quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Dirceu, Genoíno e a revanche da direita

 



Por Davis Sena Filho — Blog Palavra Livre

Condenar Dirceu é, sobretudo, condenar o Governo popular e democrático de Lula.
“As condenações de José Dirceu e de José Genoíno vão ser um prêmio para a direita, a revanche dos derrotados, o prazer dos ressentidos, a esperança dos incompetentes e a justiça dos perversos”.
 
 
A ação penal 470 (“mensalão”) se transformou no único trunfo da direita brasileira, que não tem condições de ganhar as eleições no campo democrático e eleitoral. O “mensalão”, conforme os autos, não teve comprovada sua existência como mesada paga continuamente, mensalmente a parlamentares, bem como não foram comprovadas, de forma alguma, quaisquer relações de José Dirceu com o empresário Marcos Valério — considerado pela PGR como gerente do mensalão — e com os bancos BMG e Rural.
 
As condenações de José Dirceu e de José Genoíno vão acontecer por causa das condições políticas, jurídicas e publicitárias que deram ao caso “mensalão”. Apesar de os trabalhistas terem vencido três eleições presidenciais (2002-2006-2010), o “mensalão”, de 2004 com forte repercussão em 2005, tinha a finalidade de derrubar o presidente Lula do poder e se transformou, nos anos vindouros, na única possibilidade plausível e factível para os tucanos e o sistema midiático privado fazerem frente a um presidente popular da expressão de Lula.
 
O operário, o nordestino que desceu para São Paulo em um pau-de-arara deixou o poder com 84% de aprovação, sendo que 10% dos entrevistados pelas pesquisas consideraram seu governo regular, o que significa aprovação, e somente 6% (a imprensa burguesa, seus leitores fiéis e os tucanos) julgou o governo Lula como ruim ou péssimo, mas, contudo, sem abrir mão de comprar carros, apartamentos, viajar ou fazer, com facilidade, empréstimos no Banco do Brasil, ou seja, sem abrir mão do bolsa-dinheiro-rápido-e-na-mão. Lula saiu com índices de aprovação maiores do que os do ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, quando o sul-africano deixou a presidência.
 
São essas realidades e verdades que mexem com os brios e os sentimentos negativos das nossas perversas “elites” herdeiras da escravidão e da infâmia. Condenar José Dirceu e José Genoíno significa macular o governo Lula e, consequentemente, dar outra conotação à sua história de vida e aos seus governos que incluíram 40 milhões de brasileiros por intermédio dos benefícios sociais, do desenvolvimento da economia e da criação de mais de 10 milhões de empregos.

Genoíno é a revanche da direita derrotada nas urnas contra aqueles que pegaram em armas.
As condenações de Dirceu e de Genoíno garantem fôlego à oposição, que se encontra desmoralizada e apequenada, por não ter compreendido o momento histórico que vivia quando esteve no poder na década de 90, a década perdida, os anos da efetivação do neoliberalismo no Brasil pelas mãos dos Fernandos, o Collor de Mello e principalmente o Henrique Cardoso, que alienaram o patrimônio público e se recusaram, terminantemente, a construir um Brasil digno para sua população. Governaram para as classes abastadas por serem representantes das próprias e a pensar como elas e tal qual agir e proceder.
 
O que restou para essa gente foi a condenação de um dos quadros mais preparados do PT e da esquerda brasileira, que sempre teve à frente dos embates políticos desde 1982, que se posicionou muitas vezes contra a direita quando na Constituinte se reunia com as lideranças partidárias para discutir a elaboração da Constituição. Dirceu e Genoíno são oriundos da guerrilha da década de 1970 e causam grande ressentimento e ódio aos senhores e senhoras conservadores, feudais, inquilinos da Casa Grande e que detestam governantes trabalhistas no poder ainda mais quando o mandatário tem origem humilde e tem como profissão ser metalúrgico.
 
