quinta-feira, 9 de abril de 2009

Luz no fim do túnel



Nouriel Roubini

O ritmo da contração da economia dos Estados Unidos vai desacelerar. Do tombo de 6% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado no primeiro trimestre deste ano, o fechamento de 2009 apresentará uma queda de 2%. O crescimento será tão pequeno, abaixo de 1% em 2010, com a taxa de desemprego em 10%, que tecnicamente o país já terá superado a recessão, mas o ambiente será de estagnação.

Na comparação com o consenso altista, que prevê aumento do PIB de 2% no terceiro e quarto trimestres deste ano, e o retorno ao crescimento potencial em 2010, minha análise é mais pessimista do que os economistas do mainstream. A queda de 2% do PIB no fim de 2009 é minha estimativa tanto para os EUA como para o restante do mundo. É uma pequena melhora, pois teremos então vivido uma séria recessão no formato de U e uma recuperação tênue em 2010.

Reza a lenda que o mercado acionário sempre antecipa o futuro. Nos últimos dezoito meses, tivemos seis fortes movimentos de baixa e os altistas sempre alardeavam que o início da recuperação estava próximo. Eles estavam totalmente errados, porque novas mínimas foram atingidas nas bolsas de valores. Como sempre fui considerado o Senhor Catástrofe, serei o primeiro a apontar que o fundo do poço só será atingido quando dados indicarem uma recuperação econômica sustentável e robusta.

A recessão ainda tem tons trágicos. Na Zona do Euro e no Japão, não há evidência de indicadores positivos. Nos EUA e na China, os dados estão bastante fracos. A ideia de que os preços das ações se comportam com base nas expectativas do que acontecerá em seis a nove meses é incorreta. Primeiro, já observamos seis fortes movimentos de baixa, sem indícios de que terão chegado a um fim. Em segundo lugar, um exemplo histórico. Em 2001, a recessão terminou em novembro, mas as ações continuaram a cair por mais dezesseis meses, até março de 2003, porque as empresas não conseguiram recuperar suas margens e as falências ainda aconteciam.

Desta vez, estimo que o espaço de tempo entre o fim da recessão e a recuperação do mercado acionário levará ao menos 24 meses. Isso porque as forças deflacionárias não são apenas americanas e japonesas, mas globais. O poder de as companhias recuperarem os preços, e os lucros, está debilitado. Vivemos a pior crise financeira desde a Grande Depressão e, em 2001, havia apenas uma crise bancária.

Passamos por uma recessão no mercado imobiliário e os preços das moradias devem cair outros 15% a 20%, culminando com uma queda acumulada de 40% a 45%. Os calotes dos bônus corporativos devem atingir o pico de 20%, ante 13% da mais recente recessão.

O risco de uma depressão forte no formato de L é menor agora do que há três meses. Isso porque os formuladores americanos de políticas econômicas finalmente entenderam a seriedade do cenário, sacaram todas as armas – bazucas, mísseis e artilharia – e passaram a usá-las de forma mais agressiva e correta.

Essas medidas incluíram o acentuado afrouxamento monetário, com políticas de juro zero, e ações monetárias e creditícias não convencionais. Também houve estímulos fiscais, embora em alguns casos ainda insuficientes, medidas para restabelecer o crescimento do crédito, para limpar os ativos tóxicos dos bancos, para recapitalizar as instituições financeiras e assumir o controle das insolventes.

Isso sem contar as iniciativas para reduzir o tsunami dos devedores de hipotecas, que não conseguiam honrar nem o juro nem o principal das dívidas de suas moradias. Além disso, houve políticas para apoiar as economias emergentes em estresse e um aparato regulatório apropriado para restaurar o crédito e a liquidez no mercado financeiro. Todas essas iniciativas não vão restaurar o crescimento nas economias avançadas até 2010. Como previ, vão reduzir a taxa de contração da economia para um ritmo mais moderado até o fim deste ano.

A estrada à frente continua acidentada. Os estragos financeiro e real dos excessos cometidos nos últimos anos ainda terão efeitos nocivos à economia mundial. Os trilhões de dólares de déficits fiscais e dívidas nas economias emergentes e desenvolvidas serão um empecilho real para o crescimento global nos próximos anos.

Ações agressivas foram aceleradas após o encontro do G-20 e pode-se esperar um processo vagaroso e dolorido de conserto da economia. Isso nos permitirá ver uma luz no fim do túnel em algum momento em 2010, primeiro na economia real e, na sequência, nos mercados financeiros. Finalmente, haverá melhores condições para o sistema financeiro e suas instituições gravemente feridas.

A luz e o fim do túnel estarão mais próximos se houver políticas adicionais agressivas e robustas. Muito foi feito, mas ainda há muito a fazer, com um concerto global de esforços.CartaCpital, 09/04/09.

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