelaria falsa, de que os então governadores de São Paulo, José Serra, e Minas Gerais, Aécio Neves, teriam acertado uma chapa puro-sangue do PSDB para rivalizar com Dilma Rousseff.

O terceiro encontro foi com o atual embaixador, Thomas Shannon, em fevereiro de 2010. Waack teria dito que em um fórum com empresários, Aécio Neves teria se mostado “o mais carismático”, Ciro Gomes “o mais forte”, Serra “claramente competente” e Dilma “a menos coerente”.

Em agosto de 2005, há menção a um encontro com oito jornalistas e comentaristas de jornais, revistas, TV e internet. Nenhum é mencionado, mas muitas teorias são listadas sobre o que se sucederia às denúncias de corrupção consagradas como o escândalo do “Mensalão”.
 
Fernando Rodrigues, repórter especial de política da Folha e autor do blog UolPolítica, teve pelo menos duas conversas com o assessor político da embaixada dos Estados Unidos, segundo os documentos. Em ambos, foi procurado para dar a contextualização a questões relativas ao país: o funcionamento do Tribunal de Contas da União e o futuro de Aldo Rebelo (PCdoB-SP) caso perdesse a eleição para presidente da Câmara dos Deputados em 2007.
 
Os ataques ao ex-presidente Lula vão continuar. A imprensa continua sem debater idéias. Parece que a escolha é cultivar o ódio ao Partido dos Trabalhadores e a seus dirigentes. O debate está aberto. Vamos apostar que os documentos desclassificados e somente revelados pela Internet continuem a esclarecer as escolhas políticas feitas pelas grandes empresas de comunicação.Gustavo Mello, no Sul21.

Um comentário:

Anônimo disse...

Lula disse que queria densencarnar da presidência, mas os jornalistas do PIG é que não desencarnam dele. Também, ficaram tão acostumados a ter o prazer de falar mal do Lula que não conseguem "largar o osso". Para estes, mais até do que para os admiradores, o Lula vai continuar presidente, por mais contraditório que possa parecer. Mais do que isso, trata-se da tentativa constante de desconstruir a imagem de quem mostrou que podemos ser maiores e melhores do que pensávamos sob a influência sombria dos donos do PIG.
Se você quiser destruir uma ideologia, destrua seu(s) mentor(es). O objetivo é o retrocesso, o restabelecimento da subserviência a potências que hoje se encontram em apuros econômicos, quando a elite tinha seu quinhão garantido pela falta de políticas sociais. A quebra desse modelo deve estar doendo muito...