segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Quem é Cláudio Lessa?



Sabe por que o escroque Cláudio Lessa tem raiva de Lula, do PT, de Dilma? Porque Dilma demitiu um servidor que ocupava cargo de confiança para seu ex-patrão Ricardo Izar, por ter o mesmo praticado improbidade administrativa.

AS DUAS ÉTICAS DE IZAR

Encarregado de julgar seus pares, o deputado levou a Câmara a contratar um aliado político condenado por corrupção

Por Mauricio Stycer. Colaborou Leandro Fortes

Construída ao longo de mais de uma década à sombra do deputado federal Ricardo Izar ( PTB-SP ), a carreira do funcionário público Nicolau Kohle começa a ser iluminada pelos holofotes do Ministério Público e do governo. Sob investigação está precisamente a gestão de Kohle, entre 1997 e 2002, à frente da seção paulista do Departamento Nacional de Produção Mineral ( DNPM ), órgão do Ministério das Minas e Energia encarregado de fiscalizar a exploração de minérios no País. O Ministério Público Federal analisa, à luz da lei, o papel do servidor junto à chamada “máfia da areia”, exploradores clandestinos que atuam na região do Vale do Paraíba, em São Paulo. A apuração desses fatos liga-se a uma outra, patrocinada pela própria autarquia, e encerrada com a conclusão de que o afilhado político de Izar transformou o DNPM num quintal com vistas à sua eleição – fracassada – para deputado estadual em 2002.

A investigação interna, realizada entre outubro de 2003 e fevereiro de 2004, levou ao pedido de destituição de Kohle do serviço público. A proposta foi acatada em 26 de julho de 2004 pela então ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff, e publicada no Diário Oficial da União no dia seguinte. Ali se lê, à página 18 da seção 2, que Nicolau Kohle foi punido por infringir oito diferentes deveres e obrigações do servidor público, concluindo que sua demissão se dava por improbidade administrativa.

Há uma sutileza na punição. Kohle não podia ser exonerado do serviço público porque havia tomado essa atitude, por conta própria, em março de 2002, para disputar a eleição. Por isso, o ato da ministra Dilma informa que se trata de “conversão da exoneração em destituição”. O significado disso é claro, como indica o artigo 137 da Lei 8.112, que rege os direitos e deveres dos funcionários públicos: “Não poderá retornar ao serviço público federal o servidor que for demitido ou destituído do cargo em comissão” por ter cometido atos de improbidade administrativa.

Casado com uma prima-irmã de Ricardo Izar, Kohle voltou a encontrar apoio do deputado menos de nove meses depois de sua destituição do serviço público. Na esteira da eleição de Izar para a presidência do Conselho de Ética da Câmara, ocorrida por unanimidade em 22 de março deste ano, Kohle foi mais uma vez nomeado para um emprego público, no cargo de assessor técnico adjunto do órgão. Uma flagrante irregularidade. Um ato impróprio especialmente para Izar, que, guindado à condição de juiz dos seus pares, tem tentado passar para a opinião pública que é tão inflexível com os deslizes éticos como um varão de Plutarco.

Nicolau Kohle afirma só ter trabalhado por dois meses, “no começo da crise”, com o deputado Izar, no Conselho de Ética. Pode até não ter comparecido o tempo todo, mas, de fato, mostram documentos obtidos por CartaCapital, trabalhou por três meses, entre 18 de abril e 18 de julho. Seu número funcional (“de ponto”, no jargão da burocracia) era 117.678. Hoje, diz estar aposentado em Jacareí, interior de São Paulo. Na Secretaria do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, no entanto, Nicolau Kohle é tratado, ainda hoje, como um “assessor de fora” pelos funcionários, trazido para o Congresso por Izar. O nome dele consta da lista de contatos da secretaria e, ao ser procurada pela reportagem de CartaCapital, uma funcionária do órgão ligou de pronto para ele.
http://www.cartacapital.com.br/index.php?funcao=exibirMateria&id_materia=3537


Assessor repudia irresponsabilidade

Por Claudio Lessa em 28/11/2005


É no mínimo curioso que o Sr. Maurício Stycer, redator-chefe, terceiro elo na cadeia alimentar da CartaCapital, a cargo de fechar uma matéria contendo acusações graves como a que foi publicada sobre o deputado Ricardo Izar na edição 370, comporte-se como um foca e, de quebra, me envolva em suas travessuras pseudojornalísticas. A propósito, não tenho procuração para defender o deputado, não discuto aqui o mérito das denúncias e, diga-se de passagem, nem uma eventual defesa do parlamentar vem a ser o objeto desta carta. Ela se prende à questão jornalística, da responsabilidade jornalística.