Por isto e por causa disto, Genoíno e principalmente Dirceu foram linchados pela imprensa comercial e privada (privada nos dois sentidos, tá?) durante anos, sem trégua e sem o direito de resposta assegurado, porque no Brasil “esqueceram” de discutir o papel da imprensa, bem como os governos do PT erraram e ainda erram gravemente por não ter criado o marco regulatório para as mídias e dessa forma democratizar o setor empresarial das comunicações e, por conseguinte, garantir a estabilidade política e institucional ao povo brasileira, porque até um recém-nascido sabe e percebe que os barões da imprensa são historicamente golpistas, além de serem os patrões mais atrasados, reacionários e tacanhos de todos os segmentos empresariais brasileiros.

Gurgel é o dono da República: prevarica quando quer e faz oposição ao Governo.
As condenações de José Dirceu e de José Genoíno vão ser um prêmio para a direita, a revanche dos derrotados, o prazer dos ressentidos, a esperança dos incompetentes e a justiça dos perversos.

O prevaricador-geral da República, Roberto Gurgel, o mesmo que sentou nos autos e processos do bicheiro Carlinhos Cachoeira durante quase três anos para salvar o senador cassado do DEM, Demóstenes Torres, e o governador tucano de Goiás, Marconi Perillo, que concorriam às eleições de 2010, não apresentou provas contundentes, mas, sim, “tênues”, conforme suas palavras, contra o ex-ministro da Casa Civil, José Dirceu, e o ex-deputado José Genoíno, políticos do Partido dos Trabalhadores — o PT.
 
O juiz condestável e temperamental, Joaquim Barbosa, não vai julgá-los e condená-los por serem culpados por crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha, mas, sim, por presunção de culpa desses crimes, porque os autos do processo não comprovam a culpabilidade de dois ícones da esquerda brasileira e do PT, que “tomaram” por via legal o poder juntamente com o operário Luiz Inácio Lula da Silva após quase 40 anos de lutas, o que, sobremaneira, tornou-se fato histórico imperdoável para a oligarquia brasileira, uma das mais poderosas e cruéis do mundo.
 
Dirceu e Genoíno desde sempre combateram a plutocracia dos “bem nascidos”, e sofreram todo tipo de reveses, a começar por terem que viver por tempo significativo como clandestinos em seu próprio País para não serem mortos pela repressão policial e militar dos tempos da ditadura. Foram presos, viveram no exílio, sofreram com as agressões verbais e corporais (Genoíno foi torturado) e, após muita luta e a efetivação da anistia política de 1979, ajudaram a fundar a CUT e o PT, dois alicerces emblemáticos dos trabalhadores, do trabalhismo e da sociedade brasileira, sistematicamente demonizados pelo sistema midiático de negócios privados.
 
A direita e as classes dominantes sabem que a chamada “grande” imprensa é a caixa de ressonância do pensamento burguês, dos que controlam as forças do capital, e que apesar de estarem a dez anos sem ocupar a Presidência da República ainda controlam parte significativa do Estado, a exemplo da Procuradoria Geral da República, do Supremo Tribunal Federal e de setores reacionários das forças de segurança, como a Polícia Federal e as Forças Armadas.

Joaquim não gosta de ser contestado e o revisor Lewandowisk, para ele, não pode revisar.
O PT e seus aliados, os trabalhadores urbanos e a sociedade interiorana que retrata o Brasil profundo não controlam o estado de maneira plena e ampla, como, a meu ver, deveria ser. Mesmo com a assunção de Dilma e Lula ao poder, as classes abastadas, continuam a controlar o Judiciário e os meios de comunicação privados, que interferem no Poder Executivo para que o programa de governo dos trabalhistas seja efetivado de forma mais lenta, pois o objetivo é atrasar ao máximo a autonomia e a soberania do País, bem como o desenvolvimento da maioria da população. É este o real processo e de luta política que está em jogo e por trás da linguagem empolada e rebuscada dos juízes do STF e das manchetes apelativas e manipuladoras dos jornais dos barões da imprensa. Resumindo: se você não ganha no voto, tente ganhar no tapetão.
 
