Carlos Chagas
Uma pergunta não quer calar: por que a grande imprensa demonstra tamanha má vontade com a candidatura Dilma Rousseff? Do Globo à Folha e ao Estadão, sem esquecer a Veja, sucedem-se manchetes e textos sempre cáusticos para a candidata. Lógico que notícia é notícia, seria impossível omitir denúncias como a da quebra do sigilo fiscal de tucanos ou observações sobre as escorregadelas de Dilma a respeito de números exagerados ou estatísticas duvidosas. Da mesma forma, não há como deixar de lembrar os leitores de faltar a ela experiência política, ou até de que só disputa o palácio do Planalto por imposição do presidente Lula.
Mesmo assim, não há quem deixe de notar o exagero. Os jornalões se dizem isentos, não fazem como o New York Times, que em todas as eleições americanas adota nos seus editoriais posição em favor de um candidato, ainda que procure limitar o noticiário aos fatos de campanha. Os nossos proclamam não tomar partido, mas tomam.
A indagação inicial fica mais profunda quando se atenta para que, exprimindo a opinião das elites, nossa grande imprensa não ignora a lua-de-mel permanente entre elas e o presidente Lula. Afinal, mantendo a política econômica de Fernando Henrique, o primeiro-companheiro vem fazendo a felicidade dos bancos, da grande indústria, das multinacionais e dos especuladores.
Estaria a má-vontade midiática na hipótese de a criatura desligar-se do criador, depois de empossada, assustando o sistema tão bem aquinhoado nos últimos oito anos? É possível. Afinal, com suas virtudes e seus defeitos, Dilma Rousseff tem demonstrado personalidade. Fidelíssima ao presidente Lula, nem por isso poderá imaginar seu mandato como um vídeotape do atual.
Cautelosa até demais em suas afirmações de candidata, mantém os conceitos do chefe em gênero, número e grau, a ponto de insurgir-se contra o imposto sobre grandes fortunas e a redução da jornada de trabalho. Mas tem avançado na necessidade de o estado permanecer como fator essencial na distribuição de renda e na condução da política econômica. Jamais admitiu a falácia elitista de que todos devem pagar imposto para que todos paguem menos, eufemismo para fazer os pobres, que não pagam, dividirem com os ricos a diferença capaz de favorecer-lhes.
Em suma, pelo jeito, estão com medo da Dilma, cujo temperamento parece bastante diferente do Lula. Em especial se for verdade o boato de que para cortar gastos públicos, ela limitará a orgia publicitária das estatais como Petrobrás, Banco do Brasil, Caixa Econômica e penduricalhos.
Padrinho rejeitado
Ninguém ignora que José Serra mandou Fernando Henrique para escanteio. Rejeitou a presença constante do ex-presidente em sua campanha e até declarou que personalidades antes no exercício do poder ficam acima de participação em futuros governos. Devem ser reverenciadas, jamais integradas.
É claro que o sociólogo não gostou. Remoeu-se a ponto de jogar farpas na campanha do companheiro tucano. Mandou-se para a Alemanha, de onde já voltou, e cuida de suas palestras.
Ressente-se, porém, o seu ego monumental. Até com certa razão, porque derrotou o Lula duas vezes, enquanto Serra perdeu uma e parece em vias de reconhecer a vitória de Dilma Rousseff.
Esta semana, na propaganda gratuita pelo rádio e a televisão, o candidato tucano tem repetido ser um candidato sem padrinho, referência óbvia à adversária. Dificilmente lamentará não ter escolhido Fernando Henrique para batizá-lo. Mas bem que a convocação de Aécio Neves ajudaria, mesmo mais moço.
Outra declaração discutível de José Serra, em seu afã de bater em Lula, tem sido de que “não ameaça a imprensa, não persegue jornalistas e nem quebrou o sigilo de ninguém”. Noves fora a terceira negativa, há controvérsias quanto às duas primeiras.
Enviado pelo amigo Aldo
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