16/03/2009
Celso Marcondes
Não sei como reagiu o leitor de CartaCapital, mas confesso que senti um pingo de emoção quando vi na tevê na noite de sábado, os dois, lado a lado, em plena Casa Branca. Sou meio apegado aos simbolismos. Aquela estória de dois presidentes com origem humilde, eleitos com forte apoio popular, me pegou. Fiquei atento aos gestos, sorrisos, às gentilezas e piadas, aos tapinhas nas costas, até o momento final em que, dizem, Obama teria pegado Lula pelos dois ombros e dito antes dele entrar no carro: “I'll see you in London!”. Achei o máximo.
Pareciam velhos amigos e a informalidade característica do brasileiro teria contagiado o americano, tido como formal e metódico. O tempo previsto para o encontro - em pleno sábado, destaca-se -, estourou em muito, sinal da deferência que nosso presidente recebeu. Convidado para vir ao Brasil, Obama não vacilou ao eleger o Rio de Janeiro como seu destino desejável, elogiando nossas praias, lembrando seus bons tempos de Hawaí.
Sobre o conteúdo e os efeitos práticos da conversa, os analistas dos grandes jornais divergem. Na “Folha”, Clovis Rossi disse que tudo tinha cara de dejá vu, pois há seis anos o clima foi o mesmo no encontro de Lula com Bush e as decisões praticamente idênticas: formação de grupos de trabalho para trabalharem (muito) pelas relações entre os dois países. Outros, na tevê, palpitaram dizendo que Obama teria dito a Lula que seus problemas com a crise econômica global eram tantos, que gostaria de ter nele uma espécie de elo com os demais países da América Latina.
No “Valor”, a leitura principal foi a de que os dois acabaram por jogar um balde de água fria nas possibilidades de retomada das negociações da Rodada Doha, pois com o agravamento da crise mundial, as discussões sobre liberalização comercial não estariam fazendo muito sentido agora. Já no “Estado” o destaque foi para o fechamento da agenda conjunta Brasil/EUA a ser trabalhada na próxima reunião do G20, em abril, que seria composta de temas como regulamentação financeira, pacotes de estímulo e paraísos fiscais.
Todos os jornais falaram sobre o impasse em relação ao etanol, tratado na entrevista coletiva, e sobre o drama familiar do garoto Sean Goldman, cujo pai, americano, briga pela sua guarda com o padrasto e a família da mãe, brasileira, depois que esta morreu. Este teria sido um dos assuntos do “particular” entre os dois.
Em suma, quem estava lá deixou claro que o encontro foi cheio de temas e de afabilidades. Como não sou jornalista econômico e CartaCapital não tem correspondente em Washington – nem em nenhuma outra cidade dos Estados Unidos, diga-se – não tenho elementos para avaliar – ou especular - que resultados concretos esta reunião trará para nós e para os americanos. Já o simbólico, eu já disse lá em cima, mexe comigo. Nunca pensei que iria chegar o dia em que veria um encontro destes, muito mais marcante que os de FHC com Bill Clinton ou os de Nixon com nossos ex-generais.
Ficou como marca síntese do momento a frase de Lula, dizendo que Obama está com um “pepino desses” nas mãos. Ao que Obama respondeu “na lata” com um “você dever ter falado com minha mulher” - embora haja dúvidas que o intérprete oficial tenha sido literal na tradução da frase de Lula (ou Michelle teria falado, antes de apagar a luz do abajur, de um “cucumber in your hands”, ao falar dos problemas que o maridão tem pela frente?).
Mas, confesso, eu não estou tão seguro de que Lula também não tenha o tal vegetal nas mãos. Pode ser menor, daqueles japoneses, mas que é cucumber, não há dúvidas. A crise também chegou aqui, na reta final dos seus oito anos de governo. Já Obama, tem um mandato inteiro para tirar os Estados Unidos do atoleiro. Se vai conseguir fazer isso, ninguém sabe. Só se sabe que sua torcida é enorme, talvez a maior da história da humanidade. Torcida que Lula teve no Brasil e que não conseguirá contentar, senão bem parcialmente, quando se despedir daqui um ano e nove meses.
Nestes tempos, a única certeza, como diria Mino Carta, é a de que a era Lula caminha para o fim e de que seu sucessor não será um líder popular. Como Lula e Obama. E isso não significa pouca coisa.
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