sábado, 16 de maio de 2009

Lula premiado na Unesco: a notícia que não estava lá

15 DE MAIO DE 2009


Disponível em boas locadoras, O Homem que não Estava lá é uma lição de cinema. O excelente filme dos irmãos Coen, rodado em preto e branco, é programa obrigatório para cinéfilos exigentes. Mescla melancolia, absurdo e tragicidade em estilo refinado e contundente. Vale a pena conferir.

Por Gilson Caroni Filho, na Carta Maior

Sem qualquer pretensão ficcional, os grandes jornais do eixo Rio- São Paulo não deram, sequer nas dobras inferiores da capa, uma notícia que, pela relevância, deveria ser objeto de destaque, com direito à análise de colunistas e menção em editoriais: a concessão, pela Unesco, do Prêmio de Fomento da Paz Félix Houphouët-Boigny 2008, ao presidente Lula. Novamente a constatação se impõe: quando a informação deixa de se submeter a outro imperativo que não seja o do aprofundamento democrático, a liberdade desejada se apresenta como sua própria contrafação.

O noticiário sobre o fato se resumiu a pequenas colunas nas páginas internas, praticamente reproduzindo o comunicado do organismo da ONU. A TV Globo ignorou totalmente o fato, evidenciando, mais uma vez, a clara partidarização que define os critérios de noticiabilidade da emissora, e seu caráter de prestadora de serviços a uma oposição que tem no denuncismo vazio sua única forma de ação.

Ora, se levarmos em conta que a narrativa midiática, desde 2003, segue o mesmo diapasão, apresentando o governo como algo pontuado por descompassos entre discursos e práticas, entre retórica e realidade, sem projetos nas áreas de educação, saúde e infra-estrutura, a premiação do presidente deve mesmo ocultada de todas as formas possíveis.

Afinal, mais que uma distinção honorífica a um chefe de Estado, que é definido nas páginas como alguém que “se limita a requentar e rebatizar programas da administração anterior”, os motivos apresentados pelo júri expressam a deslegitimação de um jornalismo que já não convence mais ninguém quanto a sua alegada seriedade e isenção.

Quando o ex-presidente de Portugal, Mário Soares, diz que Lula foi escolhido “por seu trabalho em prol da paz, do diálogo, da democracia, da justiça social e da igualdade de direitos, assim como por sua inestimável contribuição para a erradicação da pobreza e a proteção dos direitos da minoria", os nossos escribas sentem que sua produção diária, mais uma vez, foi estilhaçada.

Sempre que lhes tiram o chão, rasgando os pés de quem anda na contramão da história, os profissionais da imprensa de pequenos favores sabem que não lhes restam saídas: ou baixam o teor de predisposição ideológica com que tratam a figura do presidente ou continuam enquadrando a cobertura com o viés partidarizado, classista, que tem transformado redações nos maiores celeiro de ghost-writes da história republicana.

Produzir textos para terceiros- políticos conservadores, empresários e velhos oligarcas- pode ser rentável, mas traz contratempos. O Prêmio de Fomento da Paz Félix Houphouët-Boigny revela o que acontece quando o baronato midiático joga suas fichas em um projeto que “vai muito além do papel de um jornal”.

A conhecida promiscuidade da grande imprensa com o antigo bloco de poder determina os enquadramentos noticiosos. Foi esse o critério editorial que decidiu que a iniciativa da Unesco deveria ser a "notícia que não estava lá".

A mais nova produção das famílias Marinho, Mesquita e Frias deveria ser rodada em moderníssima tecnologia de impressão, mesclando esquecimento, desinformação e uma aposta clara na cumplicidade do leitor.

E assim foi feito. Sem roteiro razoável, diálogos sutis ou reviravoltas surpreendentes, o jornalismo nativo deu mais um passo para se afirmar como “comédia de erros”, gênero no qual parece operar com mais desenvoltura. Há enormes chances de êxito. A corte costuma pagar bem a seus bobos mais notáveis.



6 comentários:

Anônimo disse...

