domingo, 2 de agosto de 2009

Pronto. Armou-se o impasse no Senado

AS DONZELAS FURADAS


02/08/2009

Por Tales Faria

Nunca antes na história desse país, parafraseando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, se desenhou um impasse tão grande no Senado Federal quanto o que agora se anuncia com a representação que o líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), promete que o partido apresentará contra o líder do PSDB, Arthur Virgílio Netto (AM), no Conselho de Ética.

Houve, sim, um embate até de maiores proporções, quando dois poderosos senadores que se revezaram na presidência da Casa, Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) e Jader Barbalho (PMDB-PA), distribuíram acusações e impropérios em plenário, um contra o outro. Além de fortíssimos no Senado, ambos detinham, na época, o controle de seus partidos. E o DEM não era essa coisinha de hoje em dia. Dividia com PMDB, PSDB e PT, em iguais condições, o poderio no Congresso e na política brasileira. Foi uma grande contenda, mas sem impasses. Guerra aberta mesmo. Que acabou sendo vencida pelo PMDB – então com o apoio velado do PSDB e do Palácio do Planalto, e até uma certa torcida a seu favor do PT – depois que ACM foi pego violando o painel de votações. Mas Jader Barbalho não saiu ileso. Terminada a brigalhada, a imprensa voltou-se contra a origem de seu patrimônio, e o peemedebista acabou tendo também de renunciar ao mandato. Voltou ao Congresso como deputado, mas hoje só detém algum poder no seu estado.

Ali foram duas as acusações – a da violação do painel e a do crescimento patrimonial exagerado – que resultaram em processos no Conselho de Ética, mas que tramitaram em tempos diferentes. Agora, não. As representações contra Sarney tendem a tramitar ao mesmo tempo da tal ação do PMDB contra Virgílio. Isso tende a gerar uma tremenda confusão. O PMDB provavelmente terá o apoio do PT e até do Palácio para alfinetar ou mesmo ferir de morte o senador tucano num processo, mas, no outro, o partido sangrará com as estocadas seguidas da oposição e da imprensa em cima de Renan Calheiros e de Sarney.

– Será ruim para todo mundo. Ninguém ganha com esse tipo de coisa. Um verdadeiro jogo do perde-perde – aponta o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE). Até por ter esta avaliação, ele não consegue acreditar que o cenário de duas ações concomitantes no Conselho de Ética irá se confirmar. Tanto que, na sexta-feira, Guerra (que neste caso poderia ser chamado de Paz) pegou telefone e ligou para Renan Calheiros.

– A mim, pareceu que Renan está disposto a colocar um fim nessa história. Eu expliquei que é preciso um desarmamento geral de espíritos, e ele pareceu concordar – conta o tucano. Mas ao falar com a coluna Renan não se mostrou tão disposto a recuar. Diante da pergunta sobre o que fazer para sair do impasse, respondeu:

– A saída é o voto. As representações contra Sarney são baseadas em notícias de jornal. No caso de Arthur, serão apresentados documentos.
De fato, o PMDB e o PT têm votos suficientes para, se quiserem, deixar em apuros o tucano. Entre as acusações, há situações realmente constrangedoras, como o contrato de cinco pessoas de uma mesma família com pagamentos de horas extras por quatro anos. Ou o empréstimo de dinheiro público obtido junto ao ex-diretor-geral do Senado Agaciel Maia. E o próprio pedido de desculpas de Virgílio, em discurso na tribuna, tecnicamente pode ser visto como uma confissão de quebra de decoro, portanto, motivo para cassação.

Mas, por outro lado, também não são poucas nem tão etéreas assim as acusações contra Sarney, os atos secretos da Mesa Diretora nomeando apadrinhados e aparentados do presidente da Casa, as conversas telefônicas de seu filho, Fernando Sarney, enfim, as hoje incontáveis denúncias que se têm levantado na imprensa.

Renan jura, de pés juntos, que não passa pela cabeça do PMDB nem de Sarney a licença da presidência do Senado. E que Lula e o Palácio do Planalto não recuaram no apoio e, portanto, estão todos prontos para ir até o final na luta. Sérgio Guerra, apesar do gesto de paz de sexta-feira, também diz que seu partido não aceitará a execração de Virgílio.

– Truculência da maioria não é solução nesse caso. Pode paralisar tudo no Senado, criar uma confusão nunca vista – afirma.

E quem conhece os bastidores da política sabe que isto também é verdade. O impasse armado tem potencial para paralisar o Congresso.

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