sexta-feira, 14 de novembro de 2008

FECHANDO COM CHAVE DE OURO



Depois daquele beijo

Nirlando Beirão


Tanto zunzunzum a propósito do beija-não-beija entre dois galalaus, naquelas reiteradas novelas da Glória Perez e do Aguinaldo Silva que prometem, prometem e não cumprem – e olha só que cena mais explícita acabou sendo protagonizada, no CQC desta segunda-feira 10, durante aquilo que parecia ser apenas uma entrevista. Azar da Globo. Demorou, remanchou e mais uma vez perdeu a chance de ser vanguarda.

O tabu rolou por terra na Band, quando o publicitário Nizan Guanaes tascou mais do que um mero selinho no repórter Felipe Cortez, que o, hum, encurralou no Claro Rio Summer, para o programa pilotado pelo Marcelo Tas. Seja qual for a sua leitura do episódio, que foi lindo, foi. O repórter especialista em encabular ficou encabulado. Mas numa relação a dois tem sempre um que é mais discreto, menos efusivo, né não?

Pode ser que o clima fashion tenha a ver com a, digamos, situação, mas há que se elogiar o destemor do publicitário de encarar de frente a questão. Na minha Bahia, essas coisas são mais simples, deve ter pensando Nizan. Depois daquele beijo, a TV pode, enfim, relaxar – e, se possível, algo mais. A bitoca está liberada. Precisou que fossem dois héteros – é o que se diz – para derrotar o preconceito.

Esta coluna sabe que, desde a recente eleição, não cai bem comentar a vida sexual das pessoas – a menos, naturalmente, que elas sejam nossas adversárias na política.

Nesse quesito intimidade, o Brasil ficou, à maneira dos americanos, civilizado: Don’t ask, don’t tell (Não pergunte, não diga). O que tem a ver com a política o que os políticos fazem sob os lençóis?

O CQC é uma hilariante máquina de humilhar políticos. Eles são, de fato, alvo óbvio. A fama dos políticos é péssima e estão sempre ávidos por um microfone. Qualquer cidadão tem acesso ao Congresso Nacional, o que torna a missão do repórter-carrasco bem mais fácil. Desmoralizar as loiras da tevê também não é das tarefas mais espinhosas. Nem treinadores de futebol.

Mas essa vertente do Pânico do teleentretenimento se mantém à judiciosa distância, por exemplo, dos militares da ativa e dos magistrados do Supremo – por mais ridículos que sejam seus respectivos ritos e suas respectivas vestimentas. Por que não alfinetar, com aquela mesma perspicácia inteligente que atormenta os congresssitas, o exibicionismo togado, pastoso, doutoral, do ministro Gilmar Mendes?

O CQC se arrisca, mas ninguém ali é louco. Se é prudência ou se é covardia, aí já é questão séria demais para se tratar com humoristas.
CartaCapital

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