17/03/2009
Phydia de Athayde
O ano de 2008 foi prodigioso para o turismo brasileiro. Bateu-se novo recorde de entrada de dólares trazidos por estrangeiros, somando 5,8 bilhões. Os primeiros reflexos da crise internacional impulsionaram as viagens domésticas, que passaram a ser mais vantajosas para o brasileiro. Agora, como afirma o ministro do Turismo, Luiz Eduardo Barretto, o Brasil deve se preparar para sentir efeitos mais profundos da debacle mundial. “Se mantivermos o padrão do ano passado, será uma vitória”, avalia. A temporada do verão 2009, destaca o ministro, foi 20% mais lucrativa do que no ano anterior, o que dá uma sobrevida às empresas ligadas ao turismo. Apesar do temor com eventuais perdas, a visão a médio e longo prazo é positiva, especialmente por conta da Copa do Mundo de 2014: “Aí estou otimista”.
CartaCapital: Este verão foi melhor do que o de 2008 para o turismo. O crescimento será mantido?
Phydia de Athayde
O ano de 2008 foi prodigioso para o turismo brasileiro. Bateu-se novo recorde de entrada de dólares trazidos por estrangeiros, somando 5,8 bilhões. Os primeiros reflexos da crise internacional impulsionaram as viagens domésticas, que passaram a ser mais vantajosas para o brasileiro. Agora, como afirma o ministro do Turismo, Luiz Eduardo Barretto, o Brasil deve se preparar para sentir efeitos mais profundos da debacle mundial. “Se mantivermos o padrão do ano passado, será uma vitória”, avalia. A temporada do verão 2009, destaca o ministro, foi 20% mais lucrativa do que no ano anterior, o que dá uma sobrevida às empresas ligadas ao turismo. Apesar do temor com eventuais perdas, a visão a médio e longo prazo é positiva, especialmente por conta da Copa do Mundo de 2014: “Aí estou otimista”.
CartaCapital: Este verão foi melhor do que o de 2008 para o turismo. O crescimento será mantido?
Luiz Eduardo Barretto: Batemos recordes de entrada de divisas em 2008, com 5,8 bilhões de dólares trazidos por turistas, e isso consolidou o turismo na quinta posição dos setores que mais trazem divisas, atrás apenas da carne de frango, soja, petróleo bruto e minério de ferro. Neste verão, o crescimento de quase 20% em relação ao ano passado é um reflexo da crise. A desvalorização do real ante o dólar tornou o produto Brasil mais competitivo lá fora. Tivemos um acréscimo de 10% de argentinos na costa brasileira no verão. Para o brasileiro, a crise teve o efeito de inibir a viagem ao exterior. Ficou mais caro ir para a Europa e para os Estados Unidos. Isso foi positivo para o turismo doméstico. A hora agora é de apostar no mercado interno e no mercado sul-americano. A América Latina viveu os primeiros impactos da crise, mas outros impactos estão chegando. Alcançarão a Argentina e o Chile, portanto, tenho de trabalhar com a incerteza.
CC: O objetivo é manter a entrada de dólares semelhante à do ano passado?
LEB: Para nós, manter o padrão de 2008 será uma grande vitória. O verão deu sobrevivência às empresas ligadas ao turismo, porque elas faturaram relativamente bem. Mas não há como prever a duração da crise, e sabemos que o lazer não é um ingrediente prioritário das despesas. Agora o turismo vai entrar numa fase naturalmente de baixa, mas não vamos ficar parados. Teremos nove grandes feriados que no ano passado caíram no domingo. Para o turismo, isso é uma vantagem. Desde outubro apostamos em campanhas publicitárias para o mercado interno, e elas vão continuar. Em tempo de crise, as viagens de curta e média duração ganham relevância em relação às de longo alcance. Vamos trabalhar nisso.
CC: Onde a crise já bateu?
LEB: Quem lida com as viagens internacionais sentiu. Quem tem todo o negócio concentrado na visita de europeus e norte-americanos sofrerá mais. O número de estrangeiros que visitam o Brasil tem sido crescente, mas eu estaria sendo precipitado se garantisse que esses números vão continuar assim. Somos realistas.
CC: E na perspectiva a longo prazo, com vistas à Copa de 2014 no Brasil?
LEB: Aí estou otimista. Acho que a crise vai passar e que a Copa do Mundo é a maior janela de oportunidades que o turismo brasileiro tem.
CC: Como o senhor olha para os gargalos estruturais que, hoje, impedem o crescimento do turismo? A Copa poderá reverter essa situação?
