segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Brasil critica ação israelense de despejo de palestinos em Jerusalém Oriental

03/08/2009

O governo brasileiro anunciou hoje em nota oficial "deplorar" a retirada de cerca 50 palestinos de suas casas em Jerusalém Oriental, que foram posteriormente ocupadas por cidadãos israelenses.

Israel expulsou neste domingo duas famílias palestinas de suas casas de um bairro árabe de Jerusalém Oriental, como parte de sua política de colonização da cidade, o que provocou uma onda de protestos da comunidade internacional.

Trabalhadores israelenses carregam os pertences de uma família palestina para a rua depois em uma ação de despejo promovida pelo governo israelense nesse domingo (2)

O comunicado divulgado hoje pelo Itamaraty acrescenta que "o Brasil considera a retirada de palestinos de Jerusalém Oriental e de quaisquer outros territórios ocupados contrária ao direito internacional e ao encaminhamento do processo de paz no Oriente Médio".

"O Brasil insta as autoridades de Israel a reverter a decisão, dado seu efeito prejudicial à criação de condições mínimas para a paz na região", continua a nota.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, também criticou a expulsão de famílias palestinas de suas casas e pediu às autoridades israelenses para "se abster destas ações provocativas".

"Considero que estas ações são profundamente lamentáveis", afirmou Hillary em entrevista coletiva conjunta com o ministro de Exteriores jordaniano, Nasser Judeh, com quem se reuniu hoje no Departamento de Estado americano.

"Disse anteriormente que a expulsão de famílias e a demolição de casas em Jerusalém Oriental não se ajusta às obrigações de Israel", acrescentou.

"As duas partes têm a responsabilidade de evitar ações provocativas que possam bloquear o caminho em direção a um acordo integral de paz", disse a secretária de Estado em referência aos israelenses e palestinos.

A chefe da diplomacia dos Estados Unidos afirmou ainda que "ações unilaterais tomadas por qualquer das duas partes não podem ser usadas para prejulgar o resultado das negociações e não serão reconhecidas como mudança no status quo" de Jerusalém.

53 pessoas expulsas de casa

"Nasci nesta casa e meus filhos também. Vivia legalmente aqui, mas agora estamos na rua. Somos refugiados", disse Maher Hanun neste domingo após ser expulso de sua casa em Cheikh Jarrah, um bairro árabe da parte oriental de Jerusalém, conquistada e anexada em 1967 por Israel.

Homens da polícia de choque israelense cercaram uma das casas desapropriadas, na rua Othman Ben Afan, enquanto guardas de fronteira e ambulancias permaneciam a postos na mesma região.

Dezenas de manifestantes protestaram contra a medida e a polícia deteve treze pessoas após distúrbios. A TV mostrou uma menina em lágrimas quando era retirada de sua casa.

"Todos têm medo de ser expulsos. Estamos aqui desde 1956 em virtude do acordo firmado pelas autoridades jordanianas com a UNWRA", o escritório das Nações Unidas para Ajuda aos Refugiados Palestinos, lembrou Amal Kassem, uma vizinha. "Os títulos de propriedade apresentados pelos colonos judeus são falsos".

A remoção foi decretada após a Suprema Corte de Israel rejeitar a apelação das famílias Al Ghawe e Hanun contra a medida obtida na Justiça pela organização de colonos Nahalat Shimon International.

Esta ordem afeta 53 pessoas, incluindo 19 menores, e provocou a ira de Saeb Erakat, principal negociador palestino.

"Israel ignora o direito internacional e os direitos humanos (...) Os colonos se instalam em casas que pertencem aos palestinos, e há 19 crianças sem teto", declarou Erakat à imprensa.

Richard Miron, coordenador especial da ONU para o processo de paz, deplorou "totalmente as ações inaceitáveis de Israel, que expulsa de suas casas famílias palestinas registradas pela UNWRA".

O organismo de refugiados da ONU qualificou a decisão de "inaceitável, deplorável e com efeitos desastrosos".

O consulado britânico em Jerusalém disse estar "chocado" e considerou que a expulsão é "incompatível com o desejo de paz que professa Israel".

No mês passado, Estados Unidos, União Européia (UE) e Rússia denunciaram o projeto de construção de cerca de 20 apartamentos destinados a israelenses em Cheikh Jarrah.

Israel considera que a totalidade de Jerusalém é a sua capital, algo rejeitado pela comunidade internacional.

Ao menos 200 mil israelenses já se instalaram em bairros de Jerusalém Oriental, onde vivem cerca de 270 mil palestinos. Uol.

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