O teor da reportagem sobre o deputado Izar não deixa dúvidas: as informações foram coletadas a partir de um trabalho de reportagem que deve ter levado diversos dias, a não ser que um deep throat tenha passado tudo de bandeja ao redator-chefe ou a seu colaborador, Leandro Fortes – por quem, aliás, nunca fui procurado, especialmente nos dias em que essa matéria devia estar sendo apurada, e quando ele poderia perfeitamente solicitar, até pessoalmente, uma entrevista com o deputado.

Por isso mesmo, não fez sentido jornalístico algum receber um telefonema do redator-chefe de uma revista do porte da Carta Capital na tarde de quinta-feira (24/11), para me informar do fechamento improrrogável de uma matéria naquele mesmo dia e da necessidade de um contato com o parlamentar. Da mesma forma que, no plano conceitual, não faz sentido – nem jornalístico, e muito menos ético – procurar ouvir a personagem central de tal matéria na tarde do último dia de seu fechamento.

Descartemos, por ora, os fatos – verídicos – de que o deputado Izar estava às voltas com o depoimento de seu colega João Paulo Cunha no Conselho de Ética naquela tarde; que seu assessor de imprensa estava envolvido com diversas outras tarefas e pedidos de entrevista, sem contato direto com o deputado, e que tenha solicitado ao redator-chefe que chamasse novamente mais tarde, para que a coordenação do contato pudesse ser tentada adequadamente. Imaginemos, por exemplo, que o deputado Izar estivesse inacessível no interior do estado de São Paulo. O que aconteceria? O rolo compressor inexorável do jornalismo investigativo não poderia esperar? É assim que funciona? É o topa-tudo-faz-de-tudo pelo furo?

Cheap shot desnecessário

Tudo leva à conclusão de que o telefonema solicitando contato com o parlamentar foi apenas para desencargo de consciência, um mero "cumprimento de tabela", que bastasse como explicação ao dono da revista. Do tipo "pô, Mino, a gente tentou entrar em contato, mas...". Um leitor mais atento da revista, certamente, não aceitaria esse descuido.

Não há dúvida – e há exemplos concretos recentes, no Conselho – de que uma publicação minimamente mais responsável que a CartaCapital teria aguardado sua(s) próxima(s) edição(ões) para poder incluir, de maneira equilibrada, precisa, as informações que faltavam e/ou o contraponto – se é que isso era realmente desejado.

O desempenho profissional do redator-chefe da revista, no entanto, deixa bem claro que não era esse o objetivo nesse caso. O furo – ou o timing do furo – era mais importante. Aliás, não seria de estranhar qualquer coincidência entre a urgência do fechamento da matéria e o tiroteio corrente, entre Legislativo e Judiciário, no caso José Dirceu – aliás, merecedor de ilustração na página 26 da revista.

Desde julho de 2005, quando iniciei meu relacionamento profissional com o deputado Ricardo Izar no Conselho de Ética e Decoro Parlamentar, tenho procurado atuar com transparência, objetividade e isenção, procurando facilitar ao máximo o trabalho dos colegas da imprensa, quaisquer que sejam. Digo, sem modéstia, que não têm sido poucos os elogios recebidos dos colegas jornalistas a respeito de minha atuação e meu esforço. Por tudo isso, lamento e repudio esse cheap shot, totalmente desnecessário, da CartaCapital.


Dez horas é pouco tempo?

Mauricio Stycer (*)

Difícil entender o nervosismo de Claudio Lessa. Entre o momento que expus ao assessor de imprensa o teor da reportagem que preparava, na tarde de quinta-feira 24 de novembro, e a conclusão da edição, dez horas se passaram. Será este tempo insuficiente para ouvir o chefe e colocá-lo em contato com este repórter? Ou ouvir o chefe e enviar um comentário? Com dez horas, qualquer jornalista sabe, se faz uma edição de jornal. Ouso especular a respeito do tom destemperado do sr. Lessa: será que levou uma bronca do chefe?

Quanto ao Observatório de Imprensa, aproveito para repudiar a irresponsabilidade de assumir no título a visão – altamente parcial – do autor do texto.

(*) Redator-chefe de CartaCapital

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