domingo, 16 de novembro de 2008

ESQUEÇA TUDO QUE FALEI DE VOCÊ

A aposta de Lúcia e Demóstenes


Anapaula Hoekveld

As articulações para as eleições de 2010 estão a todo vapor. E as especulações tomam proporções cada vez maiores: as discussões não tratam apenas dos possíveis candidatos ao governo, mas abrangem as quatro vagas majoritárias que serão disputadas daqui a dois anos. O cargo de vice-governador está atrelado à escolha do candidato ao governo do Estado. E o de senador? Quem são os potenciais candidatos às duas vagas ao Senado Federal? Alguns nomes já são citados e a disputa promete ser acirrada.

Os atuais senadores, Demóstenes Torres (DEM) e Lúcia Vânia (PSDB), admitem a disposição em brigar pela reeleição. Para isso, ambos apostam no nome do também senador Marconi Perillo (PSDB) para a disputa do governo estadual. Tanto Lúcia quanto Demóstenes vêem na postulação do líder tucano a chance de manter-se no poder e fazem questão de demonstrar isso, sobretudo nos últimos meses. O curioso é que a relação entre os parlamentares e o ex-governador sempre foi conturbada. Com o início das articulações e a proximidade do pleito é que as coisas estão mudando.

Demóstenes Torres era grande aliado de Marconi, mas os dois se desentenderam e chegaram a romper relações. Houve até um episódio em que o democrata sofreu um atentado e culpou indiretamente Marconi, em meados de 2005. A briga entre os dois foi séria. Em 2006, quando Demóstenes disputou o governo e Marconi era candidato a senador, o democrata chegou a chamar o tucano de "bandido" e disse que havia deixado de ser aliado dele porque tinha "evoluído". Em resposta, Marconi afirmou aos jornais que Demóstenes era uma pessoa "leviana e desprovia de caráter".

A troca de farpas entre os dois era constante. Era. Agora o relacionamento entre eles é, no mínimo, amistoso. Com visibilidade na mídia nacional, mas sem bases consolidadas no interior, Demóstenes percebeu que precisava se reaproximar de seu colega de bancada e do governador Alcides Rodrigues para tentar se viabilizar. E assim tem feito. As desavenças entre eles parecem ter ficado no passado. A vontade de permanecer no poder fala mais alto a ambos. Com projeto de disputar o governo, a reaproximação também é fundamental para Marconi. Ou seja, interessa a ambos.

No caso de Lúcia Vânia, a situação é bem semelhante. Com temperamento forte e sem poupar críticas a Marconi, a senadora acumulou muitas arestas no partido, formado à imagem e semelhança de Marconi. Agora ela também mudou de posição: em vez de críticas, tece elogios rasgados ao colega senador, como ocorreu no último encontro do PSDB, realizado em Goiânia, no dia 8. E a recíproca é verdadeira: Marconi está igualmente caprichando nos elogios a ela - afinal, para ele união é fundamental. A mudança de comportamento tem justificativa: fortalecendo Marconi, Lúcia se fortalece, uma vez que deixa de ser alvo dos marconistas de plantão.

A prova de que a estratégia tem surtido efeito são as declarações de tucanos ligados ao ex-governador exaltando o trabalho desenvolvido por Lúcia no Congresso Nacional. "A Lúcia é hoje uma candidata natural pelo trabalho realizado nos últimos anos. O trabalho dela é maior que o PSDB. Nessas eleições ela ajudou a eleger muita gente, e apoiou muitos candidatos. Assim, ela ajudou a fortalecer o partido em muitos municípios e se fortaleceu também", afirma Carlos Alberto Leréia, ponderando que, apesar disso, todos devem passar pelo crivo das convenções partidárias.

Com ou sem o apoio declarado de Marconi, o fato é que Lúcia e Demóstenes não terão vida fácil e vão ter de trabalhar muito para conseguir a candidatura à reeleição. Enquanto a tucana aposta no trabalho desenvolvido com os prefeitos no interior do Estado, o democrata acredita que seu ponto forte é a visibilidade conquistada ao longo de seis anos de mandato.

Outros nomes

A disputa ao Senado entre os partidos da base aliada do governo estadual já é acirrada, quando se considera apenas a perspectiva de poder de Lúcia Vânia e Demóstenes Torres. E a situação fica ainda mais complicada quando se leva em consideração outros nomes dispostos a entrar nessa briga. Além dos senadores, outras lideranças vêem no Senado a possibilidade de alçar vôos mais altos na carreira política.

Esse é o caso dos deputados federais Leonardo Vilela (PSDB), Carlos Alberto Leréia (PSDB), Jovair Arantes (PTB), Roberto Balestra (PP) e do ex-deputado Vilmar Rocha (DEM). Essas lideranças querem fazer parte do seleto grupo de senadores goianos, mas a viabilidade de cada uma delas vai depender da composição partidária, das alianças firmadas pelos seus partidos, para o pleito de 2010.

Em caso de união da base para as eleições estaduais a chance das vagas ao Senado serem negociadas com aliados é grande. Se Marconi for mesmo o candidato, a tendência atual, as vagas devem ser usadas como objeto de barganha para o apoio de outros partidos à candidatura do tucano. Nesse cenário de união em prol da candidatura marconista, quem leva desvantagem é a senadora Lúcia Vânia e os tucanos Leréia e Leonardo Vilela.

Ciente disso é que a parlamentar mudou seu comportamento dentro do partido. Lúcia sabe que uma ampla aliança decorre de muitas cessões. E sabe também que destoando do partido ela teria mais chances de ser preterida, apesar de todo o trabalho realizado ao longo dos últimos anos. Como maior partido da base, no entanto, é provável que o PSDB indique além do candidato a governador, um nome ao Senado. E aí, dentre os tucanos, a senadora aparece numa situação mais confortável.

Até porque Leréia e Leonardo se colocaram à disposição, mas sem fazer trabalho tão ofensivo quanto o da senadora - além de serem muito próximos de Marconi, não acrescentam apoio por já serem aliados de primeira hora. Enquanto Lúcia Vânia diz com todas as letras que quer tentar a reeleição, e trabalha fortalecendo suas bases no interior, os dois deputados apenas se colocam como alternativa ao partido, e se dizem dependentes da vontade do ex-governador tucano.

"Estou preparado para o desafio. Meu projeto é me candidatar à reeleição, mas eu delego o poder de articulação ao Marconi. Ele está liberado para fazer os acertos que forem melhores ao partido, tanto para a vaga de vice-governador quanto para o Senado. Ele terá total liberdade para definir nomes", defende Leréia.

Já o presidente regional do PSDB, Leonardo Vilela, faz questão de frisar que, antes de qualquer coisa, é preciso fortalecer o partido e construir uma sólida aliança para 2010. Em entrevista à Tribuna, o deputado afirmou que está trabalhando muito para unir a legenda e que tem feito reuniões periódicas com a bancada federal para discutir as estratégias para o pleito estadual.

"No momento em que une as suas lideranças principais, o partido cria um clima de harmonia e faz com que esse clima seja transmitido a toda a base. O momento é de conversar muito, de dar apoio aos prefeitos da base aliada, de aparar alguma aresta que exista, de conversar sobre projetos para Goiás", afirma Leonardo. O deputado também ressaltou a mudança de atitude de Lúcia Vânia, que, segundo ele, tem afinado seu discurso com o partido e participado de todas as reuniões do PSDB de forma pró-ativa.
Fonte:Tribuna do Planalto.

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