sábado, 12 de setembro de 2009

Delegado que investigou corruptos de Alagoas se filia ao PT de Alagoas


12/09/2009

Seguindo os passos do colega Protógenes Queiroz, que na última segunda-feira (7) se filiou ao PC do B, o delegado da Polícia Federal (PF) José Pinto de Luna assinou a ficha de filiação a um partido político na noite desta sexta-feira (11). Ao invés do partido comunista, Luna optou pelo PT. Em ato festivo em Maceió, o ex-superintendente da Polícia Federal de Alagoas anunciou que deve concorrer a uma vaga no Senado em 2010. A cúpula alagoana do partido manifestou apoio irrestrito à candidatura.

José Pinto de Luna chegou em Alagoas há apenas um ano e nove meses, mas teve uma atuação destacada. Ele ficou conhecido principalmente pela Operação Taturana, deflagrada em dezembro de 2007. Após mais de dois anos de investigação, a PF indiciou dois prefeitos, 14 deputados estaduais e um conselheiro do Tribunal de Contas por suposto envolvimento em um esquema que desviou R$ 300 milhões da Assembleia Legislativa.

No cenário nacional, Luna foi responsável por investigações marcantes para o PT - como a morte do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel e o caso dos dólares na cueca durante a campanha eleitoral de 2006. Na época, José Adalberto Vieira da Silva, que então era dirigente do PT do Ceará e assessor do deputado José Nobre Guimarães (irmão do petista José Genoino), foi flagrado no aeroporto de Congonhas, em São Paulo, com dólares escondidos na cueca e com reais escondidos em uma bolsa. Silva teria recebido US$ 100 mil e mais R$ 200 mil como parte de propina paga pelo consórcio STN (Sistema de Transmissão Nordeste) para se beneficiar de um financiamento do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).

José Pinto de Luna assegura que não vê problemas no histórico profissional de investigações a membros do partido e garante que sempre teve isenção. "Estou tranqüilo quanto a tudo isso, pois nunca sofri pressão de membros do PT ou do governo. Sempre fiz a investigação séria e não vejo problemas com isso", analisou o delegado, ressaltando que, no caso dos dólares na cueca, uma ação civil pública está sendo analisada pela Justiça do Ceará contra o ex-chefe de gabinete do BNB, Kennedy Moura. "Segundo a investigação, foi ele o responsável pela propina", afirmou Luna.

Assediado por vários partidos de esquerda, o delegado afirma que escolheu se filiar ao PT por conta da "identidade que o partido possui". "Sempre votei no Lula e não tenho do que reclamar do governo. Sou prova da imparcialidade desta gestão, já que nunca fui assediado para frear uma investigação. Além do mais, o PT tem uma militância fantástica", alegou.

Além dos dois casos emblemáticos para o PT, Luna também participou das investigações dos sequestros de Patrícia Abravanel e Wellington Camargo, da prisão do juiz Nicolau dos Santos Neto, e da desarticulação do crime organizado no Espírito Santo.

Amigo de Protógenes


Intitulando-se amigo de Protógenes, com quem trabalhou em São Paulo, Luna diz que recebeu uma ligação do colega na última quarta-feira (9). "Temos uma afinidade ideológica e penso que queremos fazer algo bom por este país. Ele me ligou para falar comigo porque ficou surpreso quando soube da filiação", explicou o delegado.

Ao contrário do colega, que segue indeciso sobre o cargo que disputará, Luna afirma que já se decidiu pela disputa ao Senado. "Na Câmara, teria que convencer 512 deputados. No Senado são só 80. Não quero ser mais um. Quero passar minhas ideias e contribuir de forma ativa, por isso minha decisão de concorrer ao cargo. Não aceitaria ser candidato a outra vaga", disse.

Luna afirmou que será um candidato independente e vai trabalhar para conquistar o "voto consciente". "Eu acredito muito no voto consciente, do formador de opinião. Vou trabalhar pelo segundo voto das pessoas. Eu estou oferecendo meu nome para análise", destacou.

O presidente do PT em Alagoas, Ricardo Valença, afirmou que, apesar de um grande ato festivo marcar a filiação de Luna, a candidatura dele ainda terá que ser referendada pela base do partido em 2010. "Temos uma hierarquia, uma história, e precisamos respeitá-la. Mas é intenção do PT ter um candidato ao Senado, ampliar sua bancada de Alagoas. E o nome de Luna une todas as tendências", afirmou Valença, que não possui nenhum deputado federal eleito no Estado.


Para o cientista político Alberto Saldanha, as candidaturas de Luna e Protógenes podem resultar numa aproximação dos partidos com setores da sociedade que estavam distantes do processo político. "Espero que eles sejam construtores de uma nova política partidária, já que são figuras conhecidas pela atuação como agentes públicos com compromisso, sem diferenciar as pessoas na aplicação da lei. Eles terão que entender que, como legisladores, vão se deparar com um universo totalmente diferente, onde a ação individual não mudará a situação brasileira", disse.

Saldanha acredita que o desempenho dos delegados nas urnas é imprevisível, embora aposte em votações expressivas, principalmente pelas escolhas partidárias. "Eles se colocam à esquerda do governo, mas na hora de escolherem os partidos entram no jogo político. O cálculo eleitoral pesou. Com certeza eles pensaram: 'quem tem viabilidade de eleger na esquerda?' Esses partidos são PT e PC do B", analisa o cientista político. Uol.

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