segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Brasil da era Lula:Risco-Brasil fica entre os menores


Cristiane Perini Lucchesi
Valor Econômico - 24/08/2009


O Brasil teve destaque entre os emergentes no mercado internacional de crédito no período pós-quebra da Lehman Brothers e se consolidou como o de menor prêmio de risco entre os países mais negociados. O risco-Brasil está 19,6% abaixo do que era um dia antes de estourar a fase mais aguda da crise, em 15 de setembro, na comparação com o aumento de 12,9% na média de 14 países do índice CDX.

"A despeito de todos os problemas e desafios, o Brasil é percebido como mais disciplinado e previsível", diz Octavio de Barros, diretor do Departamento de Economia do Bradesco. "Mesmo o cenário eleitoral do ano que vem, ainda que possa suscitar alguma volatilidade mais adiante, não tira o sono de ninguém, pois o mercado não identifica incentivos a se andar para trás", diz ele. No seu entender, o risco-Brasil tende a seguir uma trajetória de queda, fechando nos níveis de 100 pontos básicos no final deste ano, na comparação com os 124,915 pontos básicos na sexta-feira do prêmio do swap de crédito (CDS) de vencimento em cinco anos da dívida externa brasileira.

"A performance relativa do risco-Brasil foi excelente durante a crise, superando a dos demais emergentes, o que já esperávamos", diz Daniel Tenengauzer, diretor-gerente e chefe de estratégia global para juros e moedas do Bank of America Merrill Lynch. "O que é surpreendente é que o risco-Brasil está agora mais baixo inclusive do que o spread do México", afirma o estrategista.

Enquanto o risco-Brasil está em 124,915 pontos básicos, o spread de crédito do México está em 163,695 pontos básicos, apesar de a dívida externa do governo mexicano ter rating dois degraus acima da dívida do governo brasileiro pela Standard & Poor"s e pela Fitch Ratings e três degraus acima pela Moody"s. De acordo com a Fitch e a S&P, o Brasil tem a nota "BBB" para sua dívida externa, o primeiro degrau do grau de investimento. O México é "BBB+". Já a Moody"s considera o Brasil ainda investimento especulativo e dá a nota "Ba1" para o país, na comparação com a classificação "Baa1" da dívida externa do México. Antes de a crise explodir, no dia 12 de setembro, o prêmio de risco do México era de 134,1 pontos básicos, na comparação com os 155,30 pontos do Brasil. Enquanto o risco-México subiu 22,1% desde então, o risco-Brasil teve queda de 19,6%.

"O Brasil foi um dos primeiros países a sair da recessão e as perspectivas de crescimento para o ano que vem são ainda mais animadoras, dado o ciclo de investimentos nas áreas de petróleo e gás", diz Octavio de Barros, que prevê crescimento de 2,1% no Produto Interno Bruto no segundo trimestre de 2009 na comparação com o primeiro. No terceiro trimestre, haverá estabilidade e no quarto, novo crescimento de 2%, prevê.

Enquanto isso, o México, que tem uma economia mais dependente das importações dos Estados Unidos e menos diversificada, está em situação mais difícil, diz Ernesto Meyer, coordenador de financiamento para aquisições e operações sindicalizadas para a América Latina do BNP Paribas. O governo mexicano acaba de anunciar uma queda de 1,1% no PIB no segundo trimestre na comparação com o primeiro e um tombo de 10,3% na comparação com 2008, o maior em 25 anos.

A Rússia também tem rating melhor do que o Brasil - um degrau pela S&P e pela Fitch Ratings e três degraus pela Moody"s, mas está com risco-país de 272,72 pontos básicos, mais do que o dobro do brasileiro. O PIB da Rússia também continuou em contração no segundo trimestre -tombo de 10,9% na comparação com o trimestre em 2008, o maior da história - e seu risco-país subiu 62,5% desde a quebra da Lehman Brothers.

A queda maior no prêmio de risco-Brasil na comparação com outros emergentes tem ajudado a derrubar ainda mais os spreads pagos "por uma elite de empresas brasileiras", pois grande parte da liquidez antes destinada a outros países da América Latina foi direcionada para o Brasil, diz Meyer. Hoje, entre os latino-americanos, o Chile é o único que tem risco de crédito menor do que o do Brasil pelo CDS, de 81,9 pontos percentuais. Mas, apesar disso, segundo Meyer, as grandes empresas brasileiras já pagam menos do que qualquer empresa da região em empréstimos, inclusive as chilenas. A China tem prêmio de risco de 82,25 pontos, mas tem US$ 2,13 trilhões em reservas, contra US$ 213,956 bilhões do Brasil.

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