quinta-feira, 12 de março de 2009

VEJA O QUE ACONTECE



Por Geraldo Elísio

“O pior cego é aquele que não quer ver” – Ditado popular.

O povo brasileiro, cansado de ler, ouvir e ver nas mídias impressas e eletrônicas, tantos crimes do colarinho branco, já está cansado também de ver tudo terminar em pizza.

As classes alta e média são as que mais vociferam contra os crimes praticados. Entretanto, quando se esta próximo de levar à prisão algum bandido, são também elas que se deixam levar por sentimentos piegas. Os primeiros por puro interesse e os segundos por total ignorância e manipulação da mídia.

O País inteiro ficou horrorizado com o “Mensalão”, com o “Mensalão Mineiro”, com o que foi apurado nas diversas operações desenvolvidas pela Polícia Federal. Todos querem os corruptos na cadeia, mas logo entram em cena os “Bombeiros do Mal” para apagar o “Fogo do Inferno Astral” de quantos sejam culpados.

O jogo está ficando claro. Da forma como está sendo conduzido o espetáculo o banqueiro Daniel Dantas e o empresário Marcos Valério tem tudo para se livrar dos processos que os atormentam. E haverá até quem possa pedir a canonização dos mesmos, logicamente gente beneficiada pelos esquemas montados por eles.

O povo brasileiro deve estar atento às seguintes facetas da “Operação Anjinho”.

Primeiro: a revista “Veja”, com um tonitruante título de capa exibe uma reportagem pífia, mostrando só um lado da questão: a “culpa” do delegado Protógenes Queiroz, ao mesmo tempo em que omite o que era investigado de quem foi citado, como se algum deslize tivesse a força de absolver os crimes cometidos.

Segundo: em seguida surge a imagem do “coitadinho” do Marcos Valério, vilipendiado por outros prisioneiros do Presídio de Tremembé, no interior de São Paulo, e freqüentador de divãs, tendo de recorrer ao PCC para sair de lá com vida. Que País?

Um prisioneiro está sob a guarda do Estado, mas não recorre às autoridades constituídas para se proteger. Recorre ao advogado do PCC, uma organização criminosa organizada.

Terceiro: tantos os advogados de Daniel Dantas quanto os de Marcos Valério poderão avocar irregularidades cometidas durante o desenrolar do processo e tentar abrir o caminho para que eles voltem a ser fregueses assíduos de lugares elegantes, cumprimentados por alguns de seus pares como homens bem sucedidos.

Quarto: a Câmara dos Deputados, ela se alvoroça com mais uma CPI onde Protógens e Paulo Lacerda, os dragões da maldade enfrentarão os santos guerreiros. Diga-se de passagem, “santinhos do pau oco”, expressão criada em Minas Gerais ao tempo do Brasil Colônia, quando, para contrabandear ouro e diamantes, algumas imagens eram vazadas até se produzir um nicho onde a “muamba” era escondida.

Não será surpresa se pela primeira vez uma CPI não terminar em pizza. Afinal, ao desmoralizado Congresso Nacional interessa uma ação que possibilite a não divulgação de tantas falcatruas noticiadas pela imprensa. Admiro e reconheço a limpeza das mãos dos senadores Pedro Simom e Jarbas Vasconcelos. Mas eles, a partir do momento em que denunciaram “venda por dois mil reis” e corrupção, têm o dever legam de apontar quem. Pairam duvidas no ar.

Óbvio, esta observação serve aos mais apressadinhos: não defendo um Estado policialesco.

Mas um Congresso com tantos membros investigados pela Justiça; onde se torna possível a um Renan Calheiros namorar uma jornalista com o dinheiro dos contribuintes – nada tenho com a vida particular do senador – mas o próprio namorar com o dinheiro resultante de impostos pagos é outra coisa; um Congresso contagiado pelo “vírus da amizade” em forma de falso espírito de corpo como disse o deputado Edmar Moreira, o “Cinderelo Mineiro”, dele pouco pode se esperar a não ser a votação de salários e aposentadorias baixas para o trabalhador e régias remunerações e aposentadorias para eles e outros, em flagrante legislação em causa própria. Que desrespeita a Constituição que preconiza, que “Todo poder emana do povo e em seu nome será exercido” e que todos nós somos iguais perante a Lei. Iguais onde “cara-pálida?”

Aliás, por falar em escuta, em Minas, “O coronel Praxedes e seus Arapongas Amestrados”, sem nada a ver com “João Penca e seus Miquinhos Amestrados”, este sim nascido sob as lonas do histórico Circo Voador, junto com o Ministério Público de Minas, com muita desenvoltura exercitam esta prática. Inclusive o NovoJornal foi “empastelado”, pois a arapongagem desejava saber, na verdade, quem são as nossas fontes de informação, esquecendo-se de que o preceito do sigilo, neste caso, é uma garantia constitucional. Para dissimular fomos acusados de crimes cibernéticos que jamais cometemos, gerando uma onda de repúdio nacional de todos os órgãos de imprensa.

Também em Minas está em cheque a honorabilidade do Tribunal de Contas do Estado, que tem o dever de fiscalizar a Assembléia, que deve fiscalizar o Tribunal a quem ainda cabe fiscalizar o TJ e o Ministério Público, com poderes e deveres para fiscalizar a todos, inclusive o Executivo, onde se afirma, são altíssimos os gatos com a publicidade, elevando-se a cifras impressionantes. Mas ninguém parece disposto a exercer seus deveres constitucionais.

Tem deputado que considera o assunto muito explosivo para ser comentado. Está ocupando o lugar errado e nunca deveria ter sido eleito. O líder da bancada do governo, deputado Domingos Sávio tergiversa, diz que devem ser cobradas explicações quanto ao presente, insinuando que se ocorreu no passado deve ser esquecido. Em Direito sempre existem prazos de prescrição, mas, os velhos romanos não se esqueceram de algumas exceções.

Seria ótimo uma rodada geral de fiscalização com todos os resultados sendo exibidos ao público. Principalmente neste grave momento de crise, onde as finanças desabam, a inflação aumenta, e daqui a pouco o número de desempregados terá de ser contabilizado pelos computadores da NASA, por se tratar de coisa astronômica, e a luz no final do túnel é um trem vindo em sentido contrário.

O jornalista Carlos Chagas, em artigo publicado em “A Tribuna da Imprensa”, fez uma análise bastante elucidativa da constância de assaltos que estão ocorrendo em unidades das Forças Armadas brasileiras, não com sentido subversivo, mas por gente sem opção de emprego e que, em desespero, vê no crime a única forma de sobreviver. Isto prenuncia rebelião espontânea, a de mais difícil controle.

É melhor ceder os anéis do que perder os dedos.

A democracia, o povo, a moral, a ética e a transparência ficarão eternamente gratos.

Este espaço é permanentemente aberto ao democrático direito de resposta.
Fonte:Novo Jornal
Colaboração da amiga Nancy Lima.

Nenhum comentário: