sábado, 4 de agosto de 2012

Mensalão é um show da mídia


Por Marino Boeira
 
Está no ar, ao vivo e a cores, o novo show da mídia brasileira destinado a desestabilizar o projeto de governo do PT, há três eleições referendado pelo povo brasileiro e que hoje tem o apoio inédito da maioria da população, conforme comprovam todas as pesquisas. O chamado “mensalação” e sua ampla cobertura pelos meios de comunicação, é acima de tudo um esforço para preparar a candidatura do PSDB , seja ela com o nome de Serra ou de Aécio, para as eleições de 2014.
 
A corrupção de agentes políticos por grupos empresariais interessados em contratos de obras públicas é recorrente na história do País. A cobertura dada pela imprensa é que é diferente. A compra de votos no Congresso, que permitiu a mudança na Constituição e a reeleição de Fernando Henrique Cardoso , passou quase batida pelas páginas dos grandes jornais brasileiros e pela televisão. Mas, quando surge a oportunidade de transformar a ação de alguns políticos corruptos da atual base governista em uma prática estimulada e controlada pelo próprio governo, a mídia afia suas garras com toda a força.
 
Ninguém é ingênuo para não saber que ao basear seu governo em acordos com partidos fisiológicos, como é o caso do PTB e do PR,o ex-presidente Lula e sua sucessora, a presidenta Dilma, teriam que retribuir os votos desses partidos com alguns favores que ficam, como disse, na época da privatização das teles, um ministro de FHC , nos limites de uma postura ética.

A opção é não governar. É não realizar as políticas de atendimento social que nos últimos 10 anos consolidaram a economia brasileira e retiraram da miséria milhões de pessoas. Mas, é exatamente contra a continuidade dessas políticas que se colocam os interesses contrariados dos grandes grupos internacionais, que têm no PSDB a sua bandeira política e na mídia os seus defensores mais exacerbados.
 
Enquanto isso, o chamado “mensalação mineiro”, que envolve o financiamento ilegal da campanha do ex-governador de Minas Gerais e atual senador, Eduardo Azeredo, do PSDB, através do publicitário Marcos Valério, em 1998, permanece até hoje na pauta, mas sem data para julgamento, no STF. Obviamente, é um assunto que não desperta maior interesse da mídia.

Esse procedimento não é novo na história do Brasil e a mantra da corrupção governamental é sempre entoada. Em 1954, a política nacionalista de Getúlio Vargas precisava ser desmontada a qualquer custo. A desculpa foi acabar com o “mar de lama que corria nos porões do Palácio do Catete”, a sede do governo no Rio de Janeiro. Com menos recursos de mídia como temos hoje, mas com o brilhantismo que não existe mais de um jornalista e político como Carlos Lacerda, Getúlio foi levado ao suicídio para não sair preso e desonrado do Catete. A sua dramática morte impediu a consumação do golpe, que voltou a ser tentado, agora com sucesso, contra João Goulart em 1964. Os personagens ainda eram os mesmos, como Carlos Lacerda e alguns generais, e a pauta para a imprensa quase igual: Jango pretendia instalar uma “república sindicalista”, com o apoio de “corruptos e subversivos”. É claro, que o motivo, como hoje, era outro. O governo ameaçava às classes dominantes com a possibilidade de fazer algumas das chamadas “reformas de base”, principalmente a agrária.
 
Agora está montado um novo o show da mídia comprometida com o anti-petismo. O resultado do julgamento será comemorado pela mídia seja qual ele for. Caso o Supremo condene a maioria dos implicados, principalmente os políticos mais ligados ao PT, como José Dirceu e Delúbio Soares, estará comprovada a corrupção no âmago do partido. Se não houver condenações em massa, o fato servirá para ampliar junto à população o sentimento de descrédito em todas as instituições republicanas. Com isso, abre-se o caminho para a retomada daquele velho discurso em favor da ordem e progresso que tanto agrada aos militares.

Marino Boeira é professor universitário

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