Por
Davis Sena Filho — Blog Palavra
Livre
Condenar Dirceu é, sobretudo, condenar o Governo popular e democrático de Lula. |
“As
condenações de José Dirceu e de José Genoíno vão ser um prêmio para a direita, a
revanche dos derrotados, o prazer dos ressentidos, a esperança dos incompetentes
e a justiça dos perversos”.
A
ação penal 470 (“mensalão”) se transformou no único trunfo da direita
brasileira, que não tem condições de ganhar as eleições no campo democrático e
eleitoral. O “mensalão”, conforme os autos, não teve comprovada sua existência
como mesada paga continuamente, mensalmente a parlamentares, bem como não foram
comprovadas, de forma alguma, quaisquer relações de José Dirceu com o empresário
Marcos Valério — considerado pela PGR como gerente do mensalão — e com os bancos
BMG e Rural.
As condenações de José Dirceu e de José
Genoíno vão acontecer por causa das condições políticas, jurídicas e
publicitárias que deram ao caso “mensalão”. Apesar de os trabalhistas terem
vencido três eleições presidenciais (2002-2006-2010), o “mensalão”, de 2004 com
forte repercussão em 2005, tinha a finalidade de derrubar o presidente Lula do
poder e se transformou, nos anos vindouros, na única possibilidade plausível e
factível para os tucanos e o sistema midiático privado fazerem frente a um
presidente popular da expressão de Lula.
O
operário, o nordestino que desceu para São Paulo em um pau-de-arara deixou o
poder com 84% de aprovação, sendo que 10% dos entrevistados pelas pesquisas
consideraram seu governo regular, o que significa aprovação, e somente 6% (a
imprensa burguesa, seus leitores fiéis e os tucanos) julgou o governo Lula como
ruim ou péssimo, mas, contudo, sem abrir mão de comprar carros, apartamentos,
viajar ou fazer, com facilidade, empréstimos no Banco do Brasil, ou seja, sem
abrir mão do bolsa-dinheiro-rápido-e-na-mão. Lula saiu com índices de aprovação
maiores do que os do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, quando o
sul-africano deixou a presidência.
São
essas realidades e verdades que mexem com os brios e os sentimentos negativos
das nossas perversas “elites” herdeiras da escravidão e da infâmia. Condenar
José Dirceu e José Genoíno significa macular o governo Lula e, consequentemente,
dar outra conotação à sua história de vida e aos seus governos que incluíram 40
milhões de brasileiros por intermédio dos benefícios sociais, do desenvolvimento
da economia e da criação de mais de 10 milhões de empregos.
Genoíno é a revanche da direita derrotada nas urnas contra aqueles que pegaram em armas. |
As
condenações de Dirceu e de Genoíno garantem fôlego à oposição, que se encontra
desmoralizada e apequenada, por não ter compreendido o momento histórico que
vivia quando esteve no poder na década de 90, a década perdida, os anos da
efetivação do neoliberalismo no Brasil pelas mãos dos Fernandos, o Collor de
Mello e principalmente o Henrique Cardoso, que alienaram o patrimônio público e
se recusaram, terminantemente, a construir um Brasil digno para sua população.
Governaram para as classes abastadas por serem representantes das próprias e a
pensar como elas e tal qual agir e proceder.
O
que restou para essa gente foi a condenação de um dos quadros mais preparados do
PT e da esquerda brasileira, que sempre teve à frente dos embates políticos
desde 1982, que se posicionou muitas vezes contra a direita quando na
Constituinte se reunia com as lideranças partidárias para discutir a elaboração
da Constituição. Dirceu e Genoíno são oriundos da guerrilha da década de 1970 e
causam grande ressentimento e ódio aos senhores e senhoras conservadores,
feudais, inquilinos da Casa Grande e que detestam governantes trabalhistas no
poder ainda mais quando o mandatário tem origem humilde e tem como profissão ser
metalúrgico.
