sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Claudio Couto:"Serra só vai ganhar se descobrirem que Dilma está envolvida na morte de Eliza Samudio [ex-amante do goleiro Bruno]."


Apenas um mês separa o futuro presidente do Brasil de sua consagração pelas urnas, e o desempenho do atual ocupante do cargo, até agora apontado como decisivo para efetivar Dilma Rousseff (PT) como a primeira mulher a ocupar a Presidência, não deve mais ser o único fator a impulsionar a ascensão da candidata, que se delineia desde o fim de maio. O adversário José Serra (PSDB), por sua vez, enfrenta as dificuldades de uma campanha que agora aposta em uma virada nas urnas, feito considerado improvável diante da atual conjuntura.

Em quase três meses de campanha, em uma disputa polarizada entre as duas candidaturas, Serra viu seu nome deixar a dianteira e, hoje, luta pelo segundo turno. Já Dilma despontou na garupa da alta popularidade de Luiz Inácio Lula da Silva, até aqui, a principal arma petista para se manter no poder. “Sempre que Dilma apareceu junto a Lula de forma massiva, ela mudou de patamar. A aprovação recorde de Lula é o pano de fundo dessa eleição”, afirma Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha.

Segundo Paulino, a influência de Lula foi reforçada junto ao eleitor graças à televisão, o meio de comunicação mais presente na vida dos brasileiros, com o início da propaganda eleitoral gratuita e da cobertura dos candidatos pelos telejornais. “Chamamos de disparada, mas é um crescimento contínuo, que até aqui foi constante em todos os seguimentos, em todos os setores. Dilma cresceu inclusive nos redutos tradicionais de Serra, como São Paulo e a região Sul”, diz.

Avaliação semelhante tem o cientista político Claudio Couto, da PUC-SP. "É super nítida a subida da Dilma, mas ela é resultado de uma continuidade, essa subida já vinha acontecendo há muito tempo. A entrada da televisão na campanha acentua esse processo. E esse crescimento era previsível porque ela é a candidata de um governo extremamente popular, na figura do presidente Lula", avalia.

No dia 25 de maio, o Datafolha mostrou pela primeira vez um empate técnico entre os então pré-candidatos. Em agosto, após o início da propaganda na TV, não só Dilma estava isolada nas pesquisas, como a percepção do eleitor era a de que a candidata seria eleita. Naquele mês, Dilma cresceu em todos os Estados, e Serra só mantinha a liderança no Sul. A vantagem passou existir inclusive no segundo maior colégio eleitoral do país, a Minas Gerais daquele que recusou a oferta de vice do tucano, o aspirante ao Senado Aécio Neves.

Em uma estratégia definida por petistas como errática, Serra mudou o tom. Engrossou as críticas, sem atacar diretamente Lula. E até mudou o slogan da campanha. “O Brasil pode mais” tornou-se “É a hora da virada”. A aparição de Lula em eventos públicos com Serra chegou a ser explorada pela sigla, sob a voz de um locutor que defendia: "Serra, a vivência que a Dilma não tem". O reflexo nas pesquisas, porém, não veio.

“Luz própria”

O principal motivo, segundo Paulino, é o de que a imagem de Lula, por si só, não transmite votos. “Com o horário eleitoral gratuito, Dilma ganhou voz e passou a ter uma identidade própria. Essa fase de associação a Lula está esgotada. Hoje, ela é considerada pelo eleitor como a candidata à Presidência, e não mais a candidata do presidente. Ela já se afirma com uma luz própria”, avalia.

Tanto a presença maciça de Lula não garante votos automáticos, que seu candidato em SP, Aloisio Mercadante (PT), deve perder no primeiro turno para Geraldo Alckmin (PSDB). O tucano, que junto de Serra protagonizou um racha na sigla do pleito de 2006, por sua vez, não fez questão de mostrar o companheiro de partido em sua campanha, permitindo a ascensão de Dilma inclusive onde o PSDB deve ter sua maior vitória.

A presença na televisão também se mostrou ineficaz desatrelada de outros fatores. A candidata Marina Silva frustrou as expectativas do PV, que contava com um crescimento automático após as aparições de sua representante em cadeia nacional. A candidata praticamente não oscilou desde que as inserções tiveram início.

Para Couto, soma-se a isso o que chama de "campanha catastrófica". "Seria difícil conter a escalada de Dilma, mas a queda de Serra se deve ao caráter errático e ambivalente dessa campanha, inclusive com perda de votos do tucano para a petista. É uma candidatura que se apresenta ao mesmo tempo como lulista e com um discurso de direita. É contraditório, difícil de o eleitor acreditar", afirma.

Ainda que Dilma tenha um crescimento considerado constante, para Paulino, é difícil prever o desenrolar das pesquisas, mas, segundo ele, é improvável que o quadro se reverta até o dia 3 de outubro. Há ainda, no entanto, um alento à esperança tucana de conseguir impedir uma derrota de primeira. “Em 2006, Lula tinha uma vantagem sobre Alckmin quando surgiu o escândalo dos aloprados [a suposta compra de um dossiê contra Serra por petistas em SP], e o tucano conseguiu tirar alguns votos e levou para o segundo turno”, afirma.

O ponto contra é a atual popularidade do presidente que, até então, não era tão alta. “Hoje é mais difícil, porque Lula dá esse respaldo a sua candidata. E o voto dela é o mais consolidado. Mas esse problema com a Receita Federal está tomando conta das manchetes. Precisa ver se isso se reflete nas próximas pesquisas”, aponta.

Já Claudio Couto é enfático. "Serra só vai ganhar se descobrirem que Dilma está envolvida na morte de Eliza Samudio [ex-amante do goleiro Bruno]."

A próxima pesquisa Datafolha será divulgada neste sábado (4). Na mais recente, Dilma aparece com 49% das intenções de voto, contra 29% de Serra (margem de erro de dois pontos). A pesquisa foi publicada no dia 26 de agosto.Uol

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