sábado, 7 de março de 2009

AINDA SOBRE A FOLHA E A DITAMOLE

7 DE MARÇO DE 2009

Mino Carta diz que era melhor a Folha usar ditamole



Em artigo, o jornalista Mino Carta diz que a Folha de S.Paulo ofende a consciência ao criar o vocábulo “ditabranda” ao se referir em editorial aos anos de chumbo da ditadura militar brasileira. Para ele, soaria melhor aos ouvidos se o diário paulista usasse ditamole. “Não sei quais foram os argumentos do editorial, que não li a bem do meu fígado”, ironiza.

Carta lembra que a Folha sempre esteve ao lado ditadura, com breve exceção, de 74 a 77, quando, dirigida por Claudio Abramo, “manteve digna independência”, apesar de naquele mesmo período a empresa tenha publicado diariamente o órgão policial chamdo Folha da tarde, “bem como estabeleceu notórias ligações com o DOI-Codi de infame memória, aquele onde foram assasinados Vlado Herzog e Manuel Fiel Filho.”

Segundo ele, o jornalismo brasileiro, desde os começos, serve a este poder nascido na casa-grande, por ter a mesma, exata origem. “A mídia nativa é rosto explícito do poder. As conveniências deste e daquela entrelaçam-se indissoluvelmente porque coincidem à perfeição.”

Argumenta que dos jornalões, só o Estadão foi censurado, mas no caso se tratava de um briga de família. “O jornal da família Mesquita fora entre todos aqueles mais empenhados em solicitar a intervenção militar e já tinha candidato para as eleições que se seguiriam ao fim de uma ditadura de prazo marcado para terminar a limpeza da casa: Carlos Lacerda, o governador de metralhadora em punho.”

Ele diz que há muitos anos, um ilustre jornalista usou de sua suavidade ao falar da ditadura nativa. Comparou-a com as outras do Cone Sul e decidiu ter sido bem menos feroz por ter matado um número menor desafetos. À época, não houve reações. Talvez o profissional em questão tenha menos leitores do que imagina e do que imagina que lhe dá guarida.

“Que lições tirar do confronto? Na Argentina, um quinto da população brasileira, morreram 30 mil pelas mãos dos ditadores. No Chile, atualmente 16 milhões de habitantes, morreram cerca de 10 mil. No Uruguai, que não chega a 4 milhões de habitantes, 3 mil. No Brasil, algo mais que 400. Como disse o juiz de um filme sobre o processo de algozes nazistas, o assassínio de um único cidadão por agentes do Estado já configura ofensa imperdoável à humanidade.”

“Ao cabo, pergunto aos meus perplexos botões: qual é a diferença entre ditabranda e democracia sem povo?”, conclui.
Veermelho Org.

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