quinta-feira, 9 de abril de 2009

De volta às ruas


O 30 de março marcou uma retomada da ação unificada dos movimentos sociais brasileiros em torno de suas reivindicações frente à crise econômico-financeira, no marco da Semana de Mobilização e de Lutas contra o Capitalismo e a Guerra, aprovada pela Assembléia dos Movimentos Sociais realizada durante o Fórum Social Mundial, em Belém, no último janeiro.

Fundamentais foram essas manifestações por três fatores fundamentais. Em primeiro lugar, marca um posicionamento ofensivo das centrais sindicais e movimentos sociais diante da crise, um contexto de incertezas e ataques às classes trabalhadoras e populares que muitas vezes provoca reações defensivas, recuadas, destes mesmos agentes sociais. Unificar lutas, dar a elas dimensão nacional e internacional, com certeza impede que governos e classes empresariais sejam os atores fundamentais do debate sobre as alternativas para a crise e orienta a resistência e a luta por direitos neste momento histórico.

Outro fator positivo nestas manifestações foi o alto grau de unidade em torno de uma plataforma comum e o amplo leque político das entidades organizadoras. Um esforço importante foi feito pela Coordenação dos Movimentos Sociais (CMS) e pela Assembléia Popular para lograr a unidade, não só das organizações por elas representadas, com maior homogeneidade e relacionamento, mas também de outras centrais sindicais e movimentos sociais que se articulam em outras redes e composições.

Por fim, cumpre destacar ainda que o entendimento sobre os atos do dia 30 abrem caminho para outras jornadas de luta unitárias, visto que os desdobramentos da crise na atual conjuntura imporão uma mobilização permanente e uma agenda comum em constante atualização. O 1.º de Maio, Dia Internacional de Luta dos Trabalhadores e Trabalhadoras com certeza será um marco deste processo, embora a tradição de comemorações em separado esteja tão consolidada que não será revertida a tempo de unificação neste ano.

No entanto, com certeza, o fortalecimento da Coordenação dos Movimentos Sociais nesta conjuntura é fundamental e será um fórum determinante para a construção unitária destas oportunidades de luta.

O Diretório Nacional do PT aprovou proposta, que integrava o plano de trabalho da nossa Secretaria, de realizar o 2.º Colóquio PT x Movimentos Sociais com o caráter de auxiliar na construção de uma agenda comum que Partido, Movimentos Sociais e Governo possam compartilhar para os dezoito meses finais que se abrem em junho para o governo Lula. É fundamental que o governo Lula não se encerre sem que questões essenciais e simbólicas para os movimentos sociais sejam institucionalizadas na forma de legislações aprovadas e/ou regulamentadas, de políticas públicas consolidadas e de espaços de participação popular assegurados.

Não se coloca aí em cheque a autonomia desses três entes. Na verdade, as agendas próprias continuarão, ninguém deve arriar bandeiras ou abrir mão de posicionamentos polêmicos. Mas autonomia não significa incapacidade de construir convergências e de direcionar esforços para o fortalecimento de uma agenda que, em última análise, não avança em decorrência da oposição conservadora no Congresso, no Judiciário e na sociedade civil a medidas de conteúdo popular e antineoliberal.

Aí o valor dessas mobilizações e lutas, pois uma agenda comum não se constrói a seco nem na imobilidade, mas no calor das ruas que – de forma promissora – voltam a ser ocupadas como o terreno próprio dos movimentos sociais e das lutas populares e dos trabalhadores e das trabalhadoras.


Renato Simões é Secretário Nacional de Movimentos Populares e Políticas Setoriais do PT.

Nenhum comentário: