Ator conta ao iG que ‘criou rede de desmontar factóides’ na internet e, por isso, recebeu elogios da primeira-dama Marisa Letícia
Valmir Moratelli, iG
Enquanto Dilma Rousseff dava seu primeiro discurso como presidenta eleita, na noite de domingo (31), em rede nacional, vários políticos se espremiam no palanque da vitória. Junto a José Eduardo Dutra (presidente nacional do PT), José Eduardo Cardozo (secretário-geral do PT), Michel Temer (vice-presidente eleito), Antonio Palocci (ex-ministro da Fazenda e coordenador da campanha de Dilma) e outros figurões da política, chamava a atenção a presença do ator José de Abreu.
Visivelmente emocionado, com os olhos marejados, ele permaneceu ali, atrás do ombro de Dilma por vários minutos. Um papagaio de pirata, como ele mesmo definiu. Para quem acha que ele era um estranho no ninho, Abreu afirma que não era figurante daquele momento histórico por acaso. E conta que sua militância vem da juventude, que durante parte da ditadura militou no mesmo grupo de Dilma, Var-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), e que, durante a campanha eleitoral criou “uma rede de desmontar factóides” na internet, com pseudônimos como Marcos Ovos e Zé Bigorna.
“Dilma ficou sabendo, o Lula sabendo das coisas que eu fazia... A Dona Marisa ligou para o Chile para comentar meu trabalho. Falou: ‘nós estamos sabendo de tudo, que coisa linda você tá fazendo’”, conta o ator.
Seu envolvimento com política, ele relata, começou em 1966, quando fez sua primeira peça, ‘Morte e vida Severina’. “Fui preso por dois meses, em 1968, no congresso na UNE. Saí do país no final de 1972, quando tive um exílio forçado na Holanda, e voltei no final do ano seguinte para Pelotas (RS)”, relembra.
Agora, com o fim da campanha, ele volta à rotina de ator. Começa a filmar nos próximos dias no município de Cataguases (MG), “Meu pé de Laranja lima”, sob direção de Marcos Bernstein. Em janeiro, retorna às novelas, em “Insensato Coração”, de Gilberto Braga. Isso se Dilma não insistir para que assuma um cargo público. “Desde que não tenha salário. Não sou político profissional, sou militante por amor”, ressalta o ator de 64 anos.
Leia trechos da entrevista ao iG.
Subindo no palanque
Visivelmente emocionado, com os olhos marejados, ele permaneceu ali, atrás do ombro de Dilma por vários minutos. Um papagaio de pirata, como ele mesmo definiu. Para quem acha que ele era um estranho no ninho, Abreu afirma que não era figurante daquele momento histórico por acaso. E conta que sua militância vem da juventude, que durante parte da ditadura militou no mesmo grupo de Dilma, Var-Palmares (Vanguarda Armada Revolucionária Palmares), e que, durante a campanha eleitoral criou “uma rede de desmontar factóides” na internet, com pseudônimos como Marcos Ovos e Zé Bigorna.
“Dilma ficou sabendo, o Lula sabendo das coisas que eu fazia... A Dona Marisa ligou para o Chile para comentar meu trabalho. Falou: ‘nós estamos sabendo de tudo, que coisa linda você tá fazendo’”, conta o ator.
Seu envolvimento com política, ele relata, começou em 1966, quando fez sua primeira peça, ‘Morte e vida Severina’. “Fui preso por dois meses, em 1968, no congresso na UNE. Saí do país no final de 1972, quando tive um exílio forçado na Holanda, e voltei no final do ano seguinte para Pelotas (RS)”, relembra.
Agora, com o fim da campanha, ele volta à rotina de ator. Começa a filmar nos próximos dias no município de Cataguases (MG), “Meu pé de Laranja lima”, sob direção de Marcos Bernstein. Em janeiro, retorna às novelas, em “Insensato Coração”, de Gilberto Braga. Isso se Dilma não insistir para que assuma um cargo público. “Desde que não tenha salário. Não sou político profissional, sou militante por amor”, ressalta o ator de 64 anos.
Leia trechos da entrevista ao iG.
Subindo no palanque
“Me convidaram para ir a Brasília. Uma parente do Lula, que não preciso citar o nome, mandou eu votar no Rio e ir pra Brasília. Me hospedei no hotel, o Naoum, onde seria a festa e foi uma coisa natural... Chegou uma hora que falaram que o Zé Dirceu estava chegando e pediu pra eu ficar ao lado dele. Ele foi dar entrevista e eu fiquei como papagaio de pirata. Quando a Dilma chegou, ela brincou comigo, me chamando de ‘Marcos Ovos’ no elevador. Não foi uma coisa idiota que fui lá fazer...”
