segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Velhos expedientes, novos interesses

Domingo, 09 de Agosto de 2009

Uma boa análise da conjuntura política e da crise do Senado, pode ser lida na entrevista do cientista político Carlos Melo ao Estado de S. Paulo.

O Sarney não é santo, mas quem pode jogar pedra? O Arthur Virgílio tentou e a pedra voltou na testa dele. A oposição está perdida. Não tem programa, não tem discurso, não tem postura. O PSDB critica o governo federal, mas passa por um problema sério com a governadora Yeda Crusius no Rio Grande do Sul. Faz só críticas moralistas. Devia era pegar as bandeiras das reformas política e eleitoral e se bater por isso. [...]

[...] Sou cético. A história da humanidade mostra que é possível evoluir. Nós já fomos piores do que somos hoje. Mas esse conformismo cínico e pragmático e esse moralismo farisaico me incomodam. O que vemos hoje no Senado é efeito dessa forma de olhar para a política. O Senado era o topo da carreira de um político, ali se discutia em alto nível. Não é mais assim. Tiramos o Sarney de lá e colocamos quem, para promover as transformações que precisamos? Não se trata de derrubar governo. Mas se existisse uma sociedade política, se ela começasse a discutir o País com mais profundidade e começasse a levar isso para fora, poderia dar certo. Enquanto nos Estados Unidos a sociedade disse "Yes, we can!", aqui falaram "Cansei!".

A diferença é que eu ainda confirmo o "Sem medo de ser feliz".

Dizem que é impossível governar sem o PMDB. Eu digo que também é impossível governar com o PMDB. Agora, um presidente com 80% de aprovação popular poderia se envolver mais com as mudanças que o País necessita. No jogo político que está aí é até compreensível que se faça uma aliança ruim para poder governar. Mas não dava para negociar mais caro? Fazer a aliança e ao mesmo tempo arrancar as mudanças? Não precisava entregar de mão beijada. Estamos numa armadilha: precisamos de reformas, mas quem pode fazer é quem se beneficia dos problemas. E eu não vejo no horizonte eleitoral alguém capaz de apresentar novos valores, novas propostas.

Leia a entrevista completa no site do Estado de S. Paulo


Acredito que é possível governar com o PMDB, mas para isso é importante que a base histórica da esquerda precisa ocupar espaços no Parlamento. Precisa eleger uma boa bancada nas duas casas para contrapor a força do PMDB. Não é possível governar sem o PMDB, porque eles têm a maior bancada nas duas casas e uma enorme capilaridade nos médios e pequenos municípios. E conquistaram isso no voto, no jogo democrático. Imperfeito, mas é o que temos.

Por outro lado, essa colocação segundo a qual "um presidente com 80% de aprovação popular poderia se envolver mais com as mudanças que o País", ignora que a Presidência da República tem muita força para mediar políticas econômicas e sociais, mas muito pouca para mediar questões políticas. Ignora também a força da oposição no Senado. Basta ver a composição da casa e a dificuldade de se aprovar qualquer coisa por lá.

O modelo eleitoral construído na Constituição deixou os parlamentares com muitos poderes e poucas responsabilidades. Mudar isso, com os votos dos mais interessados em que tudo permaneça como está, é tarefa complicada.
Leia também, o post Entendendo o fator Sarney no blog do Nassif.
Blog do Alexandre Porto.
Colaboração Nancy Lima.

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