Se o Brasil, que tem bons motivos para saber quem é de fato Lula, o elegeu presidente, por que o mundo, que mal o conhece, não poderia lhe outorgar o Nobel da Paz? Além disso, não vejo hoje, pelo próprio peso que o Brasil tem como 11ª economia do mundo e pela política econômica "neoliberal" aqui praticada, nenhum político que esteja sendo mais útil à Oligarquia Financeira Internacional do que Lula da Silva.
Fazem bem em premiá-lo. A Banca, daqui e lá de fora, está lucrando com ele "como nunca se lucrou antes nesse país". E vão lucrar muito mais ainda. Por isso mesmo, se o Brizolla, que era macaco velho, ainda fosse vivo, não haveria um só dia em que ele não mandaria um daqueles seus famosos "tijolaços" no Lula! Seria um "prêmio" por dia. Na cabeça.

O TERROR DO NORDESTE disse...

Não entendo mais nada. O cara se diz de esquerda, no entanto, critica o "sindicalismo pelego que está tomando de assalto o país, e o "comunofascismo" façam juz aos ideais da verdadeira esquerda" e contra a revolução Bolivariana. Nesta postagem, faz apologia ao velho Brizola, que, se vivo fosse, estaria apoiando Hugo Chávez na cruzada conta os americanos.Que tipo de esquerda você defende, meu caro?

Anônimo disse...

Digamos, para início de conversa, que a esquerda que defendo encontra-se na contramão da política econômica "neoliberal" e das políticas sociais assistencialistas que o desgoverno Lula herdou dos tucanos e expandiu, ao mesmo tempo em que rasgava as bandeiras históricas do partido. Por outro lado, ela jamais poderia compactuar com mensalões e outras patifarias que transformaram o Partido dos Trabalhadores num partido político que, para se resguardar das graves acusações que pesam contra ele, já não faz outra coisa além de clamar que é igual aos outros e apenas faz o que eles também fazem. Não, não é igual, é pior. Pior, porque foi fundado para ser diferente, ético, mudar a fisionomia da política brasileira e fazer as profundas reformas de que o país necessitava. Mas, infelizmente, só tem frustrado, até o presente momento, todas essas promessas e expectativas. Mesmo desfrutando do poder num período excepcionalmente favorável da economia mundial. Ou seja, não fez as lições de casa, nivelou-se por baixo, e hoje, já sem nenhum pudor, é refém e cúmplice daquilo que existe de pior na política brasileira: o PMDB.

Gilvan disse...

Continuo achando que você é um verdadeiro defensor da direita corrupta, pilantra, mesquinha.Seus argumentos são os mesmos de Solange, Everson Maciel lá do extinto Forum Jovem pan.Iguaizinhos.Usa o PT apenas para justificar o seu ódio por este partido. Esquerda que é de esquerda defende Chavez, Fidel, Morales.Todos estes políticos citados são radicalmente contra o modelo econômico neoliberal.Por falar em neoliberal, Lula, o PT não defendem este tipo de modelo. Para mim, assim como entende o jornalista Greg Palast, neoliberal é aquele que solta os "Três cavaleiros do Apocalipse": venda de estatais, desmantelamento do serviço público, e arrochamento do salário do servidor público. Lula não aderiu a nada disso.Portanto, não pode ser taxado de neoliberal.Mas continue comentando, Talvez um dia você me convenca a acreditar que és de esquerda.

Anônimo disse...

