terça-feira, 26 de maio de 2009

BOAS NOTÍCIAS PARA APOSENTADO E CONSUMIDOR

Otimismo chega a conta-gotas

Autor(es): Luciana Navarro
Correio Braziliense - 26/05/2009


•Bancos, como o Bradesco, reduzem juros dos empréstimos e ampliam crédito. Confiança do consumidor volta a subir

•Aposentados vão à Câmara pressionar e obtêm promessa de votação do veto presidencial a reajuste nos benefícios e pensões

•Superior Tribunal de Justiça decide que planos de saúde não podem limitar o valor dos tratamentos e internações dos clientes


Pela primeira vez em seis meses, o índice que mede a confiança do consumidor passou dos 100 pontos, segundo a FGV. Apesar de estar confiante na economia, brasileiro ainda tem receio de gastar.

Os brasileiros estão mais otimistas. O Índice de Confiança do Consumidor (ICC), calculado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), atingiu 100,5 pontos neste mês, primeiro a ultrapassar a barreira dos 100 pontos desde novembro do ano passado. Apesar de ainda estar longe dos 110,2 atingidos em setembro de 2008, quando a crise estourou, esse é o terceiro mês consecutivo de aumento do índice, o que corrobora a tendência de ampliação da crença da população na economia. Em relação ao mês anterior, o indicador subiu 1,3%. Entre março e abril, o salto foi de 2,9%.

Nos últimos três meses, o consumidor ampliou seu otimismo em relação à economia, mas a opinião ainda está aquém dos 106,7 pontos da média histórica do índice. Essa euforia moderada se deve ao Índice da Situação

Atual (ISA) que, apesar de ter crescido 1,1% e alcançado 98,5 pontos, está muito longe dos 115,9 de setembro do ano passado. A avaliação da situação econômica local melhorou. A parcela dos que a consideram boa passou de 7,3% para 7,8% e a quantidade dos que a classificam como ruim caiu de 52,1% para 49,2%.

Segundo Viviane Bitencourt, coordenadora da Sondagem de Expectativas do Consumidor da FGV, o resultado é uma consequência da avaliação dos consumidores sobre a situação financeira da família, que não contou com o mesmo otimismo. “A situação econômica está sendo percebida como melhor, mas essa sensação ainda não chegou ao bolso das pessoas”, afirma. “Essa confiança demora a ser refletida no bolso”, acrescenta. Na avaliação sobre a situação financeira da família no futuro, o indicador caiu 1,5% em relação a abril e despencou 8,4% frente a maio de 2008.

Além do ISA e do ICC, a sondagem feita pela FGV calcula o Índice de Expectativas (IE), que leva em consideração a avaliação dos entrevistados em 2 mil domicílios sobre o futuro da economia. Esse indicador atingiu 102,3 pontos. Para Viviane, a melhora da percepção do consumidor sobre a economia pode ser atribuída à desaceleração dos preços, à queda dos juros e à redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). “A entrada de investidores estrangeiros também ajudou a melhorar a imagem da economia porque os brasileiros perceberam que a situação está melhor que em outros países”, analisa Viviane.

Dólar

O bom desempenho do mercado de ações também influenciou na avaliação mais otimista dos consumidores. O Índice Bovespa, principal indicador do desempenho médio das ações na bolsa, saltou 34,6% apenas neste ano. Carlos Thadeu de Freitas, economista chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC), atribui o aumento da confiança também à queda do dólar. A moeda americana fechou ontem a R$ 2,026. “A massa real de salários tem crescido porque os preços estão menores e a queda do dólar teve forte influência nisso”, acrescenta.

Para ele, a confiança do consumidor está relacionada ao desejo de compra de bens duráveis, o que é favorecido graças à ampliação da concessão do crédito para a pessoa física. De acordo com o Banco Central, de janeiro a março, o crédito para consumidores subiu 20,9%. O economista acredita que a redução da taxa básica de juros, de 12,75% para 10,25%, ajudou a melhorar o ânimo dos brasileiros.

O empresário Felipe Siciliano, 28 anos, acredita que a redução da carga tributária foi fundamental para baixar os preços. Ele revela que, no começo da crise, teve um pouco de receio de gastar, mas atualmente se considera um consumidor confiante. Ontem ele foi às compras aproveitar uma promoção de um forno de micro-ondas, mas as despesas não devem parar por aí. “Estou pensando em comprar um carro”, revela.

Cautela

Para Freitas, os resultados apresentados pelo ICC não demonstram uma recuperação da confiança do consumidor. “A crise ainda não saiu do mapa, há o problema do desemprego que ainda é uma dúvida”, diz. Para o casal Antônio e Marina Cardoso, a economia está melhorando aos poucos, mas ainda não é hora de mexer na carteira. Os dois querem uma nova máquina de lavar roupas, mas não acham que este é o momento certo de comprar. “O desemprego só aumenta, precisamos ver como vai ficar essa questão para então comprar”, pondera Antônio, 34 anos, trabalhador autônomo. “Por enquanto, é só pesquisa de preços”, garante sua esposa Marina, 32, dona de casa.

De fato o nível de desemprego é uma grande incógnita. “O Brasil dá sinais de que a crise está passando”, afirma. No entanto, Freitas vê um perigo além do desemprego: o spread bancário, ou seja, a diferença entre os juros pagos pelos bancos e os cobrados por eles nos empréstimos concedidos. “O desafio agora é reduzir o spread”, defende.

Essa confiança demora a ser refletida no bolso

Risco de calote

A confiança do consumidor está em alta, mas, como publicou o Correio no domingo, especialistas apontam que a inadimplência pode chegar a 9% devido à desaceleração da economia e ao alto grau de endividamento. A situação desse indicador, que subiu 10,8% de janeiro a abril, depende claramente do desempenho do emprego. “A crise pegou o consumidor com um nível natural de endividamento, mas vai depender de como fica o mercado de trabalho”, pondera Carlos Thadeu de Freitas, economista chefe da Confederação Nacional do Comércio (CNC).

Para Viviane Bitencourt, a melhora da situação financeira depende do mercado de trabalho. Só isso vai dizer se as pessoas terão condições de pagar as parcelas assumidas. Em março, a inadimplência da pessoa física estava em 8,31%. A boa notícia é que ela pode estar perto do topo e, a partir daí, caminhar para uma redução. De acordo com a Serasa Experian, o risco de inadimplência ficou menor. O Índice de Qualidade do Crédito (IQC) fechou em 79 pontos neste mês e atingiu o patamar do período pré-crise. Nos três meses anteriores, o indicador era 78,8. Segundo analistas, ainda é cedo para dizer que o índice sinaliza o fim da crise, mas apostam em uma nova queda no próximo mês. (LN)

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