sábado, 15 de novembro de 2008

CUIDADO! NÃO DEIXEM SUAS CRIANCINHAS SOLTAS


COMUNISTAS ESTÃO CHEGANDO: PCdoB JÁ NÃO FAZ REUNIÃO EM CIMA DA PADARIA, COMO HÁ 20 ANOS


Rodrigo Vianna


Os comunistas estão chegando. Comunistas de carteirinha. Comunistas de todas as partes do Planeta: Grécia, Argélia, Vietnã, Itália, Noruega, Índia, Líbano, Venezuela, Letônia... A lista é imensa. Mais de 70 países enviarão representantes para o encontro que acontece na próxima semana, em São Paulo.

Desde 1998, quando os PCs voltaram a se articular (numa tentativa de superar a ressaca gerada pela queda da União Soviética), este já é o Décimo Encontro Internacional de Partidos Comunistas e Operários. Os sete primeiros foram organizados pelos comunistas gregos, depois o encontro passou por Portugal (2006) e Rússia (2007), antes de chegar ao Brasil em 2008.

Será que estamos assistindo à criação de uma nova “Internacional Comunista”? Quais serão os temas em debate no encontro? Voltarei a essas questões em outro texto. Agora, peço licença para algumas reminiscências...

O anfitrião do Décimo Encontro será o PCdoB, partido mais antigo do Brasil – se levarmos em conta que ele é o herdeiro do velho partidão fundado em 1922 (o PPS, que formalmente seria a continuação do PCB, não pode reivindicar essa herança, já que abriu mão de sua história, entregou os pontos, virou sub-legenda tucana e liberal).

A turma do PCdoB deve estar orgulhosa... Vai receber, num hotel do centro de São Paulo, comunas de tudo que é canto do mundo. Quanta diferença de 20 anos atrás!

Em meados da década de 80, meu irmão Fernando e eu (na época, estudantes secundaristas) nos aventuramos em reuniões semi-clandestinas do PCdoB. O partido – destroçado pela derrota no Araguaia - tinha acabado de obter a legalidade. As reuniões na zona sul de São Paulo aconteciam numa espécie de sobreloja, em cima de uma padaria no bairro da Vila Mariana. Lembro do ambiente quase monástico, cadeiras velhas de madeira, cartazes de Stálin e da Albânia (sim, pra quem não sabe, o PCdoB naquela época defendia o socialismo de “linha albanesa”).

Lembro, ainda, de um militante com uma cicatriz grande no rosto, descendente de japoneses, que comandava as reuniões. Na minha ingenuidade juvenil, ficava a pensar: “será que ele foi guerrilheiro, será que essa cicatriz é marca da luta armada?” Nunca tive coragem de perguntar. Sei que o cara ligava pra minha casa, avisando das reuniões; minha mãe queria saber quem era, e ele dizia apenas: “aqui é o Paulo, do movimento estudantil”. O sujeito tinha medo de dizer o nome “PCdoB” e espantar aquela mãe de classe média. Resquício da longa clandestinidade...

Minha trajetória no PCdoB não durou mais do que duas ou três reuniões. Segui outros caminhos (o que não me impede de reconhecer que – ao longo dos anos - encontrei no PCdoB alguns dos militantes socialistas mais dedicados, sérios, patriotas, e realmente interessados no bem do Brasil). Meu irmão, Fernando, ainda usou durante alguns meses um broche do PCdoB. Comprou livros sobre a Albânia e, na hora do jantar, tentava convencer meu pai sobre as vantagens do “socialismo albanês”.

O “Paulo, do movimento estudantil”, eu nunca mais vi. Meu irmão Fernando virou antropólogo e (em vez da Albânia) hoje vive na Argentina, enquanto eu tento ser jornalista aqui mesmo no Brasil. O farol do socialismo albanês já se apagou há muitos anos... Mas a idéia de lutar por um mundo mais justo essa não vai se apagar nunca!

O PCdoB, que já possui sede própria (com papel passado em cartório), que tem site na internet (o melhor entre os partidos de esquerda) e até Ministro de Estado em Brasília, agora vai organizar esse encontro internacional num hotel bacana de São Paulo!

Essa eu quero ver! Nem que seja pra depois contar pro meu irmão, e relembrar com ele os tempos das reuniões em cima da padaria.

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