segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

OS LADRÕES DE WALL STREET

16/02/2009



Finalmente o pacote de estímulos proposto por Barack Obama para aliviar o sofrimento de boa parte da população norte-americana foi aprovado na sexta-feira e deve ser assinado pelo presidente na terça-feira, já que nesta segunda é feriado nos EUA, quando se comemora o Dia do Presidente. São 787 bilhões de dólares que serão divididos em três segmentos: corte de impostos, que vai beneficiar a maioria da população, investimentos em infraestrura de serviços, como educação e saúde e ajuda aos estados em dificuldade.

O curioso é que nessas idas e vindas nas duas casas legislativas de Washinton, o projeto ganhou dispositivos até mais severos do que a proposta original do governo. Na questão dos bônus, por exemplo, os parlamentares impuseram limites, acabando com a vergonhosa farra dos últimos anos quando os executivos de bancos e financeiras se auto premiavam, mesmo com as empresas já metidas no buraco e dependentes da ajuda do governo, leia-se do contribuinte.

Agora, acabou a farra. De acordo com o texto final do projeto, faltando ainda a assinatura de Obama, esses bônus de fim de ano não poderão ser superiores a um terço do salário anual do funcionário. E tem mais: ele será pago em ações da instituição e só poderão ser trocados por dinheiro quando todo investimento público tiver sido reembolsado ao governo.

Como Obama já tinha determinado que o salário desses altos funcionários não poderão ultrapassar 500 mil dólares anuais, os “banksters” de Wall Street, mistura de banqueiros e gangsters, na feliz definição do John Hemingway, aqui no DR, estão pulando mais que pipoca. Dizem que com essas restrições não haverá mais incentivo na "carreira".

Esse endurecimento com os banqueiros não surgiu do nada. Os escândalos e as falcatruas foram muitos. Lembro aqui apenas o caso de Merrill Lynch, talvez o mais famoso e poderoso banco de investimentos com ramificações no mundo inteiro, inclusive no Brasil. Pois bem, esse banco, já quebrado e sem condições de resgatar os papéis de milhões de desesperados investidores, formalizou secretamente em outubro do ano passado a distribuição de 3,6 bilhões em bonus a seus principais funcionários, quando normalmente essa premiação é decidida em dezembro, com base nos resultados do ano. O Advogado-Geral do Estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, está investigando o que ele chamou de irresponsabilidade dos executivos do banco, pois ele acredita que essa “generosa” ação entre amigos foi antecipada porque já sabiam que o Merrill Lynch seria comprado pelo Bank of America, o maior banco de varejo dos Estados Unidos. Como esses bonus foram pagos em dezembro, Cuomo desconfia que o Bank of America foi cúmplice na roubalheira.

Por essas e outras é que a situação chegou a esse ponto. Muita gente desonesta enriquecendo às custas de investidores, pequenos ou grandes, com dinheiro limpo ou sujo, sem nenhuma fiscalização do governo Bush e anteriores.

Por falar em gente desonesta, o advogado norte-americano David Rosemberg confirmou que pelo menos uns vinte brasileiros procuraram seu escritório em busca de um remédio jurídico para tentar reaver o que perderam no Fundo Madoff, aquele que deu um rombo bilionário na praça (50 bilhões de dólares), no velho esquema da pirâmide. Pagava altos juros aos que estavam no topo da pirâmide com o dinheiro dos novos investidores.

Um paulista quatrocentão bem informado me confidenciou que só na área dos Private Banking dos Jardins seriam mais de 700 as vítimas do Fundo Madoff. Nossos patrícios, segundo ele, teriam algo em torno dos 5 bilhões de dólares investidos na companhia, quase 10% do rombo.

Muitos amargando as perdas silenciosamente, porque não têm como justificar o dinheiro investido no exterior. Nesse caso, Madoff tem cem anos de perdão.

Eliakim Araujo, Direto da Redação.

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