quinta-feira, 15 de julho de 2010

Campanha de Dilma traça estratégia para conquistar voto feminino


A campanha de Dilma Rousseff (PT) à Presidência da República desenha uma estratégia para tentar reverter a desvantagem que a ex-ministra da Casa Civil tem nas pesquisas de intenção de voto entre o eleitorado feminino. O esforço é importante, já que dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) indicam que as mulheres são a maioria (51,81%) entre os 134.080.517 eleitores brasileiros.


Segundo a última pesquisa Ibope, feita entre os dias 27 e 30 de junho, o principal adversário de Dilma, José Serra (PSDB), tem vantagem de sete pontos porcentuais (41% a 34%) sobre Dilma no eleitorado feminino. Porém, a mesma pesquisa indica que uma parcela importante das mulheres ainda não conhece a candidata ou não a associa como sendo candidata do presidente Lula, o que significa que há um espaço grande para ser conquistado por Dilma entre as eleitoras.

Discurso de igualdade

Os partidos que sustentam a candidatura da ex-ministra decidiram estabelecer um comitê nacional conjunto com suas lideranças femininas a fim de criar uma agenda de campanha especificamente voltada às mulheres. Dilma também deverá contar com o mesmo tipo de comitê suprapartidário em cada uma das 27 unidades da federação.

Porém, diz a secretária nacional de Mulheres do PT, Laisy Moriére, o discurso será de igualdade. "O discurso será de igualdade entre homens e mulheres no trabalho, na vida cotidiana, na vida profissional e em todos os segmentos da sociedade. [...] Vamos fazer material específico para mostrar para a mulher o porquê de se eleger uma mulher presidenta do Brasil".

Algumas iniciativas já estão em andamento. Segundo Laisy Moriére, em agosto deve ocorrer um evento nacional para aproximar Dilma do público feminino. Em setembro, os comitês estaduais organizarão uma série de passeatas. A candidata deve participar de parte delas, acrescentou a secretária petista.

Segundo o comando da campanha, a candidata vai elucidar mais propostas "ao longo do processo eleitoral" — e o combate à desigualdade entre homens e mulheres permeará todas as políticas públicas de um eventual governo Dilma. "Estamos coletando propostas de outros partidos da coligação", disse o deputado José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP), um dos coordenadores políticos.

As diretrizes do programa de governo de Dilma pregam a necessidade de políticas públicas para "desconstruir a cultura machista e patriarcal que aprofundam a desigualdade e a exclusão social de mulheres". No programa protocolado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a questão da mulher também é abordada em capítulo intitulado Fortalecer o Estado e construir a igualdade para aprofundar a autonomia política, econômica e social das mulheres.

"O terceiro governo do PT deve ter como eixo estruturante do seu programa a construção da igualdade entre mulheres e homens", diz trecho do documento. As propostas pregam o "fortalecimento da Secretaria Especial para as Mulheres" e citam como prioridades a promoção da saúde da mulher, o combate à violência e a ampliação da participação de mulheres em espaços de poder.


Dilma: as meninas na Presidência

A própria Dilma já deu início ao movimento. Tem comparecido a frequentes reuniões com mulheres. Nas ruas, a candidata também tem feito apelo às eleitoras procurando afastar o preconceito. Em caminhada no centro de São Paulo na semana passada, a cor lilás, símbolo da luta feminista, estava por todos os lados e foi a base do tecido de uma faixa com os dizeres "Lugar de mulher é na Política".

Já na convenção que formalizou sua candidatura, painéis, vídeos e discursos tinham como pano de fundo o tema da mulher. Fotos de ícones da história do país foram colocadas no evento com a frase "Elas mudaram o país". A ex-ministra também atua para evitar ser alvo de preconceito do público masculino.

Na terça (13), discursando durante a inauguração de seu comitê nacional, Dilma citou argumentos que teria ouvido de uma eleitora para assegurar que seu governo não seria voltado apenas à parcela feminina do país. "Nós, mulheres, somos 52 por cento. Os outros 48% são nossos filhos, daí porque fica tudo em casa e mulher não discrimina ninguém".

No mesmo evento, um trecho do discurso que chamou atenção do público já havia sido utilizado pela candidata tanto na convenção do PT quanto no site e no Twitter da petista. Trata-se da história do encontro com uma menina chamada Vitória, em um aeroporto que não foi especificado, que perguntou se uma mulher podia ser presidente da República. "Antes, menina não queria saber de ser presidente. Eu mesma quis ser trapezista, bailarina e bombeira. Elas [as meninas] não queriam, não podiam querer. Agora, a partir da minha eleição, as meninas desse país terão os mesmos sonhos que os meninos", disse Dilma.

Vice Michel Temer colabora com estratégia

A campanha governista também pretende usar experiências do vice de Dilma, o presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP). Segundo fonte do PMDB, as propagandas da dupla ressaltarão, por exemplo, que Temer criou a primeira delegacia de defesa da mulher do país quando foi secretário de Segurança do Estado de São Paulo.

Ontem, durante discurso na inauguração do comitê de campanha, Temer afirmou que o público de Brasília era um dos mais animados que já tinha visto e que se orgulha de estar ao lado de Dilma nessa caminhada, assim como as mulheres do Brasil. "O que eu quero dizer a todos é que eu tenho um orgulho extraordinário de partilhar essa campanha com a candidata Dilma Rousseff. As brasileiras estão animadas ao saber que uma mulher será presidente do Brasil", afirmou Temer.

Temer também será o intermediário, pelo PMDB, das propostas do seu partido para o programa de governo de Dilma nos itens que dizem respeito às mulheres. Nesta semana, a presidente do PMDB Mulher, a ex-deputada federal Maria Elvira, reclamou com Temer da ausência de tópicos específicos sobre políticas de gênero e defesa das minorias no documento que o PMDB apresentou à campanha de Dilma com propostas para o programa de governo. "O governo Lula avançou bastante no setor, mas ainda temos que avançar muito na política reprodutiva, na construção de creches, na educação", opina Maria Elvira. Para o PMDB Mulher, os temas que devem merecer a atenção da candidata petista são violência familiar, habitação e saúde da mulher. Continue lendo

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