13 de Setembro de 2009
Após a conclusão desta longa viagem (por países da África, Oriente Médio, Ásia e Europa), são muitas as consistentes e valiosas reflexões que dela resultaram e que precisamos aprofundar. Volto à Venezuela mais convencido de que é perfeitamente possível, além de necessário, derrubar a hegemonia política, econômica, cultural e militar que o império ianque pretende impor ao mundo.
Por Hugo Chávez, em Cuba Debate
Noam Chomsky não está errado ao propor radicalmente o grande dilema do nosso tempo: hegemonia ou sobrevivência. Se não derrubarmos a hegemonia imperial, o mundo irá à barbárie.
Não podemos continuar reproduzindo cegamente a lógica miserável que atenta
Contra a ordem ecológica e as condições mínimas de vida em sociedade: uma lógica que
nos arrebata o futuro e pulveriza nossas identidades. É a lógica capitalista, imperial. Somos obrigados a transitar por outros caminhos, sem renunciar aos particulares processos de cada povo.
Diante de tantos propósitos e ciladas que pretendem nos desviar do caminho, temos de criar novas formas de unidade e, simultaneamente, promover as nossas próprias estratégias de resistência. Resistência e capacidade para poder converter o destino em consciência, para citar o escritor francês André Malraux.
Por esta razão, a Venezuela segue e seguirá lutando - com a mesma consciência de sempre – pela criação de um mundo multipolar. No entanto, o mundo multipolar que queremos nós está na curva da esquina.
Esta viagem permitiu-me ver o panorama de forma mais clara.
Quero retomar o que eu disse na Universidade Russa da Amizade dos Povos, em
Moscou: hoje podemos dizer que o mundo não é mais unipolar. Porém, nem se reproduziu uma fase bipolar, nem há indícios concretas na marcha até a formação de quatro ou cinco grandes centros de poder mundial. É evidente, por exemplo, que a estruturação de Nossa América como um bloco único político não é vista no horizonte imediato: não será realiade a curto prazo. O mesmo acontece na África, Ásia e Europa.
O que começou a se tornar visível é um corpo crescente de núcleos geopolíticos sobre o
mapa de um mundo ao qual já poderíamos chamar de Novo Mundo. Este é um mundo multinuclear como uma transição para multipolaridade.
A aceleração dessa transição à multipolaridade dependerá da clareza, vontade e decisão política que se desprenda dos países-núcleo.
As forças que aspiram deixar-nos na retaguarda da história nos queriam dispersos, seguindo o mesmo jogo perverso que bem conhecemos por seus resultados nefastos para a humanidade. No entanto, com esta larga travessia, cruzando fronteiras de três continentes e abrindo o coração libertário ao mundo, nós cumprimos o nosso dever sagrado para aprofundar o pacto entre os povos com os quais temos condição comum, a apostamos nos mesmos desafios eompartilhamos as mesmas esperanças.
Difícil vai ser silenciar este canto plural que está sendo entoado por múltiplas nações, que frente à globalização hegemônica imposta pelo capitalismo começaram a edificar globalizações contra-hegemônicas, e -para colocar nos termos do pensador Português quando Boaventura de Sousa Santos, em seu livro “Uma epistemologia do Sul” - nos propõe a considerar um novo movimento democrático transnacional. Neste sentido, senti no espírito compartilhado entre os povos irmãos da Líbia, Argélia, Síria, Irã, Turquemenistão, Belarus, Rússia e Espanha que, ante a crise global não são suficientes esforços isolados.
As afinidades que encontramos nos países irmãos contribuirão na marcha conjunta.
Além disso, novos e múltiplos acordos que temos assinados são uma prova de que estamos prontos, com todas as forças que nos exigem a história, a crescer mantendo sempre bússola orientada, com inabalável firmeza, até a conquista da felicidade do nosso povo.
Imenso é o compromisso. Imenso também é o nosso empenho para não nos deixarmos tragar pelas forças obscuras que procuram acumular riqueza para uns poucos ao custo da miséria de milhões de seres humanos. Esta assimetria monstruosa e desumana deve ser mudada radicalmente ou não haverá vida para ningém em um futuro não tão distante.
II
Nesta semana que se encerra, se completaram 36 anos da tragédia chilena. Acho que uma das lições a se retirar dela é esta: para o imperialismo e as classes dominantes, o fundamental é preservar o sistema capitalista. O companheiro Salvador Allende foi um
democrata exemplar e ainda assim contra ele e contra seu povo, perpetraram o mais
monstruoso dos crimes, em 11 de setembro de 1973.
Allende foi o grande precursor da mudança de época que a América do Sul está vivendo hoje. Se equivocaram, então, os que disseram que o traçado proposto pela Unidade Popularera errado. O socialismo não significa colapso da democracia e do Estado de Direito, mas pelo contrário, a sua plena realização.
Se completaram também 8 anos de um outro 11 de setembro: o de 2001. Impossível
esquecer que aqueledia começou a mais brutal escalada imperialista. Não há ninguém que não questione a versão oficial - que dera o governo Bush - sobre os trágicos acontecimentos em Nova Iorque. E o mais terrível é que aquele dia foi tomado como pretexto para uma "guerra ao terrorismo", que permitiu ao império atrpelar impunemente povos e soberanias. Deste modo aconteceu no Afeganistão e no Iraque. Há também o apartheid doloroso que padece o povo palestino nas mãos do estado de Israel, como prova de quem são, real e verdadeiramente, os praticantes do terrorismo no mundo (…).
Fonte: As linhas de Chávez, publicadas em Cuba Debate
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