A luta de classe existe e nunca terminou por causa da queda do muro de Berlin, como apregoam os arautos das oligarquias brasileiras e estrangeiras, com o propósito de dissimular a realidade e assim fazer com que os desavisados, os alienados e os reacionários por índole, por causa disto cegos, acreditem que a luta de classe acabou e que as esquerdas não tem mais o que fazer no mundo, a não ser ler os livros de história. Eles sabem muito bem que vencer as eleições e ter como adversários os trabalhistas, as esquerdas e alguns partidos à direita do espectro ideológico, aliados de Lula e Dilma e que compõem a base do governo no Congresso é quase impossível.
Por isto, acontecem as tentativas de golpes e a concretização dos golpes no decorrer do século XX e agora no século XXI. Não há como os direitistas vencer as eleições presidenciais se quando estiveram no poder de forma ilegal viraram as costas para o povo brasileiro e optaram por governar para poucos, para os ricos e dessa forma perpetuar o status quo das classes sociais que se consideram superiores e até mesmo acima das leis, pois criadas e alimentadas pelos privilégios.
 
A direita no Brasil, com rara exceção, somente chegou ao poder por intermédio de golpe de estado, a partir, principalmente, da Revolução de 1930 quando Getúlio chegou ao poder e fez profundas modificações no estado nacional (burocracia, administração e criação de novos órgãos e instituições), no modo de operar a produção econômica e nos códigos do direito civil, trabalhista e eleitoral.

Lula é o verdadeiro alvo de todo esse processo, que vai se radicalizar ainda mais em 2014.

Quando Getúlio moderniza o estado e abre um leque de oportunidades de novos negócios e de emprego para a população, ele rompe com os monopólios, com os oligopólios e com a reserva de mercado dos senhores da Casa Grande, no que tange aos meios de produção, à democratização do acesso ao emprego e ao ensino, bem como diversifica os setores de uma economia atrelada às monoculturas do café, da cana de açúcar e à pecuária. Portanto, Getúlio não apenas revolucionou a economia, mas também os costumes e a cultura de uma nação multifacetada e alicerçada em todas as raças, nacionalidades e credos.
 
Getúlio é o pai do Brasil moderno, e Lula a continuação do projeto trabalhista de País em termos exponenciais. A direita consciente, profissional e que formula o contraponto para combater os avanços da esquerda sabe disso. O resto é leitor de Veja, a revista porcaria, e telespectador dos jornais das Organizações(?) Globo, que acreditam no que veem e leem sem ao menos ponderar os fatos.
 
O STF é o guardião da Constituição e zela pelo direito amplo de defesa, busca a verdade e por isso as acusações devem ser confrontadas com as provas da defesa, além de favorecer o contraditório. Para um tribunal condenar uma pessoa, um cidadão, os juízes precisam ter certeza da culpa do réu. Não se pode pensar em possibilidades e probabilidades. Quando o procurador geral da República reconhece que as provas contra Dirceu, por exemplo, “são tênues”, sinal de que tal julgamento é essencialmente político, só que a pessoa ré está com sua história de vida, o futuro e sua moral colocadas em risco, de forma que um julgamento sem provas e contraprovas contundentes ele se torna, irremediavelmente, sumário.

SEM COMENTÁRIOS!

O STF não pode se permitir a ser pautado pela imprensa. Os leitores que acreditam e confiam na imprensa privada podem acreditar e confiar nela, afinal de contas cada um tem o que merece. Contudo o Judiciário não pode se deixar influenciar por ninguém (gente, instituição ou empresa), porque vivemos em um estado democrático de direito cujo princípio da presunção da inocência é um dos pilares do Direito Penal. José Dirceu e José Genoíno até agora não tiveram direito ao pleito da dúvida. É isso aí.

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