segunda-feira, 6 de abril de 2009

O Brasil tem condições de sair mais forte no mundo pós-crise


Autor(es): : Abram Szajman
Gazeta Mercantil - 06/04/2009



Comparar o que nos acontece hoje com o que ocorreu há 80 anos, em decorrência da crise que levou o mundo à Grande Depressão, pode ser útil para entender qual será nosso lugar no cenário internacional, quando a turbulência amainar.

Em 1929, a quebra do sistema financeiro mundial atingiu o Brasil fazendo desabar o preço do café, então responsável por 70% das nossas exportações. Foi uma tempestade de tal ordem que varreu da noite para o dia o modelo agrário exportador vigente desde a época da colônia, carregando consigo, por meio da Revolução de 1930, a República Velha comandada pelos estados cafeicultores.

Da noite para o dia, o País teve de acelerar sua industrialização, pela simples razão de que não dispunha mais de recursos para importar os produtos manufaturados de que necessitava como fizera até então.

Entre 1933 e 1939, o setor industrial brasileiro cresceu 11,2% ao ano concentrando-se em metalurgia de pequeno porte e bens de consumo como papel e papelão, têxteis, vestuário e calçados. O resultado das medidas adotadas fez com que o PIB, que caíra 2% em 1930 e outros 3% em 1931, se recuperasse em 1932, superando o nível de 1929 no ano seguinte. A recessão, apesar de profunda, durou entre nós apenas dois anos.

A situação brasileira hoje, felizmente, é bem diferente, e para melhor. Embora a crise atual, como a de 1929, também tenha começado no setor financeiro dos EUA e daí espalhado-se pelos cinco continentes e para a economia real, o mundo do século XXI é outro: a simples existência de países emergentes com grandes mercados internos, como é o caso do Brasil, Rússia, Índia e China (Bric), oferece a perspectiva de que, desta vez, os países ricos é que serão os mais afetados.

Integrante do mundo globalizado, o Brasil de 2009 não está imune aos efeitos da crise, que terá como provável consequência imediata não a recessão, mas uma redução no crescimento impetuoso do PIB. A saúde econômica atual do País - expressa pela boa posição externa, pelo menor nível de exposição ao comércio exterior, baixa inflação e relativo controle das contas fiscais - permite olhar tanto para o futuro como para as oito décadas decorridas desde a crise de 1929 com uma visão confiante em nossa capacidade de dar a volta por cima nas adversidades.

Com a inflação sob controle desde a implementação, em 1995, do Plano Real, hoje o Brasil, além de estar livre da questão da dívida externa - um tormento para os sucessivos governos durante todo o século passado - exibe reservas superiores a US$ 200 bilhões. A dívida pública, embora elevada em razão da política de juros altos em prática desde o governo de Fernando Henrique Cardoso, mantém-se abaixo de 40% do PIB.

Outro trunfo importante foi a persistente redução das desigualdades regionais - com a indústria deixando de ser uma exclusividade do Sul e do Sudeste - e, mais recentemente, das sociais.

Diante dessa trajetória, creio que o Brasil chegou ao século XXI em condições de atravessar a presente crise em condições mais suaves do que os EUA, a Europa ou o Japão, mergulhados na recessão, colocando-se mesmo à frente dos demais países emergentes como opção de investimentos, para a exploração do etanol ou do petróleo do pré-sal. Afinal, ao contrário de Rússia, Índia e China, o nosso País exibe instituições democráticas cada vez mais sólidas e não enfrenta separatismos, conflitos étnicos e problemas graves com seus vizinhos.

Porém, se é certo que o nosso sistema bancário é hoje mais sólido do que no passado e menos exposto à quebradeira que se verifica no Hemisfério Norte, é igualmente verdade que entre nós o grande escândalo financeiro reside na própria taxa oficial de juros, durante tanto tempo a maior do mundo. Outro freio quase permanente ao progresso sustentado é o nosso arcaico sistema tributário, montado para sustentar um Estado que arrecada não para investir na área social ou em infraestrutura, mas, sobretudo, para custear seu gigantismo ineficiente.

Se superar estas mazelas por meio de uma reforma tributária simplificadora, retornando ao mesmo tempo sua taxa de juros a patamares civilizados, o Brasil estará habilitado para firmar-se no cenário internacional como um protagonista decisivo na construção e consolidação de uma nova ordem econômica no mundo pós-crise

Nenhum comentário: