terça-feira, 2 de novembro de 2010

Analista vê PSDB caminhar para a direita


Para especialista, Aécio não tem espaço para ser líder no PSDB e Serra terá um caminho difícil porque cargos seriam humilhantes

Por: Suzana Vier, Rede Brasil Atual


São Paulo - O PSDB deve assumir-se como partido de direita depois de perder a corrida presidencial com o ex-governador de Sâo Paulo, José Serra, segundo o professor da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG), Roberto Veras, em entrevista à Rede Brasil Atual. Para ele, Aécio Neves terá de enfrentar os tucanos paulistas e é possível até que ele deixe o partido. Serra tem poucas chances dentro do PSDB de São Paulo, diante das pretensões de Geraldo Alckmin, governador eleito dos paulistas.

Veras acredita que, após a campanha eleitoral, o PSDB vai se reestruturar para sua nova condição de "desaguadouro" de segmentos de extrema direita. "O Serra fez esse papel. Acolheu essas possibilidades. Ontem, no discurso, (ele) deixa nas entrelinhas que vai continuar reforçando essa perspectiva", situa. E embora esteja fragilizado com a segunda derrota para a Presidência diante de candidatos do PT, os tucanos ganham fôlego com a eleição de oito governadores, o partido que mais elegeu governadores.

Nesse cenário, o PSDB se tornaria um partido mais à direita, reunindo forças políticas, sociais e religiosas consideradas adormecidas desde o fim da ditadura militar. "No discurso depois da derrota, Serra manteve o tom agressivo, como se continuasse no palanque", analisa o pesquisador. "Certos segmentos vão assumir isso como condição de expressão de uma direita, junto com segmentos de classe média, que estão com muito ódio do que acontece no Brasil", descreve.

O sociólogo afirma que convive, a partir de agora no PSDB, uma convergência entre política neoliberal e fascismo. "A política neoliberal dos anos 1990, defendendo privatização abertamente, eixo no ajuste fiscal, reforma do Estado não se sustenta mais politicamente", resume. "Como o neoliberalismo no final do século passado sucumbiu com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, ou (o PSDB) mobiliza um discurso de ultradireita que fala de aborto, religião, demônio ou não tem como mobilizar o povo e se legitimar. É disso que resulta a convergência entre neoliberalismo e fascismo", aponta o sociólogo.

A nova direita que se aproximou do PSDB seria movida, na visão de Veras, pelo preconceito de classes. "Eles estão mobilizados pelo preconceito contra Lula, agora contra a mulher, contra tudo que significa algum tipo de avanço social, moral, ético, político no Brasil", alerta. Segundo o pesquisador, esse segmento encontrou, no ninho tucano, "uma expressão explícita de suas posições que estavam nas sombras".

Para lidar com a reestruturação da direita, Veras avisa que a própria esquerda precisa se reorganizar e recuperar um discurso um pouco mais articulado. Ele considera emblemática a manifestação do cantor e compositor Chico Buarque no Rio de Janeiro, em outubro, bem como os manifestos de professores, artistas, e intelectuais. "É gente se mobilizando e mostrando o que (a esquerda) precisa defender", pontua.

Desgaste


José Serra deve enfrentar dias desgastantes, suscita Veras. Como ele já passou pela prefeitura de São Paulo e deixou o cargo para assumir o governo do estado, do qual se afastou para ser candidato à Presidência, seria "humilhante" voltar a disputar desses mesmos postos. O mesmo valeria para secretarias do governo paulista. "(Aceitar) qualquer cargo seria humilhante. Todas as saídas que ele tentar serão desgastantes", diz. A melhor alternativa a Serra seria se manter como quadro médio na oposição, "mas não mais de ponta". No melhor cenário, ele poderia pleitear uma vaga ao Senado daqui quatro anos.

Apesar disso, Veras aposta que Serra voltará a ser candidato à Presidência. "Ele sugeriu ontem (31/10) que vai continuar e é só o começo. Serra é muito orgulhoso para abrir mão da possibilidade de ser presidente ainda. Ele vai tentar mas vai ser muito difícil. Em São Paulo ele tem o Alckmin que não vai dar moleza pra ele", conjectura. "Aqueles abraços de ontem acabaram. O PSDB é especialista em afagos em público. Mas (vive) uma guerra desenfreada por dentro", cita o sociólogo.

Um exemplo dessa briga, foi a manifestação do coordenador de campanha de Serra, Xico Graziano. Pelo Twitter, ele ironizou a derrota em Minas. "Perdemos feio em Minas Gerais. Por que será!?" Coube ao presidente nacional do PSDB, Sergio Guerra, sair em defesa de Aécio sobre uma suposta traição. "Ele não tem autorização do partido para falar uma coisa dessas e está completamente equivocado", garantiu Guerra, em entrevista à Rádio CBN.

A figura do senador eleito Aécio Neves é vista por Veras como um líder da oposição que ambiciona a vaga de candidato à Presidência. Mas isso pode ser um problema para o ex-governador mineiro. "A dificuldade é articular o PSDB de Minas e o de São Paulo. É difícil Aécio ficar com as pretensões que ele tem", diz. Outro ponto nevrálgico do mineiro são as revelações sobre o dossiê contra Serra, que poderia ter origem em tucanos de Minas Gerais.

2 comentários:

Paulo Morani disse...

Terror, tem um dado importante, os governadores eleitos do PSDB não são necessariamente de direita como serra. E, dependendo de como o PT se posicionar diante deles, pode trazê-los para o lado de cá, o nosso lado. Vamos dar tempo ao tempo.

Frann disse...

PERFUME POLITICO DO PATRÃO.
O eleitor da classe pobre que mora pelo interior de São Paulo tem que aprender a escolher.Quando vamos comprar um perfume,escolhemos aquele que mais nos agrada,sem a intromissão de ninguém.Ao contrário,quando chega a eleição essa gente pobre e assalariada perde o raciocínio e aceita o 'perfume político' imposto pelo patrão rico.Nessa hora o trabalhador perde a noção do que está fazendo de ruim prá si próprio.O interesse de classe social se sobrepõe perante a necessidade do povão.Quando o povão vai perceber é tarde demais!
Outro tipo de eleitor do Serra.O 'bacana' que põe a mulher num carro e lá vai,com motorista particular se tratar com os médicos de Sorocaba,São Paulo.
Esse é o cara,eleitor do Serra!
Os pés duros que precisam de hospital maternidade vão na conversa do 'bacana' e pensam que são iguais.!Pensam que terão poder ao seguirem o voto do 'bacana'.O povinho de pés no chão um dia vai acordar prá realidade.
Pobre povo do interior de São Paulo que não se enxerga!