segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Projeto de Serra é pesadelo para 10 mil famílias pobres em SP


14/09/2009



Do site Brasília Confidencial

Aproximadamente 10 mil famílias pobres e, predominantemente, de origem nordestina, estão convivendo em São Paulo com um pesadelo que tem nome e imagens dramáticas. O nome é Projeto Várzeas do Tietê; e as imagens, recorrentes na capital paulista, são das tropas do Governo Serra despejando homens, mulheres e crianças para qualquer lugar.

Serra anunciou o projeto Várzeas do Tietê propagando a formação do maior parque linear do mundo, com obras já iniciadas de ampliação das pistas da Marginal Tietê e a previsão de remover, a partir de 2010, famílias ribeirinhas instaladas há mais de 20 anos no extremo da Zona Leste paulistana e na periferia de Guarulhos. Mas, enquanto o governo fala em remoção, as famílias temem despejo. Porque até agora não há projetos habitacionais que lhes anunciem futuro abrigo.

“Soubemos pela televisão que seremos despejados. Procuramos o governo, mas Serra e seus secretários não recebem pobres. Os comentários são de que vão nos dar R$ 5 mil para que a gente abandone nossas casas. Serra deve achar que esse dinheiro é suficiente para comprarmos passagens de volta para o Nordeste”, disse a Brasília Confidencial o coordenador da Associação Cultura Afro Leste, Osvaldo Ribeiro, um dos líderes comunitários que começam a se mobilizar, junto à Assembleia Legislativa, contra os despejos.

Os moradores avaliam que ocorrerão despejos em áreas de favelas; na hipótese menos brutal, prevêem indenizações baixas até nos bairros regularizados. Eles reivindicam a construção de conjuntos habitacionais, creches, escolas e postos de saúde na região que margeia o Rio Tietê, além de indenizações dignas.

“Serra fala em meio ambiente, mas, pra ele, em meio ambiente não pode ter pobre. Ele fala do parque, mas não fala em moradias para quem vive na área que será o parque”, reclama Osvaldo, cujo pai chegou ao atual bairro do Itaim Paulista na década de 1970, retirante da seca na Bahia.

A ocupação do Itaim Paulista foi semelhante à de outras áreas da capital. Grande parte das moradias e prédios comerciais de diversos bairros foi construída sobre terrenos da Prefeitura, vendida e comprada de forma irregular ao longo dos últimos 20 anos. Muitas famílias têm escrituras e a maioria paga impostos. Mas nem sempre os documentos têm validade legal. Segundo o presidente da Associação Popular dos Moradores do Jardim Piratininga, Jeremias das Neves, tramitam na Prefeitura ações de regularização que beneficiariam cerca de 500 famílias. Neves, de 57 anos, 32 deles vividos nessa vizinhança, foi surpreendido pela notícia da construção do parque linear – e das desapropriações.

“Ninguém conversou nada disso com a gente”, protesta.

É o que repete Cristóvão de Oliveira, líder comunitário da Chácara Três Meninas, na região do Jardim Helena, onde 4.800 pessoas se sentem ameaçadas de despejo.

“Minha casa e a de mais 30 do bairro são regulares. As outras não. Acho que o Serra terá que fazer muitos viadutos para abrigar tantos nordestinos que vieram para cá há muitos anos, ajudar a construir São Paulo”, afirma Cristóvão.

Migrante nordestino, como a maioria dos moradores da região, o feirante Adilson Ferro da Silva esteve na Assembleia na semana passada para protestar e evitar a repetição de um drama que a população da região já enfrentou em outros governos. “Quando foram construir a Rodovia dos Trabalhadores muita gente da Zona Leste ficou desabrigada”, lembrou Adilson.

Nenhum comentário: