segunda-feira, 17 de junho de 2013

A realidade da mobilidade urbana tão falada por Eduardo Campos

Arena Pernambuco - metrô lotado (Foto: Elton de Castro / Globoesporte.com)

O jogo era especial. Frente a frente, craques como Iniesta e Cavani fizeram mais de 40 mil pessoas lotar a Arena Pernambuco no último domingo, para acompanhar o duelo entre as campeãs mundiais, Espanha e Uruguai,vencido pelos europeus, por 2 a 1. Mas nem mesmo todo o encanto causado pela magia da Celeste e pelo envolvente futebol da Fúria foi capaz de neutralizar a revolta dos torcedores com o sistema de transporte público do Recife. Durante todo o caminho, falta de informação para os turistas, filas quilométricas, tumultos e uma certeza: a capital pernambucana está longe de resolver as falhas na mobilidade urbana. Problema que chegou a ser criticado pela seleção uruguaia durante a semana.
A reportagem do GLOBOESPORTE.COM viveu um dia de torcedor para mostrar as dificuldades vividas pelas pessoas, que optaram pelo sistema público de transporte, como foi recomendado pelos governantes. A aventura - ou calvário - teve início no Aeroporto Internacional dos Guararapes, um trajeto de 19 quilômetros até a arena. Lá, um posto de informação foi montado para auxiliar os turistas que desembarcavam pelo terminal sul. No entanto, a simpatia dos funcionários não foi suficiente para que os uruguaios Jorge Fontes e Adrián Fontes descobrissem onde ficava a estação de metrô, que ficava a cerca de dois quilômetros de distância.
- As informações não existem. Tive que atravessar uma avenida e entrar em uma rua, mesmo sem conhecer nada. Não tem uma placa informando e nem ajuda para chegar até lá - disse, Jorge Fontes, ressaltando que tinha acabado de chegar ao Recife.
O problema encontrado pelo uruguaio foi compartilhado por vários turistas, que transitavam pela rua sem direcionamento. Na Estação Aeroporto, o problema da informação persistiu, mas os 24 trens disponibilizados durante o dia deram conta do recado e deixaram o tempo de espera em cerca de cinco minutos. Melhor para Carlos Andrade, que veio de João Pessoa-PB e subiu no trem na estação do shopping.
- Deixei meu carro no estacionamento e o vi shopping e vim pegar o metrô. Perdi o primeiro, mas o segundo passou com cinco minutos de diferença. Se for assim até lá, será ótimo.
A esperança de Carlos foi interrompida após três estações. Quando o metrô chegou a Joana Bezerra, o que obrigaria uma mudança de trem, o primeiro tumulto aconteceu. Sem muita fiscalização - nem sinalização - várias pessoas tentavam entrar sem pagar, benefício dado para quem tinha o ingresso do jogo. Na área de embarque, mais problemas. Apesar do pouco tempo de espera, alguns torcedores ainda não sabiam da proibição de alguns objetos. Situação solucionada por um simpático voluntário, que sugeriu o Terminal Integrado de Passageiro (TIP) como opção para guardar os pertences de quem necessitasse.
Mas o local dos pertences foi o menor dos problemas para chegar até a Arena Pernambuco. Bastou o metrô entrar na estação Cosme Damião, tida como um dos legados do evento, que custou cerca de R$ 19 milhões, para que o pânico fosse instaurado. Com o grande fluxo de trens e a pouca capacidade do local, pessimamente projetado, as pessoas se aglomeravam na área de embarque, que não dispunha de nenhuma proteção. Situação que fazia com que os torcedores corressem o risco de cair nos trilhos.
O que era ruim ficou ainda pior quando outro trem chegou ao local - o terceiro em 10 minutos. Quem desembarcou não conseguiu sair da plataforma porque os 65 ônibus disponibilizados pela organização local não foram suficientes para deixar os passageiros no estádio. Um guarda, bastante tenso, da Companhia Brasileira de Transporte Urbanos (CBTU) tentava - sem muito sucesso - orientar os torcedores. Irritados, muitos começaram a vaiar. Houve empurra-empurra e confusão.
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O desespero foi ainda maior na escada que dava acesso aos ônius. Bastante estreito, o local chega a ser claustrofóbico. Deficientes e gestantes até dispunham de um elevador, mas para alcançá-lo era necessário enfrentar a multidão. Livre da escada foi a vez de entrar no ônibus que levaria até a Arena Pernambuco. Na fila de embarque, mais problemas. Sem organização, a população começou a tentar entrar nos veículos de qualquer forma. Cenário que fez com que a espanhola Ana Botella lamentasse a ida ao estádio.
- Não temos informações, não tem organização e isso é muito triste. Vim para torcer pela Espanha, mas a chegada ao estádio foi traumática.
Após entrar no ônibus, a sensação de estar dentro de uma lata de sardinha foi inevitável. Os 2,2 quilômetros até a Arena Pernambuco foram feitos com cerca de 200 pessoas em um veículo que tem capacidade para 50.
Após duas horas e dez minutos de “via-crúcis” e mais dois quilômetros de caminhada, a Arena Pernambuco surgiu no horizonte. Mas a vista do estádio, que é bastante bonito, não foi suficiente para acalmar os ânimos do uruguaio Carlos Montoya.
- Terrível. Tudo hoje foi terrível. Muito perigoso a chegada até aqui. Tinha comprado o jogo contra o Taiti, mas não virei.


Transtornos também na volta para casa

A
ida ao estádio não foi o pior percurso que os torcedores tiveram que fazer no último domingo. Na volta para casa, uma enorme confusão se formou na fila que dava acesso aos ônibus responsáveis por levar a população até o metrô. O tumulto chegou a derrubar as grades que serviam para fazer o traçado dos pedestres e teve que ser contido pela polícia. Mas a confusão continuou na estação Cosme e Damião. Muito mais apertado do que no trajeto de ida, o local foi palco para empurra-empurra entre os torcedores e muita discussão.transtornos também na volta para casa.
O dia de torcedor na Arena Pernambuco deixou evidente que Pernambuco terá um árduo trabalho para solucionar o problema da mobilidade urbana até 2014, quando será uma das sedes da Copa do Mundo da Fifa.Gobo com

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