LEB: Em todas as experiências históricas, e eu visitei a África do Sul, a China, a Inglaterra e a Alemanha, nota-se como a realização de um evento dessa plenitude antecipa e acelera procedimentos que enfrentam gargalos. Na África do Sul, está sendo fundamental. Se não existisse a Copa de 2010, o país não teria avanços em aeroportos, transporte público, estradas. Esse é o grande legado público que uma Copa deixa. Há uma grande mobilização, do setor público e do privado, com o mesmo objetivo. No Brasil, a ministra Dilma e o presidente Lula estão aguardando a definição dessas cidades-sede para investir em mobilidade urbana nas doze regiões metropolitanas escolhidas pela Fifa para os jogos.
CC: Em quais desses investimentos o Ministério do Turismo participará mais intensamente?
LEB: Um dos temas é a qualificação profissional. Temos um grande desafio de treinar e capacitar taxistas, rede hoteleira, restaurantes, para melhorar a habilidade no inglês e na língua espanhola. O Brasil é hospitaleiro, mas precisa de mais qualidade. Outro tema fundamental é a promoção do País no mercado externo. Durante quatro anos o Brasil fará campanhas de divulgação vinculadas à Copa do Mundo, por norma da Fifa. E há a questão da infraestrutura hoteleira, turística, que também deverá ser ampliada e reformada por conta da Copa. Isso é tarefa privada, mas o ministério poderá trazer mecanismos de financiamento e disponibilizar estudos de como outros países resolveram essa questão.
CC: Todas as cidades candidatas prometeram, durante a visita da Fifa, aumentar a capacidade hoteleira. Como isso acontecerá?
LEB: Algumas das cidades que por ventura podem ser escolhidas têm um déficit hoteleiro maior. Mas é preciso pensar também na sustentabilidade do negócio. Não posso impulsionar uma rede hoteleira que não tenha viabilidade econômica após os jogos da Copa. Nas cidades costeiras, por exemplo, podemos transformar navios em um complemento da rede hoteleira. Há experiências internacionais que podem ser aproveitadas aqui. Esta é uma grande oportunidade de, um lado, o governo ofertar financiamentos mais atraentes e, de outro, exigir mais classificação e certificação hoteleira. Contratamos a Fundação Getulio Vargas para diagnosticar e realizar estudos do que fazer para melhorar a qualidade de 65 destinos turísticos, que consideramos os principais destinos indutores do País. No Rio de Janeiro, por exemplo, além da capital, trabalharemos quatro outros locais: Cabo Frio, Paraty, Angra dos Reis e Petrópolis.
CC: A capital carioca faz lembrar a questão da segurança ao turista. O que está sendo preparado nesse sentido?
LEB: Os principais atores do tema segurança pública são os governadores dos estados. Mas o governo federal pode e vai enfrentar essa questão também. Vamos ter de ensinar, em parceria com secretarias estaduais e prefeituras, inglês e espanhol para as guardas municipais. Isso pode acontecer e seria importante treinar um batalhão para o serviço específico durante a Copa do Mundo. Há uma gama de investimentos em qualificação profissional que teremos de fazer. Evidentemente, a Copa é geradora de negócios e todas as empresas que trabalham no nosso país têm a Copa como uma grande oportunidade. No papel do governo federal, um dos temas fundamentais é o da mobilidade urbana. Imagine essas doze regiões metropolitanas, que já têm problemas graves de mobilidade, recebendo um acréscimo enorme de turistas.
CC: Quais os principais desafios, então, daqui para a frente?
LEB: Mobilidade urbana e transporte público são um tema. A integração dos transportes de maneira geral será importante, navios serão importantes na Copa do Mundo, entre outros. O sistema aeroportuário é outro tema central. A qualificação profissional é importantíssima. A promoção, a maneira como o Brasil pode se promover com a Copa, é estratégica. Outro tema importante para o Turismo é a infraestrutura hoteleira. E, para não entrar nos temas esportivos, que caberão à iniciativa privada, à Fifa e à CBF, há ainda a segurança. Mas nenhum dos países que receberam Copa do Mundo estava preparado cinco anos antes. Em todos houve um esforço de planejamento e a mobilização da sociedade. O Brasil tem tradição em eventos. Se pensarmos na grandeza de um carnaval, de um réveillon, são eventos que colocam muita gente na rua e a incidência de violência é relativamente pequena. Somos um país acostumado a fazer festas populares.
CartaCapital.
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