Autor(es): Raquel Ulhôa
Valor Econômico - 03/06/2009
O crescimento registrado pela ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) nas últimas pesquisas de intenção de voto para presidente da República já era esperado por analistas políticos e oposição. Ela ainda nem atingiu o piso previsto para que um candidato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, qualquer que seja ele, largue na corrida, calculado em aproximadamente 30%.
Em disputa com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), ainda liderando, Dilma aparece na pesquisa do instituto Datafolha, publicada domingo, com 16% das intenções de voto (aumento de cinco pontos percentuais em relação a março). A ministra também apresenta salto de sete pontos percentuais no mesmo período, em levantamento do Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgado no dia seguinte.
Mesmo estando dentro do script, o salto da pré-candidata de Lula causa apreensão na oposição. Embora tenha o pré-candidato favorito da disputa - Serra -, o PSDB se vê impossibilitado de reagir neste momento, a um ano e meio das eleições. Falta estratégia e discurso para enfrentar a alta popularidade de Lula.
Um dos motivos é a exposição garantida que o presidente tem na mídia. Outro fator é que Serra nega-se a assumir postura mais ofensiva de pré-candidato, para não atrapalhar sua gestão em São Paulo. Não quer dar brecha para que a oposição a ele no Estado o acuse de estar abandonando o governo no terceiro ano de mandato para pavimentar o caminho para o Planalto.
Além da postura contida de Serra, a postulação do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, de disputar com o colega paulista a indicação do PSDB para a sucessão presidencial funciona como uma trava. Impede que os tucanos lancem uma estratégia forte para projetar Serra nacionalmente.
O PSDB não pode, por exemplo, transformar o governador paulista na estrela principal das inserções e do programa eleitoral gratuito do partido na televisão, que irão ao ar nos próximos dias. No caso do PT, Dilma apareceu com destaque. Nos programas tucanos, o espaço terá de ser dividido, embora se acredite cada vez menos nas chances de Aécio. A pesquisa realizada pelo instituto Sensus para a Confederação Nacional do Transporte (CNT), divulgada na segunda-feira, enfraquece os argumentos de Aécio para se manter na disputa. Ele, que apostava no aumento de seu potencial de voto na medida em que se torna mais conhecido, cai em todos os cenários.
Segundo a pesquisa, o governador mineiro é, de fato, o menos conhecido entre os três principais pré-candidatos, mas apenas 9,3% dos que o conhecem o elegem como único candidato em que votariam. No caso de Serra e Dilma, esse percentual é de 19,5%. Somando esse índice aos que admitem que poderiam votar em cada um deles, o potencial de votos de Aécio vai a 52,8%, o de Serra, 63,2%, e o de Dilma, 54,6%.
O raciocínio, alimentado por aliados do mineiro, parte da premissa que Serra seria conhecido pela quase totalidade do eleitorado e, por não apresentar crescimento nas pesquisas, teria batido no seu teto. Tanto a pesquisa CNT/Sensus como a Datafolha, divulgada domingo, mostram que Serra é conhecido por 95% do eleitorado. No caso de Aécio, esse índice é de 65% no Sensus e 61% no Datafolha. Dilma, exaustivamente apresentada pelo presidente Lula ao país como sua candidata atingiu um índice de conhecimento de 65% no Datafolha e de 72% no CNT/Sensus.
A outra aposta de Aécio para se manter no páreo é sua capacidade de agregar aliados. Tem bom trânsito no PMDB, negocia com PP, PR, PTB e PDT e mantém boa relação com o presidenciável do PSB, deputado Ciro Gomes (CE). Esses fatores têm sido insuficientes para alavancar a candidatura de Aécio internamente.
No PSDB, a possibilidade de realização de prévias para a escolha do tucano que vai disputar o Planalto não é levada a sério. A convergência é que a vez é de Serra. Acredita-se que o mineiro levará a pré-candidatura à Presidência até o segundo semestre, quando fará acordo com Serra. Mas não para ser candidato a vice. Aécio já decidiu que, perdendo a chance de disputar o Planalto, prefere ir para o Senado.
Seria uma opção pelo vôo solo, num mandato para o qual tem eleição garantida, em vez de passar quatro anos como vice, atrelado a um presidente com perfil centralizador. Como senador, chegaria a 2014 numa situação politicamente mais confortável para disputar a eleição presidencial.
Para o sociólogo e presidente do instituto Vox Populi, Marcos Coimbra, Serra aparentemente não tem mais para onde crescer. "O teto do Serra é constatação. Já é conhecido perto de 100% do eleitorado. Não tem o que ganhar", diz ele. O sociólogo acha que o nível de conhecimento de Aécio é bem menor que o apontado pelos outros institutos. "Pesquisa Vox populi mostra que 15% no país sabem que ele é governador de Minas. Se 15% sabem apenas isso, não sei o que os outros 45% sabem", afirma.
Para o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, não se pode dizer que Serra bateu o seu teto. Na sua opinião, é possível calcular, em tese, o piso do governador paulista, com base nos votos obtidos por ele em 2002, na disputa com Lula pela Presidência da República: 23% dos votos no primeiro turno e 38,7% no segundo.
Para Paulino, o crescimento de Dilma reflete sua alta exposição na mídia e sua identificação cada vez maior como candidata de Lula. "A partir do momento em que a campanha estiver explicitamente no ar, pode acontecer qualquer coisa, porque será uma eleição diferente, sem Lula. Não se sabe como o eleitor reagirá", diz Paulino.
Coimbra diz que a oposição não deve se preocupar com o bom desempenho de Dilma, enquanto ela não atingir os 30% previstos. "A partir daí, é que a bola não estará mais com Lula." Para ele, o atual salto de Dilma nas pesquisas pode tornar-se um problema para sua candidatura, por criar a expectativa de que o crescimento continue. Se não acontecer, dará a impressão de queda. "O que é vantagem hoje pode ser desvantagem amanhã."
Raquel Ulhôa é repórter de Política em Brasília. A titular da coluna, Rosângela Bittar, não escreve hoje excepcionalmente
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