'Chorei muito'
“Olha, subimos todos no palco com ela. Quando começou o discurso, alguém chamou: ‘vamos descer, vamos descer’. Daí, uma pessoa me puxou, acho que foi o Zé Eduardo Cardozo (secretário-geral do PT), não tenho certeza. Vendo pelo vídeo agora... acho que foi ele, até pelo carinho dele no palco, com abraço apertado, estava quase chorando no ombro dele, tinha a mão dele apertada em mim. Poxa, chorei muito antes e depois daquela cena”.
Saia justa
“Não rolou saia justa. No momento que pediram para sair, eu estava conversando com alguém, quando fiz movimentação para sair, me puxaram pro palco, vi a Dilma sorrindo, ela estava feliz. Não havia hostilidade. A gente se beija de felicidade. Político de esquerda se gosta, não tem problema de se beijar e se abraçar. O Lula beija!”
Emoção no palanque
“Teve um momento que saí de giro, estava de olhos fechados, cabeça baixa. Não estava mais ali, estava viajando na minha vida, tristeza de cadeia, lembrei da minha mãe...”
Idade Média
“Pior que essa só a luta contra a ditadura. O fato é que a campanha foi uma batalha campal, com regressões morais da Idade Média. Até bispos católicos imprimiram panfletos contra a Dilma...”.
Guerrilha virtual
“Sou interneteiro. José Mayer me chama de ‘José Windows’. Sei achar tudo que há no mundo pela internet, criamos uma rede de desmontar factóides. Quando começou aquela onda de emails... aquelas coisas... Dilma guerrilheira, lésbica, f.d.p., que roubava dinheiro dos companheiros... quando aquela baixaria começou, aí descobri que tinha até falso indiano trabalhando com essa coisa de internet dos caras (da campanha do Serra). Consegui quase 11 mil seguidores em uma twitcam. Falei por quase 2 horas sobre a ditadura, que não fazíamos terrorismo, como era a censura... Usei muito, muito o twitter a favor da Dilma, 20 horas por dia. Foi guerrilha virtual. Tive 7 mil seguidores, apaguei a conta porque fiquei com medo das ameaças. O que importa não é a quantidade de seguidores, mas quantas vezes fui retuitado. Tinha frase minha que foi retuitada 20, 30 mil vezes. A cada semana mudava de nome, sempre com nome falso. Usei vários nomes, como Marcos Ovos, Senhor Jardineiro e o que ficou mais famoso, o Zé Bigorna.
Apoio de dona Marisa
“Dilma ficou sabendo, o Lula sabendo das coisas que eu fazia... A Dona Marisa me ligou do Chile para comentar meu trabalho. Falou: ‘nós estamos sabendo de tudo, que coisa linda você tá fazendo’. Aí fiz mais umas sete ou oito twitcams. Postava uma twitcam, onde dava uma aula sobre a ditadura. Abro a camerazinha e coloco 10 mil pessoas em dez minutos ouvindo o que tenho pra falar. Tenho esta facilidade. Meus recados eram para desmentir os boatos sobre Dilma... Ela não era terrorista, nem eu. A gente era herói. Terrorista era o Estado brasileiro.”
Contato com Dilma
“Nunca fui filiado ao PT. Sou livre. (...) Fui a alguns comícios. Quando Lula resolveu fazer panfletagem na porta da Mercedes-Benz, em São Paulo, no meio da campanha do primeiro turno, encontrei ele e a Dilma lá, às 3h30 da manhã. Foi quando tive um contato maior com ela. Meu filho de 10 anos foi também, tiramos fotos. Pessoal de esquerda é companheiro.”
Período na prisão
“Estudava Direito, na PUC de São Paulo, quando entrei na luta clandestina contra a ditadura. Fui da Var-Palmares, a mesma organização da Dilma. Se a conheci, eu não lembro. A gente não conhecia os companheiros, eram nomes de guerra, não tinha como lembrar”.
Ácido, ioga e flauta doce
“Quando houve o fechamento político, depois de 1971, quando saí da organização, fiquei escondido na Bahia, em Recife, parei em Arembepe (BA), que foi o Woodstock brasileiro. Ali pintou ácido lisérgico, ioga, flauta doce, rock progressivo... Comecei um processo de viagem espiritual, autoconhecimento, namorei uma jovem na época... Juntou aí a vontade de conhecer Londres e Amsterdã, símbolos da libertação hippie. A política ficou de lado. Os esquerdistas foram para Paris e eu para Amsterdã.”
Cargo no governo
“Não aceitaria, apenas se fosse um cargo de um conselho, desde que não tenha salário. Não sou político profissional, sou militante por amor. Quero acabar com a miséria. Agora, se ela falar que estou convocado, eu vou. Mas talvez doe meu salário. Tenho o salário da Globo. Ganho muito bem lá”.
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