terça-feira, 11 de agosto de 2009

Brilho em meio à crise



Nouriel Roubini

Todas as economias foram afetadas pela crise, mas uma combinação de respostas políticas e fundamentos sólidos deu a alguns países, especialmente mercados emergentes, certa proteção. Esses mesmos pontos positivos podem levar os países destacados abaixo a se saírem melhor quando a recuperação global começar, ainda que suas taxas de crescimento permaneçam abaixo da tendência de 2003 a 2007.

O que há de comum entre esses países? Um aspecto principal é que eles tendem a ter menores vulnerabilidades financeiras, por causa de uma regulação mais restritiva e mercados financeiros menos desenvolvidos, assim como grandes e fortes mercados domésticos que sustentaram a demanda interna. Além disso, detinham recursos para utilizar, em políticas anticíclicas fiscais e monetárias, ações que não foram possíveis em crises anteriores. Em contraste, países que contraíram empréstimos para financiar o consumo doméstico nos dias de dinheiro fácil enfrentam agora agudas contrações econômicas. Apesar da relativa robustez destes últimos, entretanto, sua capacidades de retornar ao crescimento sustentado dependerá de reformas estruturais que deem suporte ao consumo.

América Latina

Dois países na América Latina foram capazes, de longe, de navegar na crise melhor que os vizinhos. Brasil e Peru mantiveram seus fundamentos e sistemas financeiros saudáveis. Ambos se beneficiaram de ser economias relativamente fechadas e ter diversificado os produtos e mercados de exportação. Também levaram vantagem nos anos de crescimento (2003-2008), reduzindo vulnerabilidades externas e elevando a poupança. Quando a crise apertou, ambos tinham sistemas financeiros bem regulados que os protegeram da contaminação por ativos tóxicos.

A economia brasileira mostra sinais de resiliência. Já no primeiro trimestre de 2009, os dados do PIB exibiam consumo em alta, apesar da contração nos investimentos e do colapso no setor industrial. A confiança do consumidor, que agora retorna aos níveis pré-crise, pode garantir o consumo, mesmo com as prováveis perdas no mercado de trabalho. O estímulo monetário e fiscal deve ser mantido para auxiliar o processo de recuperação. Os pacotes fiscais para os setores de infraestrutura e habitação, assim como o alívio fiscal para a indústria automotiva e de bens de capital, devem sustentar em parte o mercado de trabalho e a expansão da produção doméstica.

Ásia e Pacífico

A Austrália escapou por pouco de uma recessão técnica, por força da sorte e da política. Os abundantes recursos naturais continuaram a ser requeridos pela China e por outros emergentes, inflando as exportações líquidas em 2009. Um alívio fiscal e uma redução no juro preveniram o declínio acentuado nos gastos dos consumidores e nos preços dos imóveis.

Na China, os agressivos estímulos fiscal e monetário ajudaram a reacelerar o crescimento na primeira metade de 2009 e escapar da armadilha do fim de 2008. O pacote chinês tem seus próprios riscos e pode ser apenas uma forma de ganhar tempo, mas há espaço para mais políticas anticíclicas no segundo semestre e em 2010. Se os esforços falharem ou forem adiados, tanto o crescimento chinês quanto o global serão mais sofríveis.

Apesar de desacelerar os picos de crescimento, de 8% a 9% ao ano, a economia da Índia fechará perto de 6% em 2009. Em meio à queda na liquidez global e doméstica, a alta poupança doméstica e corporativa manteve os lucros e financiou o investimento.

Europa

No meio da malaise do Leste Europeu, a Polônia brilha, com crescimento de 0,8% no primeiro trimestre. Em primeiro lugar, por não ter expandido a economia como os vizinhos nem tê-los seguido no desequilíbrio das contas externas. O país tem câmbio flexíveis, juros baixos e garantiu uma linha de 20,5 bilhões de dólares junto ao FMI.

A Noruega pode ser a primeira economia avançada a se recuperar em 2010. O estímulo fiscal de 3% do PIB foi o maior desde os anos 70. O juro caiu de 5,75%, em outubro, para 1,25%.

A França conseguiu evitar a recessão em 2008 e tem as melhores expectativas entre os quatro maiores países da União Europeia em 2009. A seguridade social atuou como estabilizador automático na crise e as medidas fiscais se focaram no curto prazo.

América do Norte

A dependência do Canadá do comércio e dos investimentos americanos sugeriria que sua recuperação depende do vizinho. Entretanto, o setor financeiro consolidado e a demanda doméstica podem contribuir para a retomada em 2010, abaixo do potencial. CartaCapital.

Nenhum comentário: