Impressiona-me a indignação do jornalista Ricardo Noblat com o estadista Lula. Lula está certo: os jornalistas do imprensalão, os políticos metidos a honestos, tais como Raul Jungmann, são hipócritas mesmo. A mesma hipocrisia foi vista na época do caixa dois do PT, que o PIG chama de Mensalão.Todos sabiam que sempre existiu caixa dois no Brasil, mas foi só o PT participar da festa que por pouco a República não caiu.Reli, recentemente, o livro A Mentira das Urnas, Crônicas Sobre Dinheiro & Fraudes Nas Eleições, do jornalista Maurício Dias. O que o PT fez foi fichinha em se comparando com as grandes "caixinhas" eleitorais formadas no Brasil, tais como a caixinha do Ademar, o Clube do Bilhão de Tancredo Neves, a caixinha do IBAD, com grana proveniente dos EUA, as famosas planilhas eletrônicas de Bresser Pereira, as arrecadações suspeitas de Ricardo Sérgio para a campanha de José Serra, no ano de 2002. Ora, será que o Noblat, Reinaldo Azevedo, Fernando Rodrigues, Josias de Sousa, Clovis Rossi, Eliane Tucanede, Élio Gaspari, Jorge Serrão, e tantos outros agentes do PIG, não sabiam disso? Nesta história das passagens, todos sabiam que sempre existiu essa sangria dos cofres públicos.Não obstante, ficaram todos calados. Então, por que só agora ficam indignados? Provavelmente o PIG quer colocar nas costas de Lula as mazelas do Congresso Nacional. Apenas isso justifica a indignação do imprensalão.
A cara do cara
Autor(es): Ricardo Noblat
O Globo - 04/05/2009
"Se o mal do Brasil fosse esse, o Brasil não teria mal" ( Lula, a propósito da farra de passagens aéreas no Congresso)
“Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”, debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso . Tolice. O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.
Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado? Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles. O poder cobra um preço alto aos que o exercem. Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.
Depois de o Senado e a Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices. A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu. A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?
O crime é o seguinte, presidente: no Direito privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite. E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus estados — com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro. Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos. Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?
Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo. A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido. Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias. Coitadinhos... Morro de pena deles. Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando — mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava. Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade — ou mais — dos brasileiros está ligada nela.
Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos. Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pôs os pobres em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição. Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores. Exemplos? Poupem-me. Eles existem a mancheias.
Sem pressa alguma - Vinculada ao presidente da República, a Comissão de Ética Pública tem como missão “zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar assim o respeito no serviço público”. Seus sete membros se reúnem mensalmente e produzem uma ata. Sete, não. Em junho de 2007 só eram cinco. Do ano passado para cá, quatro — sendo que um deles, com a saúde frágil, é consultado por telefone. As atas de 2009 permanecem inéditas até aqui. Cabe ao presidente da República indicar os membros da comissão. Lula não tem a menor pressa para preencher as vagas abertas.
A cara do cara
Autor(es): Ricardo Noblat
O Globo - 04/05/2009
"Se o mal do Brasil fosse esse, o Brasil não teria mal" ( Lula, a propósito da farra de passagens aéreas no Congresso)
“Ainda vou criar o Dia da Hipocrisia”, debochou Lula do auê em torno do uso ilegal por parlamentares de passagens aéreas pagas pelo Congresso . Tolice. O “Dia da Hipocrisia” é todo dia. E Lula, que chegou ao poder apontando o Congresso como reduto de 300 picaretas, é forte candidato a sair de lá como um caro símbolo da hipocrisia nacional.
Fernando Henrique Cardoso não sugeriu certa vez que esquecessem parte do que escrevera no passado? Pois bem: ou Lula retira sua famosa crítica aos picaretas do Congresso que “só pensam nos seus próprios interesses” ou escuta calado que ficou com a cara deles. O poder cobra um preço alto aos que o exercem. Para governar, Lula escolheu se aliar aos picaretas do Congresso, satisfazer seus desejos e até a sair em sua defesa. Foi o que fez novamente na semana passada sem trair o menor sinal de vergonha.
Depois de o Senado e a Câmara dos Deputados reconhecerem que a esbórnia por lá estava demais, e de anunciarem algumas providências para contê-la, surgiu Lula a destilar um monte de sandices. A primeira, por esperteza, a seu favor: “Não acho um crime um deputado dar uma passagem para um dirigente sindical ir a Brasília”. Ele já deu. A segunda em favor dos seus sócios: “Graças a Deus, nunca levei nenhum filho meu para a Europa. Mas um deputado levar a mulher para Brasília, qual é o crime”?
O crime é o seguinte, presidente: no Direito privado, tudo o que a lei não proíbe pode ser feito. No Direito público, só pode ser feito o que a lei expressamente permite. E a lei não permite o uso por particulares de passagens aéreas fornecidas pelo Congresso a senadores e deputados para viagens regulares entre Brasília e seus estados — com uma passadinha no Rio de Janeiro, é claro, que ninguém é de ferro. Quem paga as passagens somos nós, pagadores de impostos. Entendeu, presidente? Ou quer que desenhe?
Pouco importa que o desrespeito à lei fosse antigo. A antiguidade não desidrata o desrespeito nem absolve o crime cometido. Senadores e deputados se dizem perplexos com a reação da sociedade às suas velhacarias. Coitadinhos... Morro de pena deles. Não se deram conta a tempo de que a sociedade está mudando — mais devagar do que seria desejável, mas está. E que agora presta atenção ao que antes desprezava. Levem a internet a sério, seus estúpidos. Metade — ou mais — dos brasileiros está ligada nela.
Lula assegurou seu lugar na História por uma série de bons motivos. Evitou inovar em matéria de política econômica. O país cresceu. Pôs os pobres em definitivo na agenda nacional. E se conformou com os dois mandatos consecutivos previstos na Constituição. Mas é fato que também passará à História por ter sido um presidente tolerante, relapso e até mesmo cúmplice em episódios que só serviram para aviltar a política e seus principais atores. Exemplos? Poupem-me. Eles existem a mancheias.
Sem pressa alguma - Vinculada ao presidente da República, a Comissão de Ética Pública tem como missão “zelar pelo cumprimento do Código de Conduta da Alta Administração Federal, orientar as autoridades para que se conduzam de acordo com suas normas e inspirar assim o respeito no serviço público”. Seus sete membros se reúnem mensalmente e produzem uma ata. Sete, não. Em junho de 2007 só eram cinco. Do ano passado para cá, quatro — sendo que um deles, com a saúde frágil, é consultado por telefone. As atas de 2009 permanecem inéditas até aqui. Cabe ao presidente da República indicar os membros da comissão. Lula não tem a menor pressa para preencher as vagas abertas.
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