sexta-feira, 13 de março de 2009

NITROGLICERINA PURA.YEDA AGORA CAI


13/03/2009
Ex-ouvidor entrega à OAB suposto grampo com assessor de Yeda

Agência Folha, em Porto Alegre

Demitido do cargo de ouvidor da Secretaria da Segurança Pública do Rio Grande do Sul, o advogado Adão Paiani entregou à OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) um dossiê e um CD com supostas escutas ilegais feitas, segundo ele, por um aparato clandestino de espionagem que funciona no governo gaúcho e abriu mais uma crise em que assessores diretos da governadora Yeda Crusius (PSDB) aparecem sob suspeita.

Sem revelar detalhes do dossiê nem os nomes das pessoas grampeadas ilegalmente, Paiani --que é filiado ao PSD-- disse que "um assessor muito próximo da governadora" aparece nas ligações cometendo tráfico de influência e crime eleitoral.

O CD, de acordo com Paiani, contém as gravações clandestinas de seis telefonemas feitos na reta final da eleição do ano passado, entre o final de setembro e o começo de outubro.

A Folha apurou que o assessor grampeado ilegalmente é o chefe-de-gabinete da governadora, Ricardo Luís Lied.

Os telefonemas grampeados foram trocados por Lied com seu primo, o ex-presidente da Câmara Municipal de Lajeado (120 km de Porto Alegre) Márcio Klaus (PSDB), que foi preso antes da eleição sob acusação de compra de votos.

Numa das conversas em outubro, apurou a Folha, o chefe de gabinete de Yeda discute com o vereador, depois do processo eleitoral, a substituição do delegado regional da Polícia Civil e do comandante da Brigada Militar na cidade --numa suposta retaliação pela prisão. A troca não se concretizou.

"Houve tráfico de influência claro, explícito e muito cristalino", disse Paiani em entrevista ontem à tarde, sem relevar os nomes dos grampeados.

Os grampos foram feitos, segundo Paiani, por policiais que operam o sistema Guardião, o programa da PF onde ficam armazenadas gravações de escutas telefônicas feitas pela Secretaria da Segurança Pública, mas sem autorização judicial.

Paiani disse ter obtido o CD com as gravações de uma fonte cuja identidade ele preserva. Ele disse não saber de quem partiu a ordem nem o motivo para espionar o assessor da governadora, mas sugeriu que pudesse se tratar de alguma tentativa de chantagem.

Paiani declarou que obteve as provas da ação ilegal dos arapongas depois do Carnaval e que não conseguiu ser recebido pela governadora ou pelo secretário da Segurança Pública, Edson Gularte, para formalizar as denúncias. Paiani foi exonerado na última terça-feira.

"São arapongas agindo dentro da máquina. [A demissão] talvez tenha a ver com a possibilidade de que eu viesse a denunciar isso", disse.

Oficialmente, a demissão foi atribuída à decisão do governo de extinguir a Ouvidoria da Segurança Pública, fundindo sua estrutura a uma ouvidoria geral de governo.

"Se os senhores perguntarem em off [jargão jornalístico para informação de fonte que se mantém anônima] para qualquer servidor da Brigada Militar ou da Polícia Civil se esse tipo de coisa [escuta ilegal] acontece, eles vão dizer que sim. A questão é que as pessoas têm medo ou não têm prova. Eu não estou em nenhuma das duas circunstâncias", afirmou.

Paiani disse que sempre teve "relação de lealdade" com o governo, mas que, depois de demitido, decidiu entregar o dossiê à OAB para que fosse investigado. "Pretendia encaminhar ao governo enquanto ouvidor, mas hoje não tenho mais esse compromisso", disse.

Outro lado

O chefe da Casa Civil do governo gaúcho, José Alberto Wenzel, criticou Adão Paiani, ex-ouvidor da Secretaria de Segurança Pública, por não ter entregue ao governo o relatório com as denúncias de um suposto esquema de espionagem.

Wenzel disse que ficou sabendo das denúncias pela imprensa e afirmou que Paiani "pode ter incorrido em infração penal ao extraviar e não entregar ao governo documentos que ele recebeu quando era ouvidor". O chefe da Casa Civil não quis comentar a informação, apurada pela Folha, de que o chefe de gabinete da governadora Yeda Crusius, Ricardo Lied, foi grampeado por arapongas do governo.

O secretário da Segurança Pública, Edson Gularte, não comentou a suposta existência de um aparato clandestino de espionagem por operadores do sistema Guardião. Ele determinou a abertura de inquérito para apurar as denúncias pela Polícia Civil de Porto Alegre.

A reportagem não conseguiu localizar o Lied para perguntar sobre os supostos telefonemas grampeados ilegalmente em que o chefe de gabinete da governadora discute a substituição de chefes da polícia em Lajeado, seu berço político, a pedido de um primo vereador.

Cassado por compra de votos, o ex-vereador de Lajeado Márcio Klaus (PSDB) confirmou que tratou da campanha eleitoral com Lied. Klaus afirma que comentou sobre a suposta atuação "política" do comandante da Brigada Militar local para persegui-lo, mas nega ter pedido que o primo articulasse a transferência dele.

"Houve perseguição [da polícia] contra mim. Comentei isso com o Lied, até porque temos laços de família, mas não pedi para transferir ninguém, até porque acho que ele não teria poder para

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