quarta-feira, 10 de junho de 2009
Versão na íntegraPor Natuza Nery
BRASÍLIA (Reuters) - Pré-candidata do governo à sucessão, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) manterá os pilares macroeconômicos praticados pela atual administração caso seja eleita, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva em entrevista exclusiva à Reuters nesta quarta-feira.
Segundo o presidente, Dilma foi escolhida por ele para concorrer às eleições de 2010 pelas afinidades compartilhadas.
"O fato de eu escolher a Dilma como minha sucessora é que ela tem muito a ver comigo. É mais pela semelhança que pela diferença."
Um eventual governo da ministra não faria aventuras, garante Lula. "A seriedade da política econômica vai continuar."
"Afinal de contas, se ela for eleita, vai ser eleita pelo sucesso (deste governo)", argumentou.
Sobre as diferenças entre os dois, porém, ele brinca: "Eu espero que seja diferente, porque se for para ser igual, fico eu." A frase, apesar do que aparenta, não remete a um polêmico terceiro mandato.
O futuro presidente, diz Lula, deve herdar um "novo PAC" (Programa de Aceleração do Crescimento) já com recursos previstos para 2011. Ele quer deixar para o sucessor uma "garantia de obra muito bem demarcada no Orçamento".
Perto de terminar seu segundo mandato como um dos presidentes mais populares da história, ele admitiu que deixará o governo com a frustração de não ter implementado uma lei que desburocratize a execução de obras de infraestrutura.
"Nós fizemos tanta exigência nos marcos regulatórios... que hoje eu acho que deveria, logo no primeiro ano (de governo), se soubesse que era assim, ter feito um projeto de lei para facilitar as coisas."
IPI PERMANENTE
Lula disse querer uma política permanente de redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para a indústria automotiva até que a crise financeira internacional seja superada.
"A minha posição é de que nós precisamos transformar isso em uma política permanente até você ter sinais totais de que a crise está debelada."
O presidente afirmou ainda não ter conversado com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sobre o assunto, mas considera a medida um importante antídoto contra os efeitos da crise no Brasil.
A medida foi tomada em dezembro, após o auge da crise mundial, e prorrogada até o final deste mês. A redução do imposto ajudou a sustentar as vendas internas das montadoras.
Mantega verbalizou no início desta semana que não tem intenção de prorrogar pela segunda vez a redução do imposto.
Segundo o presidente, o governo está preparado para tomar medidas adicionais de estímulo à economia e defendeu de forma vigorosa a autonomia do Banco Central na definição do juro básico. "Não quero que número seja político", enfatizou.
Quanto ao desempenho da economia, que experimenta recessão técnica por ter apresentado contração por dois trimestres sucessivos, o presidente voltou a dizer que não foi o resultado que ele queria, mas acredita que o desempenho foi melhor do que seus adversários projetavam.
BRICs: COMÉRCIO EM REAL
Às vésperas de uma viagem internacional para encontrar os chefes de Estado de China, Índia e Rússia, os chamados Brics, Lula disse que tem interesse em implementar trocas comerciais em moeda local, substituindo o dólar, não só com essas mas com outras economias do mundo.
"O que queremos fazer com alguns parceiros comerciais, inclusive com o próprio Estados Unidos, é fazer com que a nossa moeda possa ser utilizada pelos nossos empresários. Ter que comprar dólar para pagar um produto que comprou dos Estados Unidos, eu quero pagar em real sem precisar comprar dólar", comentou.
Apesar da importância e da repercussão que o mero debate de uma alternativa ao dólar entre os emergentes gera, Lula afirmou que "isso não é uma coisa que você faz um acordo e começa a funcionar no dia seguinte".
Sobre os Brics --conceito formulado no mercado financeiro para descrever as principais economias emergentes--, o presidente defendeu uma ação conjunta das quatro nações para reformar o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas e outros organismos multilaterais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI).
"Mudou a geografia do mundo", ressaltou. "Os países ricos não são mais os únicos que decidem a capacidade produtiva e de consumo do mundo."
Lula antecipou à Reuters a decisão de emprestar 10 bilhões de dólares para capitalizar o FMI no atual cenário de crise.
"A novidade boa é que os ricos entraram em crise e que os que eram emergentes estão dando uma contribuição enorme para salvar a economia e, consequentemente, salvar os países ricos."
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