14/08/2009
Redação CartaCapital
Lê-se na coluna de Merval Pereira, em O Globo, que o pedido de desculpas na tribuna do senador tucano Tasso Jereissati, metido dias antes em um duelo verbal com o colega peemedebista Renan Calheiros, foi mais um gesto do grupo de parlamentares “éticos”, preocupados em recuperar o Senado das mãos da horda de meliantes que o administra. Finda a leitura, era possível até imaginar Jereissati vestido em uma armadura, como Ricardo Coração de Leão, a liderar um exército para salvar Jerusalém dos infiéis.
Merval, como se sabe, é da mesma estirpe do tucano. Jornalista equidistante e imparcial, movido pelas mais nobres intenções, não deve ser confundido como gente como nós, da CartaCapital, sempre prontos a vender a alma ao demônio por qualquer moeda, não é mesmo? Não importa se o colunista de O Globo peque em um fundamento essencial do jornalismo: o apego à verdade factual. Na nossa última edição, que chegou às bancas na sexta-feira 7, o texto de autoria de Cynara Menezes antecipa uma informação a que o resto da mídia só atentaria dias depois: a costura de um acordo entre o PMDB e o PSDB para zerar a contenda no Senado. Salva-se o pescoço de José Sarney, preserva-se o de Arthur Virgílio, cujos pecados seriam suficientes para queimá-lo na fogueira da Comissão de Ética.
Portanto, o gesto “nobre” de Jereissati está mais para aceno a um acordão conveniente a todas as partes. Os leitores de O Globo foram iludidos. Não existem Ricardos e Saladinos neste episódio. Há sim uma luta política corriqueira, grosseira, pautada pelo calendário eleitoral. Jereissati e Calheiros, Virgílio e Sarney são espelhos da institucionalização da política como trapolim para a realização de interesses privados, paroquiais, na melhor das hipóteses. Circunstancialmente, estão em lados contrários no momento. Mas no Brasil, onde o mundo intelectual foi dominado pelo embuste, jornalistas disfarçam seus desejos de análises desapaixonadas sem nenhum pudor.
Por falar em santos e demônios, a tevê imita o Senado. Globo e Record, Jereissati e Calheiros. Tudo a ver.
A rede da família Marinho esbalda-se nas denúncias de lavagem de dinheiro contra os integrantes da Igreja Universal. Acuados pelas transações mal explicadas, Edir Macedo e sua turma apontam as baterias contra a Vênus Platinada. A Globo reprisa os métodos nada ortodoxos de arrecadação ensinados por Macedo. A Record relembra as mazelas da rival, das relações promíscuas com o regime militar às manipulações nos sucessivos governos civis. O pano de fundo é a guerra milimétrica da audiência. Em nome dela, vale tudo. Assim como no Senado, trata-se de uma batalha pelo controle das trevas.
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