Por
isto e por causa disto, Genoíno e principalmente Dirceu foram linchados pela
imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) durante anos, sem
trégua e sem o direito de resposta assegurado, porque no Brasil “esqueceram” de
discutir o papel da imprensa, bem como os governos do PT erraram e ainda erram
gravemente por não ter criado o marco regulatório para as mídias e dessa forma
democratizar o setor empresarial das comunicações e, por conseguinte, garantir a
estabilidade política e institucional ao povo brasileira, porque até um
recém-nascido sabe e percebe que os barões da imprensa são historicamente
golpistas, além de serem os patrões mais atrasados, reacionários e tacanhos de
todos os segmentos empresariais brasileiros.
Gurgel é o dono da República: prevarica quando quer e faz oposição ao Governo. |
As
condenações de José Dirceu e de José Genoíno vão ser um prêmio para a direita, a
revanche dos derrotados, o prazer dos ressentidos, a esperança dos incompetentes
e a justiça dos perversos.
O
prevaricador-geral da República, Roberto Gurgel, o mesmo que sentou nos autos e
processos do bicheiro Carlinhos Cachoeira durante quase três anos para salvar o
senador cassado do DEM, Demóstenes Torres, e o governador tucano de Goiás,
Marconi Perillo, que concorriam às eleições de 2010, não apresentou provas
contundentes, mas, sim, “tênues”, conforme suas palavras, contra o ex-ministro
da Casa Civil, José Dirceu, e o ex-deputado José Genoíno, políticos do Partido
dos Trabalhadores — o PT.
O
juiz condestável e temperamental, Joaquim Barbosa, não vai julgá-los e
condená-los por serem culpados por crimes de corrupção ativa e formação de
quadrilha, mas, sim, por presunção de culpa desses crimes, porque os autos do
processo não comprovam a culpabilidade de dois ícones da esquerda brasileira e
do PT, que “tomaram” por via legal o poder juntamente com o operário Luiz Inácio
Lula da Silva após quase 40 anos de lutas, o que, sobremaneira, tornou-se fato
histórico imperdoável para a oligarquia brasileira, uma das mais poderosas e
cruéis do mundo.
Dirceu
e Genoíno desde sempre combateram a plutocracia dos “bem nascidos”, e sofreram
todo tipo de reveses, a começar por terem que viver por tempo significativo como
clandestinos em seu próprio País para não serem mortos pela repressão policial e
militar dos tempos da ditadura. Foram presos, viveram no exílio, sofreram com as
agressões verbais e corporais (Genoíno foi torturado) e, após muita luta e a
efetivação da anistia política de 1979, ajudaram a fundar a CUT e o PT, dois
alicerces emblemáticos dos trabalhadores, do trabalhismo e da sociedade
brasileira, sistematicamente demonizados pelo sistema midiático de negócios
privados.
A
direita e as classes dominantes sabem que a chamada “grande” imprensa é a caixa
de ressonância do pensamento burguês, dos que controlam as forças do capital, e
que apesar de estarem a dez anos sem ocupar a Presidência da República ainda
controlam parte significativa do Estado, a exemplo da Procuradoria Geral da
República, do Supremo Tribunal Federal e de setores reacionários das forças de
segurança, como a Polícia Federal e as Forças Armadas.
Joaquim não gosta de ser contestado e o revisor Lewandowisk, para ele, não pode revisar. |
O
PT e seus aliados, os trabalhadores urbanos e a sociedade interiorana que
retrata o Brasil profundo não controlam o estado de maneira plena e ampla, como,
a meu ver, deveria ser. Mesmo com a assunção de Dilma e Lula ao poder, as
classes abastadas, continuam a controlar o Judiciário e os meios de comunicação
privados, que interferem no Poder Executivo para que o programa de governo dos
trabalhistas seja efetivado de forma mais lenta, pois o objetivo é atrasar ao
máximo a autonomia e a soberania do País, bem como o desenvolvimento da maioria
da população. É este o real processo e de luta política que está em jogo e por
trás da linguagem empolada e rebuscada dos juízes do STF e das manchetes
apelativas e manipuladoras dos jornais dos barões da imprensa. Resumindo: se
você não ganha no voto, tente ganhar no tapetão.