Ora, "Terror", o diagnóstico de que o desgoverno Lula da Silva não passa de ser um triunfo acachapante do "neoliberalismo" no Brasil não é deste modesto escriba e, sim, de respeitados economistas, muitos deles de esquerda. Há quem tenha, inclusive, comparado a sua rendição incondicional a esse modelo perverso ao ocorrido a partir de 1989, na Argentina, quando Menem, depois de ter sido eleito pelo peronismo, rendeu-se gostosamente aos EUA e ao grande capital. Essa discussão, como é sabido de todos, mobilizou intensamente o próprio PT desde o início do atual desgoverno, à medida que foi ficando clara a sua rendição incondicional à política econômica implantada por FHC e Malan, que foi, inclusive, aprofundada, completando no país a agenda de reformas inspirada pelo "neoliberalismo". Era o desgoverno Lula da Silva, sem projeto, a não ser de poder, agarrando-se, desesperadamente, à "herança maldita" legada pelo seu antecessor! É amplamente conhecida de todos a resistência que tal rendição suscitou dentro do partido. Você, pelo visto, devia estar vagando em algum outro planeta enquanto isso acontecia, já que, aparentemente, não ficou sabendo de nada. Era o "Fora Palocci!", logo seguido do "Fora Meirelles!, tanto quanto foram, um dia, o "Fora Malan!" e o "Fora FHC!", lembra-se? Essa resistência só não foi maior, levando a uma cisão de grandes proporções dentro do partido, porque Lula, Zé Dirceu e assemelhados sempre o mantiveram rigorosamente no cabresto, e também porque prevaleceu a ambição desenfreada da ocupação do poder a qualquer custo, pelas óbvias vantagens que isso traria e trouxe à companheirada toda, via aparelhamento do Estado. O diabo havia, enfim, beijado a cruz, e muita gente, você incluso, fingiu que não viu. Os resultados só não foram tão desastrosos quanto os do execrado governo anterior porque o mundo entrou num extraordinário círculo virtuoso de crescimento econômico, que vem acobertando todas as mazelas que o modelo neoliberal certamente ainda acarretará ao país. Contudo, a fatura será paga mais adiante, sem que o crescimento vegetativo do PIB ou redução vegetativa da pobreza por meio de esmolas atiradas a êsmo pelo assistencialismo desgovernamental, para engabelar o povo, o possam evitar. O país se verá, então, diante de algo que poderá ser chamado, verdadeiramente, de "herança maldita".
Quanto ao fato de você "continuar achando que sou um verdadeiro defensor da direita corrupta, pilantra, mesquinha" não é apenas a retomada monótona da sua "melhor" linha de argumentação - a ad hominem - mas, sobretudo, a tentativa de ater-se a algo que muito lhe convém, já que o isenta de repensar a sua própria atuação em defesa de uma "esquerda" - ora, bolas! - que, a exemplo da defendida por Fidel, Chavez, Evo e demais farsantes da mesma estirpe, é tão "corrupta, pilantra e mesquinha" quanto a pior direita que se possa imaginar.
Finalmente, fique tranqüilo, que eu não pretendo convencê-lo de nada. Aliás, já estou praticamente me despedindo do seu blog.

O TERROR DO NORDESTE disse...

Primeiro, permita-me consertar um erro de grafia. Leia-se: Lula não pode ser tachado disso. Segundo, até a sede do FMI, de quem o Brasil hoje é credor, graças à política neoliberal de Lula, sabe que Lula só venceu a eleição de 2002 por conta da Carta ao Povo Brasileiro. Isso é fato.Portanto, ninguém votou em Lula enganado.Você fala que muitos professores de esquerda critica o modelo seguido por Lula. É verdade, mas muita gente de esquerda também defende, ainda que com restrições, o que é perfeitamente normal, afinal, toda unanimidade é burra.A verdade é que Lula, a despeito dos erros, abandonou os EUA como o maior parceiro do Brasil. Hoje os parceiros do Brasil são a Venezuela, a Bolívia, o Uruguai, a Argentinna, Cuba. Se Lula tivesse aderido incondionalmente ao neoliberalismo teria aderido a ALCA.Se Lula tivesse aderido incondicionalmente ao Consenso de Washington teria vendido o BB, a CEF, o resto da PETROBRAS, o BNDES. Se Lula tivesse aderido ao neoliberalismo não teria rearrumado o Estado falido pego de FHC.Ou você acha que nomear servidor público, via concurso, é ser neoliberal?Os tucanos, os DEMOS pensam assim.Tem mais, meu caro, para o Brasil ser do jeito que muita gente de esquerda quer, será inevitável o derramamento de sangue. Ou você acha que esta sociedade mesquinha, conservadora aceitaria um governo do tipo Hugo Cháves?Sei que o governo Lula não é o governo dos meus sonhos, mas que melhorou, melhorou.No mais, faço questão de você continuar comentando neste blog ralé. O entrenchoque de opiniões é salutar para democracia.