Clarissa Oliveira
O Estado de S. Paulo - 18/12/2009
Diante da desistência do governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), de tentar se viabilizar como candidato à Presidência em 2010, o PT vai se lançar o quanto antes em um plano para intensificar a polarização com o governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Apesar de garantir que já trabalhava com a certeza de que o paulista seria o candidato tucano ao Palácio do Planalto, o comando partidário esperava só para janeiro o anúncio de que Aécio está fora do páreo.
Agora, avaliam petistas, será mais fácil trabalhar para viabilizar uma eleição plebiscitária entre Serra e a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, modelo sonhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a corrida de 2010. Em conjunto com o Planalto, o PT já havia começado a desenhar uma agenda intensa para Dilma em São Paulo, prevista para ter início na segunda quinzena de janeiro. O objetivo é trazê-la para o maior número possível de eventos no Estado comandado pelo tucano, de preferência na companhia de Lula.
CENÁRIO
"Nós já trabalhávamos com a tese de que a candidatura de Serra era a mais provável. Só houve surpresa em relação ao momento em que isso ocorreu", afirmou o ex-senador José Eduardo Dutra, eleito para presidir o PT a partir de 2010. "De qualquer forma, isso dá mais clareza ao cenário", emendou. Líder do PT na Câmara, o deputado Cândido Vaccarezza (SP) engrossou o coro: "Não houve surpresa. Ainda assim, não cabe a nós discutir a luta interna de um partido de oposição."
A presença mais intensa de Dilma em São Paulo coroa uma estratégia que já vem sendo aplicada pelo PT desde o início deste ano, com o objetivo de neutralizar o domínio tucano no Estado. O PSDB comanda o Palácio dos Bandeirantes desde 1995 e o PT tem consciência da dificuldade de concorrer em território paulista, onde até Lula acumula derrotas nas urnas.
Num esforço para reduzir a desvantagem, o PT passou todo o primeiro semestre deste ano investindo em caravanas pelo interior paulista. Os principais líderes da legenda foram escalados para promover o nome de Dilma, sem economizar nos ataques à gestão de Serra. Pouco tempo depois, o Planalto incluiu ministros na estratégia e ampliou a agenda de membros da Esplanada no Estado, orientados a chamar a atenção para convênios federais.
ENCONTROS
Mais recentemente, o PT passou a realizar encontros regionais para discutir o programa de governo para 2010. Com isso, ganhou a chance de repetir exaustivamente números sobre a presença dos programas sociais que serão transformados em bandeira da campanha de Dilma no ano que vem, como é o caso do Bolsa-Família ou do ProUni. A ordem, afirma o presidente do PT paulista, Edinho Silva, é apenas dar continuidade ao trabalho que já vem sendo feito. "A possibilidade de Aécio ser o candidato sempre foi remota", declarou o dirigente.
Apesar do plano, o PT não enxerga nenhuma possibilidade de Serra assumir publicamente a candidatura de imediato. Por isso, a tendência é de que Dilma mantenha o cronograma inicial e só se coloque oficialmente na disputa em fevereiro, quando o PT realiza seu 4º Congresso. Até lá, ela deverá investir cada vez mais no discurso comparativo com a gestão do tucano Fernando Henrique Cardoso. No máximo, afirmam aliados, dará algumas alfinetadas em seu provável rival na corrida presidencial do ano que vem.
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