quinta-feira, 25 de março de 2010

Marina, Ciro, Serra e o capital



Regina Abrahão *


Divulgadas as últimas pesquisas eleitorais aparecem como resultado a calma e regular ascensão de Dilma nas pesquisas, e a queda, mesmo que discreta, do candidato tucano, Serra. Mas a mídia continua apresentando Serra como o presidente praticamente eleito. Segundo ela, todas as alternativas são mais viáveis que Dilma. Ou ao menos mais confiáveis. É que a direita está se vendo, como dizemos, por aqui, no mato sem cachorro, com um candidato sem carisma, incapaz de decolar, que se enfraquece dia-a-dia e sem um vice-presidente, capaz de lhe dar sustentação.

Óbvio que não podemos subestimar a capacidade de investimento do capital em seus candidatos. Não faltarão recursos para a campanha tucana, nem pretensos escândalos produzidos sob medida para impressionar os telespectadores. Achar um vice neste momento pode ser trabalhoso, mas totalmente previsível. O apoio explícito da mídia à candidatura Serra, porém, não priva de exposição outros candidatos afins. O papel cumprido por Heloísa Helena em 2006 hoje está com Marina. Mas como se configurou desde sua saída do PT, a candidatura Marina Silva faz água desde o lançamento. A despeito do discurso ambientalista, seu antigo carisma desvanece. A debandada ambientalista dentro do PT não foi do tamanho esperado.

Como boa ecologista, abraça e conduz para o processo eleitoral uma verdadeira arca de Noé: trotskistas, ecossocialistas, burgoecologistas (será que ela se livrou da candidata carioca cujo marido está sendo processado por desmatamento de milhares de hectares no Amazonas?), descontentes em geral. No Rio, seus pares dividirão palanque com Serra. Aliás, como fica a dita combativa e estóica Heloísa Helena neste caso? Dá o que pensar. Ou não. Mas Marina ainda é útil, tanto como Heloísa. Podem bater no governo Lula com o discurso esquerdista que pode convencer algum incauto. Mas é só.

Ciro Gomes, aliado de primeira hora do Governo Lula poderia seguramente ter sido a única alternativa para fazer estragos nas candidaturas de direita que apareçam por São Paulo. Sua rebeldia pode ter alimentado ainda mais a intolerância petista, afastado outros aliados, mas ainda assim, aparadas as arestas e resolvido o mau-estar causado, pode cumprir o fundamental papel de ganhar o governo de São Paulo e resgatar no estado a barbárie instalada depois da passagem dos furacões neoliberais. Tem discurso e intervenção diferentes dos outros possíveis candidatos. Ciro tem carisma, qualidades e condições. Falta ajustar seu discurso e posição. Ele é talhado para cumprir a tarefa de reerguer um estado que despeja seus moradores de rua das cidades do interior na capital, onde nem sequer podem dormir embaixo dos viadutos, todos gradeados.

O estado mais rico do país não tem programas sociais para seus (provavelmente mais) 15 mil moradores de rua. Nem para saúde, nem educação. Ali o neoliberalismo vendeu patrimônio público, institucionalizou uma polícia truculenta, um Estado de estrutura anacrônica. São Paulo se assemelha, e muito, à idéia que nos é passada da Idade Média: Proteger a cidadela contra as hordas de miseráveis que ameaçam a ordem estabelecida por poucos e para poucos. São Paulo, na verdade, é quase isto: Arrecadar e reprimir. E arrecadar para os amigos do rei. Danem-se os outros. São Paulo é uma prévia do Brasil caso se concretize funesta possibilidade de vitória de Serra.

Então assim está a oposição. Em termos, pois Ciro não se enquadra em oposição. Os verdes, os psóis, os éticos pela ética própria, os outros que aparecerem como os diferentes(e aparecem sempre), estão todos no mesmo campo: O rio só tem dois lados, e de um lado está o projeto neoliberal que, ou assumidamente defende o capital e sua doutrina, ou se perde no discurso do esquerdismo improdutivo e raivoso dos que não se satisfazem com nada do possível. E do outro lado, o projeto popular com falhas, defeitos, mas perfeitamente palpável e coerente: Este governo tem a cara do povo brasileiro. E seu altíssimo grau de aprovação, a diminuição da miséria, a melhoria das condições de vida mostram o acerto desta opção. O povo não é bobo. O povo sabe.

Sabe este povo que estuda pelo Pró-une, ou que hoje tem luz em casa. Brasileiro que se lembra do tempo em que crédito e conta bancária eram coisas para poucos, estes sabem. Trabalhadores que constroem barragens, estradas, pontes, via PAC, e que hoje tem trabalho. Ou que labutam na construção civil fazendo casas e podem comprar uma delas pelo programa habitacional, estes sabem. O povo que esperava uma crise arrasadora, e para desespero da mídia e da direita, viu passar a marolinha. E esta divisão de campos é o que enlouquece a direita, porque confronta explicitamente os dois projetos nacionais. Estes sabem: A nau tucana está indo, devagarito, a pique. Por isto alguns reclamam que a eleição não pode ser plebiscitária, buscam as ‘terceiras vias’, querem tirar do pleito de 1010 o caráter classista que ele possui.

Quando FHC fala de seu governo e do governo Lula e não tem o que dizer. Por isto não quer comparar. Nem o apoio irrestrito da mídia golpista e seus estratagemas, os pseudo-escândalos produzidos (e que deverão proliferar), nem tucaninhos de bico verde construindo palanques consertam o que não tem conserto. E olhem que a campanha, de fato, ainda nem começou.Mas não podemos entrar em campo de salto alto, dizem técnicos de futebol de várzea. Não podemos subestimar a direita, não podemos esquecer que aos banqueiros internacionais, à diplomacia neoliberal engasgada com as ações de Lula, não interessa a continuidade deste projeto. Não interessa nem um pouco a eleição de Dilma.

Que Serra parece cusco (cachorro) que caiu da mudança, ninguém duvida. Mas que logo, logo, alguém aparece para lhe dar rumo, também todos sabemos. A direita que reclame que o projeto é plebiscitário, que fale mal dos candidatos, que se esfolie fazendo seu papel. A nós cabe explorar a incompetência neoliberal e mostrar o Brasil de hoje e de oito anos atrás. Esta é a língua que a população entende, porque sente na pele o que é ser brasileiro num Brasil dirigido por brasileiros e para brasileiros. Não tem nem comparação. É questão de lado. É questão de classe

* Funcionária pública, direigente municipal do PCdoB de Porto Alegre, estudante de ciências sociais da UFRGS. Dirigente da Semapi


Fonte:Portal Vermelho

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