A
luta de classe existe e nunca terminou por causa da queda do muro de Berlin,
como apregoam os arautos das oligarquias brasileiras e estrangeiras, com o
propósito de dissimular a realidade e assim fazer com que os desavisados, os
alienados e os reacionários por índole, por causa disto cegos, acreditem que a
luta de classe acabou e que as esquerdas não tem mais o que fazer no mundo, a
não ser ler os livros de história. Eles
sabem muito bem que vencer as eleições e ter como adversários os trabalhistas,
as esquerdas e alguns partidos à direita do espectro ideológico, aliados de Lula
e Dilma e que compõem a base do governo no Congresso é quase impossível.
Por
isto, acontecem as tentativas de golpes e a concretização dos golpes no decorrer
do século XX e agora no século XXI. Não há como os direitistas vencer as
eleições presidenciais se quando estiveram no poder de forma ilegal viraram as
costas para o povo brasileiro e optaram por governar para poucos, para os ricos
e dessa forma perpetuar o status quo
das classes sociais que se consideram superiores e até mesmo acima das leis,
pois criadas e alimentadas pelos privilégios.
A
direita no Brasil, com rara exceção, somente chegou ao poder por intermédio de
golpe de estado, a partir, principalmente, da Revolução de 1930 quando Getúlio
chegou ao poder e fez profundas modificações no estado nacional (burocracia,
administração e criação de novos órgãos e instituições), no modo de operar a
produção econômica e nos códigos do direito civil, trabalhista e
eleitoral.
Lula é o verdadeiro alvo de todo esse processo, que vai se radicalizar ainda mais em 2014. |
Quando
Getúlio moderniza o estado e abre um leque de oportunidades de novos negócios e
de emprego para a população, ele rompe com os monopólios, com os oligopólios e
com a reserva de mercado dos senhores da Casa Grande, no que tange aos meios de
produção, à democratização do acesso ao emprego e ao ensino, bem como
diversifica os setores de uma economia atrelada às monoculturas do café, da cana
de açúcar e à pecuária. Portanto, Getúlio não apenas revolucionou a economia,
mas também os costumes e a cultura de uma nação multifacetada e alicerçada em
todas as raças, nacionalidades e credos.
Getúlio
é o pai do Brasil moderno, e Lula a continuação do projeto trabalhista de País
em termos exponenciais. A direita consciente, profissional e que formula o
contraponto para combater os avanços da esquerda sabe disso. O resto é leitor de
Veja, a revista porcaria, e
telespectador dos jornais das Organizações(?) Globo, que acreditam no que veem e leem
sem ao menos ponderar os fatos.
O
STF é o guardião da Constituição e zela pelo direito amplo de defesa, busca a
verdade e por isso as acusações devem ser confrontadas com as provas da defesa,
além de favorecer o contraditório. Para um tribunal condenar uma pessoa, um
cidadão, os juízes precisam ter certeza da culpa do réu. Não se pode pensar em
possibilidades e probabilidades. Quando o procurador geral da República
reconhece que as provas contra Dirceu, por exemplo, “são tênues”, sinal de que
tal julgamento é essencialmente político, só que a pessoa ré está com sua
história de vida, o futuro e sua moral colocadas em risco, de forma que um
julgamento sem provas e contraprovas contundentes ele se torna,
irremediavelmente, sumário.
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O STF não pode se permitir a ser pautado pela imprensa. Os leitores que
acreditam e confiam na imprensa privada podem acreditar e confiar nela, afinal
de contas cada um tem o que merece. Contudo o Judiciário não pode se deixar
influenciar por ninguém (gente, instituição ou empresa), porque vivemos em um
estado democrático de direito cujo princípio da presunção da inocência é um dos
pilares do Direito Penal. José Dirceu e José Genoíno até agora não tiveram
direito ao pleito da dúvida. É isso
aí.
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